Margem apertada no campo

Alta no custo dos insumos e demanda menor do que a esperada fazem com que PIB do agronegócio recue até agosto e impacte mais no resultado dentro da porteira

A alta no valor dos insumos, o baixo consumo interno e a redução nas exportações por embargos de mercados importadores pressionaram o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio neste ano, que recuou 1,52% de janeiro a agosto na comparação com o mesmo período de 2017, segundo estudo do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A defasagem de preços comprime a receita principalmente do trabalho para dentro da porteira e, entre os granjeiros, chega a causar prejuízos.

Houve recuperação nos preços de produtos agrícolas a partir do fim do primeiro semestre, com alta mensal em junho e julho. Porém, agosto voltou a registrar baixa de 0,21%, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Conforme o Cepea, o principal problema é mesmo a alta no valor dos insumos, boa parte cotada em dólar, enquanto a demanda interna patina e limita a possibilidade de aumento nos preços dos produtos do campo.

Pesquisador de macroeconomia do Cepea, Leandro Gilio afirma que o resultado para dentro da porteira tem conseguido se recuperar um pouco desde maio, mas acumula variação negativa de 2,76% ante os oito primeiros meses do ano anterior. “A margem do setor primário é menor do que a da agroindústria, então acaba mais pressionada quando se tira os custos do valor de produção”, diz.

Quando considerado somente a variação no PIB do campo no acumulado do ano, há reduções de 2,67% no ramo agrícola e de 6,71% no pecuário, com uma média negativa de 4,04%. O maior impacto vem do custo com fertilizantes, que tiveram aumento de 15,77% e são repassados a toda a cadeia, até a alimentação animal. A valorização do dólar frente o real atinge diretamente esse tipo de produto.

Porém, a política de preços da Petrobras, que fez com que o valor do diesel disparasse neste ano e encarecesse o transporte, a redução da oferta e o encarecimento do milho, além de eventos como operações da Polícia Federal contra corrupção na agroindústria e a greve dos caminhoneiros também tiveram impacto significativo.

Mesmo assim, há culturas com expectativa de aumento do faturamento no ano, como algodão, cacau, café, soja, tomate, trigo, madeira em tora, madeira para papel e celulose e lenha e carvão. Por outro lado, deve ocorrer queda na receita de arroz, banana, batata, cana-de-açúcar, feijão, fumo, laranja, mandioca, milho e uva. O trigo é o destaque, com expectativa de aumento sustentada pela alta de 31,67% nos preços sobre janeiro a agosto de 2017 e pelo aumento, segundo a Conab.

NOVO MOMENTO

Para o analista de desenvolvimento tecnológico de mercado da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) Maiko Zanella, deve ocorrer uma recuperação do setor nos últimos meses do ano, mas não a ponto de reverter resultados considerados ruins em atividades como a dos granjeiros. “Por exemplo, no planejamento da primeira safra de grãos, a cotação do dólar estava mais alta, mas, na segunda, estava mais baixa e impactou menos”, explica. “Já na suinocultura, o custo médio de produção é maior do que o valor que o criador recebe desde fevereiro e, na avicultura de corte, ocorre o mesmo desde janeiro.”

Zanella também lembra que os preços dos insumos começaram a recuar a partir de setembro, que ainda não entrou no levantamento do Cepea. E indica que questões como a guerra comercial entre China e Estados Unidos impactaram positivamente nos resultados do agronegócio nacional após agosto. “As exportações de carnes devem melhorar também. A China enfrenta problemas com a peste suína africana e deve importar mais carne suína, ainda que menos soja para alimentar os porcos por lá, que deve ser direcionada ao mercado interno.”

O analista da Ocepar considera que o principal fator dessa conta, contudo, é mesmo a baixa demanda interna no País, já que o desemprego continua alto e as famílias consomem pouco. O que não o impede de manter o otimismo. “O Paraná abriu processo para encerrar a vacinação contra aftosa e deve abrir mercados como Japão e Coreia, além da Rússia, que derrubou em outubro o embargo que impuseram no início do ano porque detectaram resíduos do promotor de crescimento ractopamina na carne suína.”

Fonte: Folha de Londrina

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