Alfredo Villavicencio, da cooperativa Maquita, que junta mais de 250 mil produtores do Equador, explica como se posicionam no exigente e volátil mercado do cacau e por que estão optimistas.
Do trabalho do CIDAC para a sensibilização dos consumidores para o comércio justo faz parte a apresentação de casos concretos. Foi para isso que convidaram a vir a Portugal Alfredo Villavicencio da Maquita Cushunchic Comercializando como Hermanos, cooperativa de comércio justo criada em 1989 e que apoia mais de 250 mil pequenos produtores de cacau no Equador (tem também um braço ligado ao turismo solidário, a Maquita Turismo).
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“Tradicionalmente”, conta Alfredo ao PÚBLICO durante a sua visita, “o agricultor que se dedicava ao cultivo do cacau no Equador não tinha as técnicas desenvolvidas, tinha níveis de produção baixos e era completamente explorado pelos intermediários porque não tinha uma associação para defender os seus interesses”. Hoje, grande parte do trabalho da Maquita é esse: representar um conjunto de produtores que, unidos, têm um muito maior poder negocial. “Assim podemos apresentar uma frente mais forte.”
É através da Maquita que se fazem os contactos com o exterior para a comercialização do cacau. “A nossa primeira exportação foi apenas de 12,5 toneladas”, recorda. “Depois foi melhorando, até porque se começou a articular com o comércio justo e desde meados dos anos 90 que enviamos vários contentores de cacau para a Europa”.
Reconhece que a crise económica na Europa afectou o mercado do comércio justo. Mas acredita que “há um bom nicho e consumidores que sabem que ao comprar uma tablete de chocolate estão a beneficiar um sem-número de circuitos que compõem a cadeia do cacau”.
Desde que a Maquita começou o seu trabalho, já muita coisa mudou, garante. Uma das preocupações tem a ver com a sustentabilidade e o ambiente. “Estamos a criar soluções com bioestimulantes para reduzir os riscos dos produtores de cacau biológico. Maquita tem uma quinta para transferência de inovações tecnológicas onde são testados os produtos que desenvolve no seu laboratório”. Há um apoio técnico aos agricultores que é também muito importante, com os técnicos a ensinar como se faz a pós-colheita, como ter uma planta produtiva a partir dos clones ou como fazer uma organização mais racional da plantação.
O grande número de associados permite-lhes ganhar uma escala que é essencial para várias coisas, nomeadamente para manter a estabilidade dos preços e garantir um preço mínimo mesmo que o mercado flutue muito (se o preço subir, a diferença vai para os sócios e não para a cooperativa; se o preço baixar, é esta que assume a diferença). No mundo do cacau os preços são geralmente muito voláteis devido a alterações climáticas e às pragas que afectam as colheitas, assim como à instabilidade política, sobretudo nos países africanos.
Um dos desafios que estas cooperativas enfrentam é a concorrência das grandes empresas multinacionais, que tentam convencer os agricultores a deixar a cooperativa oferecendo-lhes um preço mais elevado. “Isso é uma ilusão”, avisa Alfredo. “Com essa estratégia, eles podem desmantelar um grupo e depois põem os preços que querem”.
Mas o responsável da Maquita está muito optimista quanto ao futuro do cacau do Equador. Até porque, explica, não sendo um grande produtor em quantidade (os maiores estão em África: Costa do Marfim e Gana, que, juntamente com a Indonésia, correspondem a 68% da produção mundial), o Equador é forte na qualidade. “Cerca de 70% do cacau mundial reconhecido como fino e de aroma provém do Equador.” O país tem condições naturais de clima, solos e luminosidade que dão ao cacau sabor e aroma particularmente valorizados – as suas principais variedades são o cacau Sabor Arriba (ou Nacional) e o trinitário.
E, a pouco e pouco, o país está a tentar ser não apenas um fornecedor da matéria-prima, mas um produtor, e exportador, de chocolate – tradicionalmente, os países do Sul são os produtores da matéria-prima, que exportam em bruto, enquanto o chocolate é feito nos países do Norte, que ficam com grande percentagem dos lucros. De acordo com a Fairtrade International, no mercado convencional os produtores só recebem cerca de 6% do preço do chocolate pago pelos consumidores.
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