Atraso climático compromete potencial produtivo no maior país produtor de cacau do mundo, enquanto agricultores apostam em valorização de preços para outubro.
Uma onda de frio persistente e chuvas abaixo da média estão gerando preocupação entre os produtores de cacau da Costa do Marfim, maior exportador mundial da amêndoa. Em meio à estação chuvosa — que oficialmente vai de abril até meados de novembro — o clima anormal ameaça o desenvolvimento da safra principal, prevista para o período de outubro a março.
Segundo relatos colhidos pela Reuters, o clima frio pode impedir que as árvores de cacau atinjam seu pleno potencial produtivo. Agricultores de diversas regiões relataram a presença de frutos em diversos estágios de desenvolvimento — de pequenas a quase maduras — mas alertaram que a falta de chuvas e a ausência de sol podem provocar a queda precoce dos frutos jovens, conhecidos como cherelles, comprometendo o volume final da colheita.
Chuvas abaixo da média
Em Soubre, no oeste do país, choveu apenas 1,6 mm na semana passada — 10,4 mm abaixo da média dos últimos cinco anos. Situação semelhante foi observada nas regiões de Agboville, Divo e Abengourou, onde a umidade do solo começa a preocupar. “As plantações precisam de mais chuva e sol”, declarou Kouassi Kouame, produtor da região de Soubre.
Apesar do cenário adverso, produtores em áreas como Daloa, Bongouanou e Yamoussoukro ainda mantêm expectativas positivas, destacando que a safra está se desenvolvendo razoavelmente bem por ora. Entretanto, o atraso climático pode se refletir em uma colheita menos volumosa no início da temporada.
Com poucos grãos disponíveis no momento, alguns produtores iniciaram o armazenamento estratégico da produção precoce, apostando em uma valorização do preço mínimo definido pelo governo. Atualmente fixado em 2.200 francos CFA (US$ 3,90/kg), o valor poderá sofrer um reajuste significativo em outubro, às vésperas das eleições presidenciais.
“A oferta vai aumentar nas próximas semanas, mas pouquíssimos agricultores vão querer vender agora”, afirmou Celestin Goli, produtor de Daloa, onde as chuvas também ficaram 16,1 mm abaixo da média semanal.
Temperaturas mais baixas
As temperaturas médias na semana passada variaram entre 24,3°C e 27,9°C, abaixo do ideal para essa época do ano. Embora ainda dentro de uma faixa suportável, o frio persistente aliado à seca poderá impactar diretamente a formação dos frutos e a produtividade final das lavouras.
O mercado internacional acompanha com atenção os desdobramentos climáticos na Costa do Marfim. A oferta apertada de grãos nos próximos meses pode exercer nova pressão sobre os preços do cacau, que já enfrentam volatilidade diante do cenário global de escassez e incertezas políticas nos países produtores.
Fonte: mercadodocacau
*com informações reuters