Conheça a história do primeiro crítico profissional de chocolate

Você já imaginou ganhar a vida provando – e avaliando – chocolates vindos de todas as partes do mundo? Esse é o trabalho de Clay Gordon, o nova-iorquino que se tornou o primeiro crítico profissional de chocolate. Ele também é autor do livro Discover Chocolate, um guia completo para aprender a comprar e apreciar o chocolate.

“Não entrei no ramo do chocolate por que essa era uma paixão minha, eu me apaixonei pelo chocolate depois que comecei a trabalhar com isso”, revelou Clay à Globo Rural. Ele esteve recentemente no Brasil para participar da 9ª edição do Chocolat Bahia – Festival Internacional do Chocolate e Cacau, em Ilhéus.
O interesse pelo produto surgiu em 1994 durante uma viagem ao Sul da França, quando Clay foi apresentado ao conceito de “chocolate de origem”. A maioria dos chocolates comercializados são misturas de cacau cultivado em vários países diferentes ou não possuem a identificação da origem do fruto. Já um chocolate de origem possui a “nacionalidade” do cacau informada na embalagem do produto.

Clay conta que comprou algumas barras de chocolate durante a viagem na França e, semanas depois, ofereceu os doces para alguns amigos que estavam em sua casa nos Estados Unidos. “Comecei a pensar que cada um dos convidados comeu um chocolate de sabor diferente, que veio de partes diferentes do mundo”, diz Gordon.

Nesse momento, ele percebeu que existiam críticos profissionais para avaliar vinhos, restaurantes e até mesmo filmes, mas não para chocolate. “Então eu apenas decidi que iria me tornar o primeiro crítico profissional de chocolate do mundo”, afirma.

A comunidade do chocolate
Após sete anos estudando o cacau e o chocolate, Clay fundou a comunidade virtual The Chocolate Life. “Em 2001 eu comecei o que provavelmente foi o primeiro site para avaliar e classificar chocolate que poderia ser considerado profissional, no sentido de que eu o via como um trabalho e não um hobbie”, explica.

O site foi batizado inicialmente como Choco File, nascendo com o objetivo de ser um lugar de crowdsource (fonte de informações coletiva) de respostas para perguntas sobre chocolate. Segundo Clay, o nome atual The Chocolate Life teve uma origem peculiar: a inspiração veio da música Living La Vida Loca, do cantor Ricky Martin.

“Essa conexão (com a música) me lembra que embora possamos levar o chocolate a sério, não devemos levar a vida tanto a sério, porque trabalhar com chocolate deve ser algo divertido”, revela. Atualmente, são mais de 10 mil membros localizados em mais de 160 países diferentes registrados na comunidade.

É gratuito participar e qualquer um pode criar uma conta. No entanto, todos os membros são previamente analisados por Clay para garantir que o site fique livre de spam. A ideia do The Chocolate Life é manter fóruns de discussão com temas diferentes relacionados a chocolate. O usuário vai até o fórum que está mais próximo do assunto de sua pergunta e pode enviar uma mensagem lá, sabendo que os outros membros vão ajudar a responder sua dúvida.

Avaliação por preço
Como pioneiro no ramo de crítica de chocolate, Clay conta que teve que criar um sistema próprio para avaliar e classificar os produtos. No entanto, ele não queria usar uma análise que dependesse de números. “Eu queria criar um sistema que dissesse: por este preço, o chocolate tem um bom valor”, explica.

Dessa forma, o método se baseia na conexão emocional com o chocolate e não depende de uma nota numérica. “Quando se usa números, você sabe o que alguém pensa sobre o chocolate mas não como se sente sobre ele. O chocolate, entre diversas comidas, é algo que te ajuda a se conectar com memórias da infância”, diz Clay.

O desafio brasileiro
Em sua primeira visita ao Brasil, o escritor conta que aproveitou a viagem para visitar lojas e fábricas nacionais e aprender mais sobre o cacau brasileiro. “Um dos motivos que me trouxeram ao Brasil foi de entender como se encontra a situação da cultura de cacau no país”, explica.

Segundo o especialista, existem vários fabricantes europeus que usam o fruto original do Brasil. Clay relembra que nos anos 80 o Brasil era o maior produtor de cacau do mundo, até que as lavouras foram atacadas pela doença devastadora conhecida como vassoura-de-bruxa.

No entanto, nunca existiu um hábito de consumir chocolate de alta qualidade no país, pois o fruto era destinado à exportação. Por isso, segundo Clay, é difícil motivar os produtores a cultivarem cacau de alta qualidade. Por outro lado, o escritor vê que esse cenário está mudando lentamente. “É um ciclo: você precisa deixar os consumidores, fabricantes e fazendeiros interessados”, afirma.

De acordo com Clay, definitivamente há uma oportunidade dentro do mercado de chocolate no país. “Algo particular do Brasil é que, diferente de outros países, as fazendas de cacau são muito grandes”, explica.

Em relação ao paladar do brasileiro, o escritor observa o apelo de doces como o famoso brigadeiro. “Consumir um produto que provavelmente não tenha leite na lista de ingredientes e seja mais amargo, ou seja, com foco no cacau, faz parte do desafio cultural”, analisa.
Fonte: Globo Rural

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