Mercado consumidor estagnado desanima indústrias ligadas à Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC)
Nesta quinta-feira, 26 de março, comemora-se do Dia do Cacau. Porém, o cenário não é de celebração para a indústria processadora de cacau. Com a estagnação do mercado consumidor mundial e nacional de chocolate, a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) já contabiliza queda na produção nos primeiros meses do ano em comparação a 2014, repetindo resultados negativos que ocorreram em 2013 e 2014, e não vê sinais de melhora no quadro a curto prazo.
O secretário-executivo da AIPC, Walter Tegani, analisa o impacto da crise econômica mundial no mercado do cacau. “O cenário só não está mais negativo em função da retomada do crescimento da economia dos EUA, o maior mercado consumidor de chocolate. Enquanto isso, mercados como o da Europa ainda buscam recuperação e dos países emergentes, como o Brasil, se encontram em recessão e sem sinais de melhora visível a curto prazo.”
Tegani afirma que a safra 2014/2015 de cacau, que deve encerrar em abril com uma oferta esperada de aproximadamente 220 mil toneladas, continuará com déficit diante da capacidade instalada da indústria processadora nacional, estimada entre 240/250 mil toneladas. “Temos capacidade de processar 250 mil toneladas de cacau por ano e devemos receber 220 mil toneladas da safra nacional, o restante terá que ser importado”, salienta. Ele reforça que o cultivo de cacau no país, conforme estudo realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP), é muito sensível ao preço, balizado pela Bolsa de Nova Iorque, e ao clima. “Na Bahia, estado responsável por cerca de 65% da produção nacional, as variações de chuva, as condições da topografia acidentada, principalmente nas áreas de cabruca, e a necessidade do controle da vassoura de bruxa aumentam significativamente o custo da produção. Além disso, os produtores baianos passam por uma situação de endividamento crônico e de acesso a crédito extremamente complicado”, relata.
Uma nova fonte para sanar a demanda nacional por cacau está no Pará. “O estado já é o segundo maior produtor, com cerca de 25% da fatia e tem se destacado com produção anual crescente, porém ainda levará vários anos para conseguir suprir o déficit produtivo que existe hoje no País”, diz Walter. Enquanto isso não acontece, as importações que se realizam – em sua maioria em regime drawback – vinculadas a compromissos de exportação, surgem como única alternativa possível e viável para manter as atividades e a força de trabalho da indústria, principalmente na Bahia onde se encontram as unidades processadoras. A principal matéria-prima do chocolate é trazida de países como a Costa do Marfim, Gana e Indonésia, nações com perfil de instabilidade social, econômica e política.
Atualmente, porém, só Gana que enfrenta queda na sua produção está em condições de atender o suprimento complementar, já que a Indonésia está concentrada em suprir as suas recentes unidades processadoras e a Costa do Marfim, maior produtor mundial de cacau e fonte de suprimento do resto do mundo, está com as importações extraoficialmente suspensas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Diante de gargalos nos campos de cacaueiros, a perspectiva do Brasil de ultrapassar, em 2016, o segundo lugar ocupado pela Alemanha no ranking de maior parque confeiteiro do mundo poderá ser adiada. “A indústria de processamento é elemento de interligação da cadeia do cacau e chocolate, dependendo tanto da entrega de cacau quanto dos pedidos das fábricas de chocolates. E, hoje, há clara deficiência na produção local, dificuldades na importação de cacau e uma retração no consumo de derivados, nos fazendo reestruturar as expectativas”, projeta o secretário-executivo da AIPC.
AIPC – A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) representa 95% do parque processador de cacau no Brasil, cujo faturamento está acima de R$ 1,5 bilhão/ano, gera mais de 4,2 mil empregos diretos nas cinco fábricas instaladas na Bahia e em São Paulo, recolhendo aproximadamente R$ 300 milhões/ano de impostos. Em meio a uma cadeia de cacau e chocolates que participa do PIB BRASIL com R$ 11,5 bilhões. As empresas associadas à AIPC instalaram-se no Brasil há mais de 40 anos, quando o suprimento de cacau até gerava excedentes de exportação. O País é, atualmente, o terceiro maior parque confeiteiro do mundo, atrás de Estados Unidos e Alemanha, e ocupa entre a 5ª e 6ª colocação na produção mundial de cacau, tendo sido ultrapassado recentemente pelo Equador. Fonte: AIPC