O Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank) indicou que Gana e Malawi mantiveram os pagamentos de suas linhas de crédito em dia, o que pode gerar atritos com credores que já aceitaram perdas para viabilizar a recuperação financeira desses países.
Em teleconferência realizada em 15 de maio, a instituição multilateral informou aos investidores que tanto Gana quanto Malawi — este último também em processo de reestruturação de dívida — não apresentaram inadimplência em relação aos empréstimos contraídos junto ao Afreximbank. A declaração surpreende, pois outros credores oficiais, reunidos no Clube de Paris, aguardam a reestruturação desses passivos comerciais para consolidar seus próprios acordos de alívio de dívida.
Embora Gana tenha concluído no ano passado a reestruturação de cerca de US$ 13 bilhões em títulos e dívidas internacionais com credores oficiais, permanece pendente o refinanciamento de sua dívida comercial antes de alcançar oficialmente o status de adimplente. Sob as regras de governança do Afreximbank — imunizado contra perdas em caso de calote, tal como FMI e Banco Mundial —, os pagamentos em dia não implicam automática participação em eventuais trocas de título por parte dos credores do Clube de Paris.
Fontes consultadas pela Reuters no mês passado revelaram que o grupo oficial deixou claro que Gana, assim como Zâmbia — que também fechou acordo com seus principais credores no ano passado —, deverá negociar a reestruturação de suas obrigações junto ao Afreximbank e ao Banco de Comércio e Desenvolvimento da África Oriental e Austral (TDB). Até o momento, não há definição sobre os prazos para a quitação dessas parcelas comerciais.
Especialistas apontam que a coincidência de cronogramas de pagamento cria um dilema para os governos africanos. “Zâmbia, Gana e Malawi estão presos no meio de diferentes credores e sendo forçados a tomar decisões difíceis”, avalia Chris Humphrey, pesquisador sênior associado do Overseas Development Institute (ODI). Tanto Malawi quanto Zâmbia não comentaram publicamente os detalhes, mas a última posição oficial de Lusaka é a de que reestruturará também o passivo junto ao Afreximbank.
Com ativo de US$ 42 bilhões e participação de governos e investidores privados em seu capital, o Afreximbank surge como um financiador estratégico num momento em que a ajuda concessional e os empréstimos a juro reduzido ficam mais escassos no continente. Segundo o relatório do primeiro trimestre, sua carteira de crédito soma US$ 27,8 bilhões, com índice de inadimplência de 2,44%, sem identificação de clientes específicos.
Analistas de agências de rating acompanham de perto a exposição do banco ao risco soberano. A Fitch atribui ao Afreximbank nota “BBB”, enquanto a Moody’s classifica-o em “Baa1”. A agência Fitch já advertiu que um nível de inadimplência acima de 6% poderia resultar em ação negativa ou rebaixamento de nota, elevando o custo de captação da instituição.
Parte dos empréstimos concedidos pelo Afreximbank possui taxas superiores aos níveis convencionais de concessionalidade. No entanto, a disposição do banco de atuar como credor de última instância em crises — aplicando juros de até 9,55% em créditos concedidos a Gana pouco antes do calote — reforça seu papel crucial no financiamento de infraestruturas e comércio para países africanos em vulnerabilidade.
Fonte: mercadodocacau