Em meio à maior crise de produção de cacau em mais de duas décadas, o governo de Gana — segundo maior produtor mundial da commodity — anunciou nesta sexta-feira um plano ousado para revitalizar o setor. De acordo com o ministro das Finanças, Cassiel Ato Forson, o país pretende adquirir até o final deste ano 200.000 hectares de terra destinados exclusivamente à plantação de cacau.
A iniciativa surge como resposta ao colapso da produção ganesa, que caiu pela metade nos últimos anos, passando de um pico de 1 milhão de toneladas métricas para aproximadamente 500.000 toneladas — o menor volume registrado em mais de 20 anos. Entre os fatores que contribuíram para esse declínio estão os efeitos das mudanças climáticas, surtos de doenças nas árvores e, especialmente, o avanço descontrolado da mineração ilegal de ouro, que devastou regiões inteiras do cinturão de cacau do país.
Em comunicado divulgado na plataforma X (antigo Twitter), o Ministério das Finanças destacou que as terras adquiridas complementarão as operações dos pequenos agricultores, que hoje sustentam a base da produção nacional. O objetivo, segundo o governo, é garantir um crescimento sustentável e resiliente para o setor, que representa uma das principais fontes de receita e emprego em Gana.
Forson, que também integra o conselho do COCOBOD — o órgão regulador do cacau no país —, afirmou que é hora de “intervenções ousadas” para reverter o colapso da produtividade e restaurar a posição de Gana no mercado internacional. A expectativa é que a expansão das áreas cultivadas, aliada a melhores práticas agrícolas e apoio técnico, permita recuperar gradualmente os níveis históricos de produção.
O anúncio do governo ganês ocorre em meio a um momento de forte turbulência no mercado global de cacau, com os preços disparando para níveis recordes devido à combinação de oferta limitada e alta demanda. Além de Gana, a vizinha Costa do Marfim — maior produtora mundial — também enfrenta desafios similares, o que tem gerado preocupações em todo o setor de confeitaria e chocolate ao redor do mundo.
Com a medida, Gana sinaliza ao mercado e à comunidade internacional que está determinada a proteger um dos pilares da sua economia, ao mesmo tempo em que busca equilibrar desenvolvimento agrícola com sustentabilidade ambiental e combate à mineração predatória.
O sucesso da proposta dependerá não apenas da aquisição das terras, mas da capacidade do governo de mobilizar recursos, garantir segurança jurídica e oferecer suporte técnico aos produtores — fatores decisivos para que o cacau volte a florescer no país.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters