A elite venezuelana está ajudando os produtores artesanais e comerciantes de chocolate a combater a crise em que o país está mergulhado. A produção de chocolate gourmet é, por estes dias, sustentada pela procura da pequena classe alta da Venezuela. As lojas de chocolates contrastam com as prateleiras vazias da maioria dos supermercados.
O negócio poderia, ainda assim, ser muito mais rentável para os pequenos empresários – sujeitos aos limites burocráticos impostos pelo Governo da Venezuela, que dificultam a sua exportação e fazem com que o cacau ganhe a fama de “petróleo venezuelano” entre os produtores.
É artesanalmente que Nancy Silva e quatro ajudantes preparam o chocolate aromatizado que embalam à mão, para ser vendido em lojas de luxo da capital venezuelana. Formada em nutrição, Nancy conta à Reuters que a maior dificuldade não é chegar ao sabor ideal do produto, mas contornar as barreiras burocráticas que tornam praticamente impossível a exportação e crescimento do seu negócio. Esta é uma queixa transversal ao negócio de Nancy e a mais duas dezenas de novos comerciantes de cacau que, nos últimos tempos, surgiram no país.
No Panamá, nos EUA, na Holanda e no Japão, os preços de um tablete feito 100% de chocolate aromatizado venezuelano pode ser vendido por 16 euros. No entanto, na Venezuela, o preço médio não ultrapassa os 0,90 euros, o que restringe o potencial crescimento do negócio destes produtores artesanais.
O desequilíbrio de preços aponta as divergências que afastam o mercado da prática de comércio justo. Ainda assim, a venda a 0,90 euros já corresponde a um preço fora do alcance da maioria dos milhões de venezuelanos que ganham menos de um euro por semana.
Ainda assim, para os produtores artesanais de chocolate, estes tabletes gourmet são essenciais e um motor de oxigênio no colapso sufocante em que está economia da Venezuela. “O nosso verdadeiro petróleo é o cacau”, compara Nancy Silva, dona da chocolataria Kirikire, que ambiciona conseguir exportar para o mercado francês. Foi lá que em 2014 ela vendeu um quilograma do seu chocolate a 80 euros, o equivalente a cinco anos de salário mínimo na Venezuela.
Além das dificuldades que surgem na produção do chocolate provocadas pela hiperinflacção ou pelo racionamento de produtos impostos pela escassez de oferta, Nancy Silva luta diariamente contra ineficaz burocracia. O país, que outrora tinha como principal motor da sua economia o petróleo, vê o cacau conquistando o espaço do “ouro negro”.
A razão está na qualidade do chocolate, feito 100% de cacau venezuelano, sem misturas, ao contrário de outras marcas gourmet comercializadas. Foi por isso que a Organização Internacional de Cacau determinou que todo o cacau venezuelano tem “qualidade e é aromático”, uma distinção atribuída a apenas mais 22 países e que representa menos de 5% da produção global.
A qualidade do chocolate aromatizado com frutas e sal marinho é também a imagem da marca gourmet Mantuano, conduzida por Giovanni Conversi e mais quatro trabalhadores no segundo piso de uma velha habitação em Caracas. Um terço da produção desta marca, que chega as 9000 tabletes por mês, é vendida para a Europa e EUA. Um dos traços que distingue a qualidade da marca é o processo de fermentação do aroma, que acontece em sacos de plástico enterrados e não em caixas de madeira, como acontece na maneira tradicional.
O sucesso do comércio de chocolate é também testemunhado pela marca El Rey. Com 40 anos de história, a El Rey consegue exportar os seus produtos e evitar situações como as relatadas pelos comerciantes artesanais, que se veem obrigados a transportar os seus produtos em malas de viagem, em voos comerciais.
Fonte: Público PT
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