No Marajó, entranhada na floresta de Breves, onde uma residência chega a se distanciar quilômetros de qualquer outra, Maria Júlia Sena, de 76 anos, pelo menos duas vezes por semana separa amêndoas das árvores nativas às margens do rio Tucanaçu e prepara uma iguaria: chocolate 100% cacau, rústico e diferenciado. Na entressafra, de julho a dezembro, a frequência diminui para uma vez por mês.
Cada 600g de sementes resultam em uma barra de cerca de meio quilo do doce pronto, a partir de descascamento, pilagem e torrefação no fogareiro de chão. O processo é exclusivamente artesanal e dura mais ou menos uma hora. Não é necessária nenhuma refrigeração para se alcançar o ponto. Na propriedade não há energia elétrica. As barras acabam consumidas pelos dois netos e também embaladas decorativamente em folhas de arumã, servindo de presente para amigos e parentes.
“Herdei essa receita dos meus pais, que herdaram dos meus avós, que herdaram dos meus bisavós… Não dá nem pra contar como e de onde apareceu. É uma tradição da gente”, diz.
Uma visita técnica do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) este mês, com o apoio do escritório regional do Marajó, iniciou um trabalho de aperfeiçoamento das boas práticas de fabricação e um intermédio para a qualificação do chocolate, de modo que Maria Júlia possa vender no município, com possibilidade de expansão paulatina de mercados.
“É importante destacar que essa visita foi o marco dos trabalhos de assistência técnica e extensão rural. Nosso objetivo não é impor um novo modelo de produção, os processos serão qualificados sem perder sua essência. São possíveis, por exemplo, crédito rural e plano de negócios”, explica o supervisor regional da Emater no Marajó, o sociólogo Alcir Borges, que fez parte da equipe da primeira visita. Além disso, a Emater deve mapear famílias vizinhas que compartilhem de atividades semelhantes. Fonte: Agência Pará