Gana, o segundo maior produtor mundial de cacau, está em negociações para garantir um empréstimo de US$ 500 milhões com comerciantes de cacau, em um esforço para financiar suas operações no setor em meio a incertezas sobre a produção agrícola. As conversas envolvem grandes nomes do mercado, como Olam Group Ltd. e Barry Callebaut AG, e visam levantar pelo menos um terço dos US$ 1,5 bilhão necessários para a temporada.
O regulador do setor, Gana Cocoa Board (Cocobod), busca esses fundos como uma solução temporária, enquanto as discussões com os bancos tradicionais continuam. Esse empréstimo serviria como um “empréstimo-ponte” para assegurar o financiamento necessário antes do início da nova temporada de colheita em outubro.
Desafios no Financiamento e Produção
Esta é a segunda temporada consecutiva em que Gana recorre aos comerciantes de grãos para obter financiamento, devido a atrasos na obtenção do empréstimo sindicalizado anual. Esse empréstimo é crucial para o Cocobod, pois financia a compra de mudas, produtos químicos, fertilizantes, e grãos dos agricultores. Além disso, ajuda o banco central a manter a estabilidade da moeda local.
Tradicionalmente, o Cocobod assina o acordo de financiamento em setembro, mas as negociações foram complicadas nos últimos anos, especialmente devido à reestruturação da dívida de Gana. No ano passado, o atraso levou o Cocobod a obter US$ 400 milhões em novembro e outros US$ 200 milhões em março de comerciantes de cacau, após os credores tradicionais recusarem a liberação da parcela final de um crédito de US$ 800 milhões.
Produção em Declínio e Impactos no Mercado
A produção de cacau em Gana tem enfrentado desafios significativos, como condições climáticas adversas, doenças nas plantações e escassez de fertilizantes. Isso resultou em uma queda na produção, o que impactou o mercado global de cacau, contribuindo para uma escassez pelo terceiro ano consecutivo. Os preços futuros do cacau chegaram a ultrapassar US$ 11.000 por tonelada, impulsionados por essa oferta restrita.
Apesar das expectativas de que a produção aumente cerca de 40%, atingindo 700.000 toneladas na temporada 2024-25, os bancos permanecem céticos. Nos últimos três anos, Gana não conseguiu atingir sua meta mínima de produção de 800.000 toneladas, registrando apenas 683.000 toneladas em 2021-22, 654.000 toneladas em 2022-23, e projetando uma queda adicional para 501.000 toneladas até o final de setembro de 2023, conforme dados da Organização Internacional do Cacau.
Além disso, o país ainda tem 250.000 toneladas de contratos de vendas a prazo não cumpridos, alguns dos quais datam de três anos atrás.
Medidas Proativas e Futuras
Para mitigar os riscos de contrabando e proteger os grãos estocados, o Cocobod planeja iniciar a nova temporada de colheita um mês antes, em setembro. Essa antecipação também permitirá mais tempo para implementar um novo sistema de gestão de cacau, alinhado às regras de desmatamento da União Europeia. Esse sistema exigirá que os agricultores usem cartões de identificação especiais com as coordenadas de suas fazendas, garantindo que todos os grãos sejam rastreados desde a colheita até o armazenamento.
As medidas tomadas por Gana refletem a necessidade urgente de financiamento e a busca por soluções sustentáveis em meio a uma crise de produção, que tem afetado não apenas o país, mas também o mercado global de cacau. A resposta dos bancos e comerciantes a essas iniciativas será crucial para determinar o rumo da próxima temporada e a recuperação do setor.
Fonte: mercadodocacau com informações bloomberg