Luisa Abram Chocolates e Jambuzera participaram de programa oferecido pelo Mercado Livre para impulsionar negócios de impacto socioambiental e auxiliar nas vendas online dos produtos
Uma vez por ano, o cacau selvagem da floresta amazônica pode ser colhido pelas comunidades ribeirinhas, que levam os frutos maduros para centros de fermentação e secagem. Ali, a polpa seca e as amêndoas saem para a fabricação do chocolate. Essa safra anual — entre dezembro e maio, conforme a localidade — vai contra a lógica da produção nas fazendas de cacau, que dão frutos o ano inteiro. Na floresta, o cacau nasce de forma espontânea, por isso o “selvagem” do nome, e o manejo dos cacaueiros tem impacto direto na preservação do bioma e no crescimento sustentável da região.
“O cacau selvagem é a verdadeira joia da floresta amazônica. O ribeirinho colhe aquilo que dá ao redor do roçado dele, e o cacau dá na margem de basicamente todos os rios da bacia, então é oportunidade de trabalho em muitas comunidades. Além disso, o cacau precisa da sombra de outras árvores para dar frutos, o que estimula as comunidades a manterem a floresta de pé”, explica Andrea Abram, sócia da Luisa Abram Chocolates, cuja matéria-prima são os cacaus selvagens da Amazônia.
A empresa foi fundada em 2014 pela irmã de Andrea, Luisa Abram, e hoje as duas compartilham a gestão do negócio. Andrea e Luisa viajam até a região amazônica para ensinar às comunidades locais os processos de fermentação e secagem dos frutos. As amêndoas são levadas para São Paulo, onde fica a fábrica da marca. Cerca de 600 famílias de produtores são impactadas em diferentes comunidades da região amazônica: Cruzeiro do Sul (Rio Juruá), Boca do Acre (Rio Purus), Sena Madureira (Rio Iaco), Oiapoque (Rio Cassiporé), Mocajuba (Rio Tocantins) e Barcarena (Rio Acará/Arauaia).
“O cacau gera mais renda do que outras culturas porque, diferente do açaí ou da castanha, ele demanda beneficiamento na origem. O cacau bruto que custaria de R$ 8 a R$ 10 passa a custar de R$ 30 a R$ 50. Além disso, é um conhecimento que fica na Amazônia e ajuda a estimular toda essa cadeia responsável. A gente, inclusive, incentiva que outros negócios comprem das comunidades de lá, mas as pessoas ficam inibidas pela dificuldade logística”, observa Andrea.
No ano passado, a marca foi selecionada pelo programa Empreender com Impacto + Biomas do Mercado Livre, iniciativa da companhia para impulsionar negócios de impacto socioambiental. As empresas recebem mentorias individuais da consultoria Giral, mentorias coletivas com especialistas da plataforma, visibilidade na seção de produtos sustentáveis e outros benefícios como acesso aos centros de distribuição do Mercado Livre.
“Temos um desafio que é desenvolver a oferta de produtos sustentáveis na nossa plataforma e buscar empreendedores de impacto. Em 2019, participei de uma imersão na Amazônia e, naquele momento, comercialização e logística surgiram como dois principais gargalos. Criamos uma metodologia para apoiar e capacitar esses negócios em estratégia comercial, como vender online, como vender dentro da nossa plataforma, além de marketing digital”, conta Laura Motta, gerente senior de sustentabilidade do Mercado Livre.
Segundo a empresa, o número de compradores do Mercado Livre que escolheram algum produto de impacto positivo na plataforma cresceu 32% de 2021 para 2022 no Brasil. No mesmo período, também houve um aumento de 400% na quantidade de vendedores que oferecem algum produto de impacto positivo em toda a América Latina.
No ano passado, o programa selecionou 89 empresas — 21 nunca tinham feito vendas online. Em 2022, foram selecionados outros 37 negócios. Segundo Laura, 78% dos negócios que participaram da primeira edição abiram novos canais de venda depois de passar pela capacitação. “A gente entende que o Mercado Livre é uma solução muito potente de ponto de vista da comercialização. Conseguimos aportar mais valor a essas iniciativas se o negócio já está com produto para acessar o mercado”, explica Laura, acrescentando que a empresa pretende levar o projeto para México e Argentina.
Andrea Abram observa que o acesso às soluções de logística foi um dos motivos para entrar no programa. “Como empresa pequena, um dos nossos entraves sempre foi o frete. Nosso tíquete é baixo, mas o frete encarecia muito o valor da compra. Hoje o Mercado Livre é responsável por pouco mais de 10% do nosso faturamento, e acredito que deva crescer mais”, projeta.
“ESG precisa de trabalho de campo”
Criada em 2018, a Jambuzera também participou do programa no ano passado. A empresa vende cachaça de jambu orgânica e certificada. Com apoio da Emater do Pará, encontrou seu fornecedor em uma comunidade de agricultores em Santa Izabel do Pará, que já vendiam a folha do jambu como hortaliça, mas não chegavam a aproveitar a flor — utilizada na produção da cachaça. A Jambuzera compra diretamente de cinco famílias de produtores no município.
“Desde a concepção do produto, sempre achamos fundamental comprar o jambu direto das comunidades produtoras, sem fazer uso de intermediários, porque a gente sabe o quanto isso prejudica as comunidades locais”, observa Fernando Silva, um dos fundadores da empresa. “Hoje, a Jambuzera é uma das líderes de vendas do segmento de cachaças”, acrescenta.
A destilaria fica no Rio Grande do Sul e as vendas são feitas via e-commerce para todo o Brasil. A Jambuzera também já exporta para Portugal e África do Sul e, em breve, para os Estados Unidos. As vendas no Mercado Livre representam 25% do faturamento da empresa. “Entramos no programa no meio da pandemia, quando tínhamos pouco mais de um ano de empresa. Na época, ainda não tínhamos penetração no B2C. Vendíamos praticamente para bares e restaurantes, que estavam fechados havia meses. Foi muito importante para a gente entrar nesse momento”, recorda Fernando.
O empreendedor reforça a importância do desenvolvimetno de negócios ambientalmente justos para a preservação dos biomas. “As empresas precisam ter contato direto com os produtos que fornecem os insumos porque é o que garante o sucesso do produto. Quando você compra de intermediários, não sabe a origem: quem plantou, as condições em que essa pessoa vive, se está sendo explorada. Qualquer empresa que quer estar alinhada aos conceitos de ESG precisa fazer trabalho de campo”, afirma. Fonte: Epoca Negócios