O açúcar em bruto está em alta há quatro semanas seguidas, com uma valorização de 10%, além de ter tocado a máxima de 5 meses.
Problemas de oferta na Índia e Tailândia podem ampliar a alta do açúcar.
O alvo de longo prazo seria a máxima de 2011, assim como o do cacau.
Algumas commodities alimentícias que não estavam dando um bom retorno aos investidores nos últimos tempos viram uma reversão em suas tendências e agora estão entregando excelentes resultados.
A primeira delas é o cacau, que gerou um retorno de 40% desde o início do ano aos investidores de longo prazo no mercado e de 55% nos últimos 12 meses.
Agora parece ser a vez do açúcar em bruto. Em comparação com o cacau, a alta aqui tem apenas quatro semanas de duração. A valorização dos contratos futuros do açúcar em bruto negociados em Nova York começou em meados de agosto e acumulou cerca de 10% nas últimas quatro semanas após atingir máximas de cinco meses.
O mais significativo do movimento, no entanto, é que se trata da mais longa sequência de alta do produto desde abril.
A oferta limitada sugere que o açúcar, um ingrediente fundamental em numerosas receitas alimentares e um importante biocombustível, pode alcançar as máximas de 12 anos no longo prazo.
Se tal marco for alcançado, equivalerá à performance do cacau, que recentemente atingiu as máximas de 2011.
Da Índia à Tailândia, o açúcar está em alta
Jack Scoville, principal analista de commodities agrícolas do Price Futures Group de Chicago, observou que o mercado está mais influenciado pela possível escassez de exportações de açúcar da Índia do que pela produção estável no Brasil.
Nos últimos cinco anos, a Índia saltou de uma posição marginal como exportadora de açúcar para a segunda maior exportadora global, ficando atrás apenas do Brasil. Durante esse período, o valor de suas exportações aumentou de pouco mais de US$ 810 milhões no ano fiscal de 2017-18 para US$ 4,6 bilhões em 2021-22.
Em uma recente nota emitida pelo Price Futures Group, Scoville detalhou:
“A crise de oferta na Ásia está se agravando, com o clima seco destacando-se como a principal causa. A expectativa é que a estação de monções na Índia termine mais cedo este ano, deixando as plantações de cana-de-açúcar severamente prejudicadas. Grande parte das áreas cultiváveis já está enfrentando a estiagem.”
“Apesar de relatos de aumento da oferta no Brasil, outras regiões ainda não estão respondendo, ao mesmo tempo em que a demanda segue firme. Embora o Brasil esteja registrando condições favoráveis para a colheita, a situação climática no sudeste asiático permanece preocupante, com a Índia e o Paquistão enfrentando condições de seca e irregularidades nas monções.”
Scoville também ressaltou a preocupação cada vez maior com o potencial produtivo da Tailândia, que enfrenta grandes ameaças climáticas, devido ao fenômeno El Niño. Este evento climático, provocado pelo aquecimento das águas do Pacífico, está associado a períodos de seca intensa.
As autoridades locais estão antecipando secas extensas a partir de 2024, e já estão elaborando planos de contingência para enfrentar uma possível escassez prolongada de açúcar e arroz, duas de suas principais commodities.
A previsão é que a precipitação durante a temporada de monções fique 10% abaixo da média, com o início do El Niño possivelmente exacerbando a redução das chuvas nos anos subsequentes.
Diante deste panorama, as autoridades tailandesas estão incentivando os agricultores a limitar o cultivo de arroz a uma única temporada, visando conservar recursos hídricos.
Simultaneamente, os produtores de açúcar antecipam uma queda na produção pela primeira vez em três anos.
Este cenário ameaça intensificar a inflação na região, com preços de vegetais, alimentos frescos e carnes em ascensão, devido à diminuição da oferta e ao encarecimento das rações animais.
Açúcar pode testar máxima de 12 anos
O contrato mais ativo de açúcar em bruto em Nova York com vencimento em outubro atingiu a máxima de cinco meses, marcando 27,10 centavos de dólar por libra na ICE Futures U.S. na última sexta-feira.
Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico do SKCharting.com, disse que a atual tendência de alta tem força suficiente para permitir que o açúcar em bruto alcance novamente o pico registrado em abril, de 27,41 centavos de dólar.
“Uma recuperação bem-sucedida para um nível secundário superior, conforme visto no gráfico semanal, demonstra a resolução do mercado açucareiro em sustentar essa onda de valorização”, explicou Dixit.
Contudo, ele nota que este cenário promissor depende da manutenção do preço do açúcar em bruto acima da média semanal estabelecida pela Banda de Bollinger, fixada em 24,96 centavos de dólar.
“Se os níveis de suporte se mantiverem firmes, podemos presenciar uma nova pernada de alta no açúcar em bruto, possivelmente alcançando o pico de agosto de 2011, de 31,85 centavos de dólar”, acrescentou.
Alcançar essa cifra representaria um feito comparável ao recente desempenho do cacau, cujo valor por tonelada, essencial na produção de doces e bebidas, atingiu uma máxima de 12 anos, registrando US$ 3.691 em 6 de setembro.
Fonte:Investing