O mercado global de cacau pode estar prestes a passar por mais uma transformação relevante. A Hartree Partners, gigante global de energia e commodities, está em negociações para adquirir a Touton, tradicional empresa agroindustrial francesa que comercializa quase 10% do cacau mundial, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
Fundada há mais de 150 anos, a Touton é um dos maiores nomes independentes no comércio de cacau, também atuando nos mercados de café. O possível negócio ocorre em um momento de fortes pressões no setor, marcado por colheitas ruins na África Ocidental – responsável por mais de 60% da produção global – e preços que chegaram a superar US$ 12.000 por tonelada métrica, ultrapassando por um período o valor de muitos metais industriais.
Negociações e estratégia de expansão
Fontes afirmam que executivos da Touton se reuniram há cerca de um mês com o sócio-fundador da Hartree, Stephen Hendel, e o chefe de investimentos da empresa, Scott Levy, para discutir pessoalmente a possível aquisição. Embora nenhuma das partes tenha confirmado publicamente, o movimento se encaixa na estratégia recente da Hartree, que no ano passado ingressou no segmento de commodities leves com a compra da ED&F Man Commodities, tradicional operadora nos mercados de açúcar e café.
Com a aquisição, a Hartree consolidaria sua presença no comércio agrícola, agregando a força da Touton em cacau e café ao seu portfólio. A Oaktree Capital Management – controladora da Hartree – administra atualmente US$ 209 bilhões em ativos, o que dá à companhia musculatura financeira para competir em um mercado cada vez mais seletivo.
A volatilidade e o custo elevado do cacau têm dificultado a atuação de empresas independentes. A bolsa ICE, referência global para a precificação do grão, passou a exigir garantias financeiras muito mais altas após perdas bilionárias registradas por traders no ano passado. O cenário tornou os bancos mais cautelosos na concessão de crédito, priorizando empresas com “bolsos mais profundos”.
Apesar de um lucro líquido recorde de € 130 milhões no exercício até março de 2024 – contra € 17 milhões no ano anterior –, a Touton ainda enfrenta dificuldades para garantir financiamento competitivo. De acordo com fontes do setor, o CEO Patrick de Boussac estaria próximo da aposentadoria e disposto a vender, desde que as condições financeiras sejam atrativas.
Se confirmada, a transação poderá alterar o equilíbrio de forças no comércio mundial de cacau, fortalecendo ainda mais o papel de grandes conglomerados com acesso a capital robusto. Em um momento de oferta limitada e preços historicamente altos, a entrada de novos investidores com poder financeiro pode intensificar a disputa por grãos de qualidade e influenciar a dinâmica de preços para processadores e fabricantes de chocolate.
Como resumiu um executivo do setor: “Hartree quer comprar. Touton quer vender. Se o preço estiver certo, o negócio acontecerá”.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters