O valor das exportações de grãos de cacau de Gana registrou uma queda acentuada de 26% no segundo trimestre de 2024, caindo de GH₵ 1,57 bilhão em 2023 para GH₵ 1,15 bilhão em 2024, conforme dados recentes do Serviço de Estatística de Gana. Este declínio contínuo marca o quinto trimestre consecutivo de retração nas exportações, indicando uma crise profunda no setor de cacau do país.
A queda no valor de exportação reflete uma série de desafios enfrentados pelo setor. No primeiro trimestre de 2024, o valor das exportações já havia registrado uma diminuição de 24,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2024, a queda foi ainda mais pronunciada, com uma redução de 80%, o equivalente a uma perda de GH₵ 4 bilhões.
Baixa produção e oferta global
A produção de cacau em Gana tem sido fortemente afetada, com o país produzindo apenas 429.323 toneladas métricas até o final de junho de 2024 — menos de 55% da média histórica. Isso configura um dos piores desempenhos em mais de duas décadas. Além disso, a Costa do Marfim, principal concorrente de Gana na produção de cacau, também enfrentou uma temporada de colheita ruim, contribuindo para um déficit global de oferta, que já persiste há quatro anos.
Esse desequilíbrio entre oferta e demanda impulsionou os preços do cacau no mercado global. No entanto, apesar da alta dos preços internacionais, Gana não conseguiu aproveitar essa vantagem devido a um aumento no contrabando de cacau para países vizinhos, especialmente a Costa do Marfim, onde os agricultores podem obter preços mais altos.
Contrabando e atraso nos pagamentos
O contrabando tem sido uma das principais razões para a crise no setor de cacau ganense. Agricultores, frustrados com os baixos preços locais e os atrasos nos pagamentos, têm vendido suas colheitas para redes de contrabando, especialmente para a Costa do Marfim. Estima-se que cerca de 160.000 toneladas métricas de cacau, mais de um terço da produção de Gana na temporada 2023/24, tenham sido perdidas para o contrabando.
Medidas para conter a crise
Em resposta à crise, a Cocobod, agência reguladora do cacau em Gana, aumentou os preços pagos aos produtores em 45% para a temporada 2024/25. O preço passou de GH₵ 2.070 para GH₵ 3.000 por saco de 64 quilos, um aumento significativo destinado a reduzir o contrabando e incentivar os agricultores a venderem suas colheitas no mercado interno. Anteriormente, os preços oferecidos em Gana eram GH₵ 490 mais baixos do que os da Costa do Marfim, principal destino do cacau contrabandeado.
Com o novo ajuste, Gana agora paga GH₵ 440 a mais por saco do que a Costa do Marfim. No entanto, a Costa do Marfim ainda não anunciou seus novos preços para a temporada 2024/25, e especialistas alertam que o impacto real das medidas de Gana dependerá de como os preços regionais irão se alinhar.
Perspectivas
A queda nas exportações de cacau de Gana não é um fenômeno isolado, mas o resultado de uma combinação de fatores, como o contrabando em larga escala, a baixa produção e a dinâmica desfavorável do mercado global. O aumento nos preços ao produtor é visto como um passo positivo, mas a sustentabilidade dessas políticas e a capacidade de Gana de competir com seus vizinhos na região dependerão das decisões futuras sobre preços e estratégias de combate ao contrabando. Com uma produção em declínio e desafios contínuos no setor, a expectativa é de que o governo ganense e as entidades reguladoras continuem a buscar soluções para estabilizar o mercado e proteger o futuro de um dos seus principais produtos de exportação.
Fonte: mercadodocacau com informações Anthony Manu