Indústria europeia do cacau avança com EUDR, apesar de custos e desafios para produtores africanos

A Associação Europeia do Cacau (ECA) confirmou que o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR) entrará em vigor em 30 de dezembro de 2025, encerrando qualquer expectativa de novo adiamento. O anúncio foi feito durante o maior fórum dos 25 anos da entidade, que reuniu 480 líderes globais da cadeia do cacau em meio a intensos debates sobre custos de conformidade e riscos de ruptura no abastecimento, especialmente na África Ocidental.

O EUDR obriga importadores de cacau, café, óleo de palma, soja, madeira, gado e borracha a comprovar que seus produtos estão livres de desmatamento por meio de verificação geoespacial. Grandes operadores precisam cumprir o regulamento até dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas terão prazo estendido até 30 de junho de 2026. A Comissão Europeia informou que os sistemas de TI, ferramentas de benchmarking e treinamentos já estão em fase final, reafirmando que não haverá nova prorrogação após o adiamento de 12 meses concedido em 2024.

O fórum destacou a forte instabilidade de preços que marcou 2025: o cacau chegou a US$ 12.000 por tonelada métrica no início do ano, mas hoje é negociado em torno de US$ 7.350, uma queda de 60% em relação ao pico. Essa volatilidade se soma a desafios de produção na África Ocidental, onde a mudança climática pode reduzir rendimentos em até 25% até 2040, e o Cocoa Swollen Shoot Virus (CSSV) ameaça eliminar 10% da oferta global.

Produtores africanos expressaram preocupação com o alto custo de obtenção de dados de geolocalização, exigidos para cada lote de cultivo, muitas vezes inferior a três hectares. O método representa uma ruptura com os sistemas atuais de rastreamento em nível de saco, tornando a adequação especialmente onerosa para pequenos agricultores.

Enquanto os agricultores enfrentam custos adicionais, o consumidor já sente os efeitos: os preços do chocolate subiram mais de 50% desde 2021, levando consumidores a buscar alternativas de marca própria e pressionando as marcas premium. Delegados também compararam a realidade africana com a do Vietnã, onde práticas agrícolas mais eficientes garantem margens superiores, evidenciando desigualdades de produtividade e renda que o EUDR pode ampliar.

Sob a Chatham House Rule, participantes ressaltaram que “dados são o novo petróleo”, defendendo plataformas pré-competitivas para rastreabilidade, evitando soluções complexas como blockchain e privilegiando abordagens incrementais. Além do EUDR, novos parâmetros de segurança alimentar trarão mais complexidade: limites para hidrocarbonetos aromáticos de óleos minerais (MOAH) entre 2027 e 2030 e revisão de normas de fosfina e cobre vão exigir novos investimentos em testes e certificações.

Pela primeira vez, a ECA divulgou publicamente seus protocolos de conformidade, e iniciativas como o Agrinfo foram apresentadas para apoiar países de baixa e média renda. Christian Vollers, presidente da ECA, pediu unidade da indústria, lembrando que “a conformidade regulatória não resolve sozinha as causas do desmatamento, como pobreza e falta de serviços de extensão agrícola”.

A Costa do Marfim, maior produtor mundial, embarcou 1,82 milhão de toneladas de cacau até 14 de setembro, alta de 5,8% em relação ao ano anterior, mas bem abaixo do crescimento de 35% visto em dezembro passado. O próximo fórum da ECA está marcado para 2028, quando o setor espera demonstrar avanços em conformidade, renda dos agricultores e resiliência da cadeia de suprimentos.

O sucesso ou fracasso do EUDR poderá definir novos padrões ambientais para outras commodities agrícolas que entram no mercado europeu. Para a indústria do chocolate, a capacidade de manter o fornecimento global em meio a custos crescentes e desafios climáticos será decisiva para a sustentabilidade do setor na próxima década.

Fonte: mercadodocacau com informações newsghana

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