Por Juliana Ribeiro, 26 de março 2021
Um dos principais desafios é fomentar a produção para que o país volte a ser autossuficiente em cacau
O cacau brasileiro já foi líder no mundo, mas sofreu impactos devastadores com a chegada da vassoura de bruxa nos anos 90. Nos últimos anos, com o fomento da produção e os investimentos em novas áreas, aos poucos a produção brasileira começa a recuperar o fôlego. No ano passado, o recebimento das indústrias processadoras foi de 174.283 toneladas, um crescimento de 4,8% em relação a 2019. No entanto, o Brasil ainda tem o desafio de aumentar a produção de forma consistente, voltando a ser autossuficiente, já que a capacidade de processamento das indústrias moageiras gira em torno de 275 mil toneladas. Para compensar essa diferença, e evitar um nível ociosidade das indústrias que inviabilizaria suas operações, as moageiras precisam importar amêndoas da Costa do Marfim e Gana. Esse volume importado é processado e atende à demanda de derivados de importantes mercados, especialmente Argentina, Chile, Estados Unidos, Canadá e países da Europa. O Brasil é um hub importante de derivados de cacau na América Latina.
Atualmente o Brasil é o 7º maior produtor de cacau do mundo, atrás de países como Costa do Marfim, Gana e até mesmo Equador. O setor gera mais de 200 mil empregos diretos e indiretos com receita anual de R$ 21,6 bilhões, segundo o estudo “Cacau e Chocolate no Brasil”, de 2018, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. “Temos potencial para voltar a crescer, pois o Brasil é o único país do mundo a apresentar todos os elos da cadeia produtiva”, explica Anna Paula Losi, diretora-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
Para tanto, algumas iniciativas conjuntas já estão sendo desenvolvidas com o intuito de colocar o cacau nos trilhos do crescimento novamente. E uma das mais importantes está no CocoaAction Brasil, iniciativa nascida a partir do World Cocoa Foundation e que reúne empresas, produtores e setores do governo com a finalidade de buscar soluções que melhorem a produtividade e a rentabilidade dos agricultores, sempre levando em consideração caminhos sustentáveis de crescimento. Para isso, tanto o apoio de acadêmicos em trabalhos de pesquisa é fundamental, como mostra o estudo “Panorama da Cacauicultura no Território Litoral Sul da Bahia / 2015 – 2019” apoiado pelo CocoaAction e desenvolvido pelo Instituto Floresta Viva e que promoveu um verdadeiro raio-x da produção cacaueira na região sul da Bahia ao acompanhar 2,4 mil produtores durante quatro anos. “Esse estudo é um primeiro passo para identificar quais são os desafios que temos pela frente e de que forma construiremos juntos o caminho para o fortalecimento do setor”, pondera Anna Paula.
Esse caminho passa pelo fortalecimento das cooperativas, uma vez que a maior parte dos cerca de 93 mil produtores de cacau brasileiros são agricultores familiares, com áreas que variam entre 5 e 10 hectares de cacau. Outro aspecto importante dentro da cadeia é o fato de o cacau ser um fruto nativo brasileiro e ter um papel cada vez maior no desenvolvimento de políticas que estimulem a recuperação de áreas degradadas. Seu cultivo por meio dos Sistemas Agroflorestais (SAF) no Pará e da Cabruca na Bahia, permitem o consórcio da floresta de cacau com outros cultivares, promovendo o aumento da renda dos produtores com a preservação ambienta. O estudo “Balanço de carbono na produção agrícola familiar na Amazônia”, publicado neste ano pela Solidaridad aponta que as plantações de cacau na região Amazônica têm a capacidade de absorver 120,6 toneladas de gás carbônico ao ano, superior à própria floresta, que capta 6,5 toneladas de CO2. “Por todos esses fatores, não temos dúvida de que com a união dos esforços de todos os elos da cadeia juntamente com a iniciativa pública, o cacau brasileiro tem um futuro promissor”, finaliza Anna Paula.
Fonte: AIPC