Por Luana Maria Benedito
O dólar reduzia seus ganhos depois de subir acentuadamente contra o real mais cedo nesta quinta-feira, com os investidores de olho na recuperação da moeda norte-americana no exterior, na consolidação de uma maioria democrata no Senado dos Estados Unidos e no caminhar da campanha de imunização da população contra o coronavírus no Brasil.
Às 10:27, o dólar avançava 0,44%, a 5,3268 reais na venda, depois de chegar a disparar para 5,3712 reais na máxima do dia, enquanto o dólar futuro de maior liquidez ganhava 0,14%, a 5,329 reais.
Esse comportamento estava em linha com a alta de cerca de 0,5% apresentada pelo índice do dólar contra uma cesta de moedas (Acompanhe aqui: https://www.tradingview.com/symbols/TVC-DXY/) fortes, que se recuperava ante mínimas desde 2018 tocadas recentemente. Pares arriscados do real, como peso mexicano, rand sul-africano e dólar australiano, operavam com perdas acentuadas frente à divisa norte-americana.
O radar dos investidores internacionais era dominado pelas manchetes políticas nesta manhã, depois que os democratas garantiram na quarta-feira a vitória das duas cadeiras do Senado dos Estados Unidos em disputa no segundo turno das eleições na Geórgia, dando ao partido o controle do Congresso e aumentando as perspectivas para a agenda legislativa do presidente eleito, Joe Biden.
Parlamentares norte-americanos certificaram formalmente a vitória de Biden nas eleições presidenciais de novembro ainda na quarta-feira, horas depois de centenas de apoiadores do atual presidente, Donald Trump, invadirem o prédio do Congresso em um ataque à democracia do país.
O tumulto visto em Washington na véspera era citado por alguns analistas como fator que colaborava para a busca pela moeda norte-americana neste pregão, embora outros apontassem apenas movimentos de ajuste diante da fraqueza recente do dólar.
“O gravíssimo problema nada fez na realidade para mudar as expectativas em torno das políticas econômicas no curto prazo. Com isso, o mercado observa a chegada de novas e pesadas rodadas de estímulos nos EUA”, opinou em nova Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora, escreveu que “o fortalecimento político do novo presidente Biden acentua o conjunto de expectativas favoráveis e mutantes para melhor no relacionamento dos Estados Unidos com as demais economias, com postura mais convergente e menos conflituosa, e isto retira tensões sobre o dólar, fragilizando-o como tendência”.
Enquanto isso, o Brasil falhava em fornecer motivos de alívio para sua moeda, com o avanço da Covid-19 preocupando os investidores em meio ao atraso na inoculação da população.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou na quarta-feira que o governo está preparado e estruturado em termos “financeiros, organizacionais e logísticos” para executar o plano de vacinação contra a Covid-19 e garantiu que o país tem condições de começar a imunização ainda neste mês, apesar de o Brasil não ter qualquer vacina aprovada.
O atraso na vacinação ocorre num cenário de persistente desconforto fiscal no Brasil, enquanto os mercados seguem insatisfeitos com o ritmo da agenda de reformas do governo.
“O cenário global enseja perspectivas gradualmente otimistas, há um esforço alinhado neste sentido, mas o Brasil transparece ter ficado fora do ponto da curva da retomada e acaba sendo punido pelos seus próprios descasos com as tratativas acerca da pandemia e das reformas estruturais”, opinou Nehme, citando a apreciação e volatilidade do dólar como um sinal dos riscos no cenário doméstico.
O dólar spot fechou a última sessão em alta de 0,74%, a 5,3035 reais na venda.
O Banco Central fará neste pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em maio e setembro de 2021.
Fonte: Reuters