Para os foliões e boa parte dos trabalhadores, 2015 começou ontem. Só não é assim para aqueles que atuam no segmento mais doce da economia, o de chocolate. Faltam ainda quase dois meses para a Páscoa e a indústria já está trabalhando antes mesmo do Carnaval começar.
Este é o caso do publicitário Marco Lessa, que desde outubro vem concentrando esforços para triplicar a sua produção e o seu faturamento. “As pesquisas e o desenvolvimento de produtos começam cedo. Agora, nós estamos na fase dos moldes e das embalagens”, revela ele, que é fundador da marca baiana Chor Chocolate, cujo foco é produtos com alto teor de cacau.
Quem ainda não começou a colocar a mão na massa não tem problema. Consultores garantem que ainda dá tempo de conseguir uma renda extra nesta época do ano.
“Nunca é tarde para começar a empreender. É só ter foco e determinação”, afirma o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) na Bahia Michelangelo Lima. Para ele, a Páscoa tem uma vantagem em relação a outras datas comemorativas do ano, já que o chocolate tem um apelo emocional diferente.
“Nesta época, os consumidores tendem a ficar mais benevolentes. Muitos aproveitam a data para demonstrar carinho, presenteando familiares e amigos com chocolate”, declara.
Outro fator positivo, diz ele, é o apelo das crianças, que costumam ficar hipnotizadas com aquelas imensas parreiras de ovos de Páscoa coloridos. “Não podemos esquecer que elas (as crianças) têm influência cada vez maior sobre os pais na hora da compra”.
Se depender dos números de mercado, não há como não se animar. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) revelam que o consumo per capita de chocolate no Brasil ainda é muito baixo, sendo 2,8 quilos por pessoa em média. No Nordeste, esse número é ainda menor, de 1,27 quilos por pessoa.
“O Brasil tem um enorme potencial a ser explorado. Na Alemanha, por exemplo, cada habitante consome, em média, 14 quilos de chocolate por ano”, pontua o publicitário Marco Lessa.
Diante disso, o empresário, que hoje conta com uma loja da Chor Chocolates na cidade de Ilhéus, já está com um projeto pronto para colocar em prática nas vésperas da Páscoa: vender pela internet para consumidores de todo o país. “Também vamos abrir uma loja em Salvador até junho e, se tudo der certo, vamos começar com o sistema de franquias até o final do ano”.
Alternativa
Lessa, que atualmente conta com um mix de produtos de aproximadamente 25 itens, dá uma dica para quem está começando agora: “As vendas corporativas têm sido uma boa alternativa. Tem muita empresa que gosta de dar brindes a seus clientes e funcionários nesta época do ano. Eles costumam gostar de produtos mais artesanais, desde que tenham qualidade”.
Ele revela que já tem encomendas desse tipo em Salvador, Aracaju, Belo Horizonte, São Paulo, Manaus e Belém do Pará. “Nessa política de diferenciação, acredito que o segredo seja apostar no verdadeiro chocolate, com alto teor de cacau”, aconselha.
E o empresário não está errado. Segundo estudo da Abicab, o segmento Premium vem crescendo a uma taxa de 20% ao ano.
Oportunidade
Apesar do grande volume de vendas estar concentrado nas guloseimas feitas de chocolates, a Páscoa não se resume a apenas ovos, bombons e pirulitos. O consultor do Sebrae Miche langelo Lima diz que há outras oportunidades de negócios a serem exploradas nesta época do ano. “Tem gente que aposta no ramo de embalagens, por exemplo, e dá muito certo", lista.
"Como a Páscoa é uma data religiosa, não devemos menosprezar as velas e as lembrancinhas, como coelhinhos”, completa. Quem não abre mão de investir nos doces, ele chama atenção para o aumento da demanda por produtos dietéticos, de baixa caloria (light) e até sem lactose.
“A criatividade é importante na hora de empreender. Com o acesso mais fácil à internet, dá até para buscar passo a passo de receitas na internet”, orienta. E tem que correr contra o relógio. Segundo o diretor de Chocolate Premium da Abicab, Caio Tomazeli, os produtos típicos começam a chegar nos supermercados e lojas especializadas a partir do próximo dia 18.
Riscos
Além de perfil empreendedor – que, diferentemente do que muita gente pensa não é dom, ou seja, dá sim para ser adquirido -, o consultor do Sebrae chama atenção aos cuidados necessários para amenizar os riscos do negócio dar errado. O primeiro passo, segundo ele, é o planejamento, que evita, entre outras coisas, gastos desnecessários (confira o infográfico).
“Independentemente do tamanho e do capital a ser investido, planejar é sempre preciso. Quanto maior for a antecedência na capitação dos clientes e na compra da matéria-prima, por exemplo, maior será o retorno”, avisa. O Sebrae disponibiliza consultores que prestam orientações gratuitas e cursos que ajudam a montar um negócio. Fonte: Correio