Cacaueiros em fazenda do Complexo Riachuelo: em busca de valor agregado
Foram precisos três anos de adaptações, investimentos e capacitação de trabalhadores para que a Fazenda Santa Amélia, em Ilhéus, recebesse o primeiro certificado de produção orgânica de cacau do Complexo de Fazendas Riachuelo. Com o novo selo em mãos, fornecido pela Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD), os donos da fazenda planejam agora avançar nos investimentos nas lavouras para expandir a certificação orgânica a outras propriedades.
O plano de Leandro Almeida, da família proprietária do Complexo Riachuelo – que produziu 900 toneladas de cacau neste ano e também é dona da fábrica de chocolates Mendoá -, é dar entrada, no IBD, a pedidos de certificação de duas fazendas já no primeiro trimestre de 2017. Serão inscritas no pedido a Fazenda Duas Barras e a Fazenda Novo Horizonte, ambas em Ilhéus, limítrofes com a propriedade já certificada. “Queremos, daqui três anos, conseguir que essas duas fazendas estejam certificadas”, disse Almeida.
Com a produção certificada atualmente, cerca de 10% do que a família produz de cacau é orgânico – o que significou 100 toneladas em 2016. Os novos selos podem elevar esse volume em 15%.
A iniciativa é um ponto fora da curva no mundo do cacau, conhecido pela baixa tecnificação que ainda reina na maior parte das plantações e poucos investimentos, o que mantém a maioria dos agricultores com amêndoas sem valor agregado.
Desde que a fazenda recebeu a certificação, em meados deste ano, a família já conseguiu vender seu produto pelo dobro do preço que o cacau é negociado no mercado internacional. Os ganhos são ainda maiores se considerado o aumento de produtividade, que dobrou com a adoção de técnicas de manejo. Em três anos, o rendimento na fazenda saltou para 100 arrobas por hectare.
Para garantir a certificação da IBD, foi preciso aumentar os gastos em 50%, para cerca de R$ 80 mil por mês para a fazenda, de 188 hectares. Entre as adaptações, os proprietários precisaram trocar os adubos e os defensivos químicos por insumos naturais, que agora deverão ser aplicados nas outras duas fazendas.
Porém, o grosso dos custos de produção é direcionado para a adequação das tarefas de plantio e manejo, o que tem compensado a redução do uso de produtos químicos. “A cultura do cacau é muito ligada a um trabalho de jardinagem”, ressaltou Almeida.
O processo de certificação de cacau orgânico contou com a mediação da suíça Barry Callebaut, que tem uma fábrica de processamento de cacau em Ilhéus e forneceu apoio técnico ao longo do processo, além de manter visitas frequentes de auditoria à fazenda para garantir a manutenção do selo.
A aposta em um nicho bem específico de mercado insere-se em uma estratégia da família Almeida para agregar valor à produção como forma de escapar da difícil concorrência com o cacau da África, que tem custo de produção menor em função dos baixos salários e do câmbio naquela região. Com a iniciativa, a família pretende aumentar o faturamento de sua produção agrícola em 10% em 2017, para R$ 11 milhões.
“A mudança da produção brasileira para fazer um cacau melhor é uma busca pela sobrevivência. Buscamos sair do mercado de commodity porque é difícil concorrer com o cacau africano”, justificou Leandro Almeida.
Para aproveitar a produção própria de cacau orgânico, a família lançará em 2017 uma linha de chocolates orgânicos da Mendoá. A perspectiva é que o novo produto aumente a receita da fábrica em 30% em relação à deste ano, que foi de R$ 2,5 milhões. Para Almeida, há uma demanda “muito grande” por chocolates especiais. Fonte: Valor