Grupo reúne marcas de chocolate e fortalece cadeia do cacau na Bahia

União feminina rima com sucesso no Sul da Bahia

Ficou para trás o tempo em que rivalidades de todos os tipos afastavam as mulheres e dificultavam até mesmo a criação de redes de apoio para momentos difíceis. No mundo atual, elas ganham cada vez mais espaços de poder diante da hegemonia masculina porque também entenderam a força da união. E este é um caminho sem volta, uma tendência que se consolida a cada nova iniciativa, e um legado para as novas gerações de mulheres, que já entram de mãos dadas na vida profissional, em especial no universo das pequenas empreendedoras.

No Sul da Bahia, região famosa pela pujança da lavoura cacaueira, a iniciativa de um grupo de nove empresas produtoras de chocolate, com liderança feminina, demonstra a importância estratégica desse novo modelo, em que a união impulsiona a inclusão e o sucesso. “Se a gente não se abraçar, não alcança o que deseja’, resume a empresária Márcia Torres, da La Lis Chocolateria.

O primeiro passo para o fortalecimento da cadeia do cacau na região foi a criação do coletivo Mulheres da Terra, em junho de 2023. Desde então, as marcas La Lis Chocolateria, Benevides Chocolates, Cacau Do Céu, Modaka Cacau de Origem, Luzz Cacau, Mestiço, Cruzeiro Do Sul, Belo Chocolates e Jú Arleo Chocolates atuam juntas em ações promocionais para divulgar suas marcas. Além disso, a partir da criação do grupo, elas querem acessar iniciativas voltadas especificamente para mulheres empresárias, promovidas por diferentes instituições.

A ideia surgiu nas ações do projeto Origem Bahia, fruto de parceria entre a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e o Sebrae-BA, do qual as empresas fazem parte. Gratuito, o projeto tem como público-alvo pequenas e médias empresas que atuam ou querem ingressar em mercados internacionais. “A criação do grupo teve como objetivo motivar o empreendedorismo feminino e construir um conceito mais amplo de cooperativismo e união de forças”, explica a gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fieb, Patrícia Orrico.

Ela destaca que uma das primeiras ações realizadas pelo CIN para apoiar a iniciativa foi a criação da identidade visual do Mulheres da Terra, além da inclusão das empresas em atividades de promoção comercial, como ocorreu no Festival do Chocolate em 2023, quando elas tiveram um estande específico para apresentar produtos.

A empresária Leilane Benevides, da Benevides Chocolateria, destaca outro benefício da união. “A nossa produção não é em grande escala, e isso implica em custos mais elevados em relação a insumos, por exemplo. Agora, se nos unimos para fazer compras coletivas, conseguimos reduzir esses custos”, explica.

Oportunidades de negócio

Juntas, elas também estão atentas a outras oportunidades de negócio na região, como o turismo rural. A gestora da Benevides Chocolateria planeja um espaço para oferecer aos clientes experiências que vão desde visita às plantações de cacau até a degustação de chocolates.

Essa possibilidade também é avaliada pela empresa Modaka Cacau de Origem, cujo modelo de produção é tree to bar (da árvore à barra), já que na Fazenda São José, situada no município de Barro Preto, está a plantação de cacau e a fabricação de chocolates finos. Patrícia Vianna, que assumiu o legado da família, enumera desafios para empreender, especialmente no interior da Bahia, como gargalos de logística e distribuição. “Enfrentamos entraves para encontrar mão de obra capacitada e consultoria para beneficiamento do cacau, que implicam diretamente na produção de derivados de qualidade”, detalha.

Para solucionar algumas questões, elas contam com o apoio de instituições como a Fieb. As que querem conquistar espaço no mercado externo são apoiadas pelo CIN e assim conseguiram participar de rodadas de negócios com potenciais importadores do Chile, Portugal e França. “Agora estamos apoiando o grupo na elaboração de um plano de ação para 2024, para que consigam se fortalecer cada vez mais”, projeta Patrícia Orrico.

Chocolates de excelência

É comum às integrantes do Mulheres da Terra – e um diferencial da produção do Sul baiano – a busca incessante por produzir chocolates finos, trazendo sabores regionais a partir de frutos da Mata Atlântica. “Traduzir todo esse mundo do cacau até chegar na barra é um desafio. Por isso sempre buscamos desbravar novos sabores e intensidades diferentes”, pontua Márcia Torres, da La Lis Chocolateria.

As empresárias são unânimes ao reforçar a importância de investir na produção sustentável, primando pela qualidade. Neste quesito, seguem no caminho certo. No final do ano passado, chocolates de três marcas do grupo Mulheres da Terra foram premiados pela Academy of Chocolate de Londres.

“Esse reconhecimento mostra que o Sul da Bahia é um polo de chocolate de qualidades, não é apenas uma marca ou outra”, destaca Leilane Benevides, da Benevides Chocolates, que recebeu quatro medalhas de prata com os produtos 43% cacau ao leite com rapadura e flor de sal; chocolate branco 35% cacau Canjica Baiana; chocolate 85% cacau e chocolate 60% cacau Dark Milk. A empresa faturou, ainda, duas medalhas de bronze com os chocolates 60% cacau ao leite Cappuccino e na barra de 70% cacau.

Também receberam destaque a LaLis Chocolateria, com uma medalha de prata para o 70% Cacau e duas de bronze para o chocolate 45% ao Leite e o 63% Cacau com Laranja; e a Ju Arléo Chocolates, com uma medalha de bronze para o chocolate de cacau 55% ao leite com café.

Fonte: A tarde

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