Parceria Agrícola contribui para autonomia de trabalhadores de cacau do sul da Bahia

 

Impulsionado pelo interesse sobre a situação atual dos trabalhadores do cacau da Bahia e pela falta de bibliografia específica sobre o assunto, o mestre em antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE  Emiliano Dantas fez sua dissertação para conclusão do curso sobre esse grupo social.

 

Orientado pelo professor Renato Athias, o pesquisador desenvolveu “Os Meeiros do Cacau do Sul da Bahia – trabalho, corpo e documentação”, de forma a dar um foco maior às formas de sobrevivência dos meeiros, nome popularmente dado aos trabalhadores do cacau. Emiliano utilizou a fotografia, o vídeo e o texto para contar como se deu a adaptação dos trabalhadores de cacau às novas configurações do plantio do fruto.

 

Ao investigar como se configuram a vida dos meeiros desde o surgimento do cacau, as relações de trabalho entre patrão-empregado e empregado-empregado, o autor constatou em sua experiência etnográfica que, mesmo com a crise na produção cacaueira, devido ao fungo vassoura-de-bruxa, os meeiros tinham conquistado autonomia da sua mão de obra por conta da implantação do Sistema de Parceria Agrícola Familiar, que está previsto no Estatuto da Terra e consiste na divisão da produção do cacau entre o dono da terra e os trabalhadores. O sistema modificou as relações trabalhistas e pessoais dos trabalhadores, estimulando alianças e a formação de redes de solidariedade entre os meeiros e os donos das terras para superar a crise.

 

Para chegar a essa conclusão, o pesquisador fez uma análise das relações de trabalho na região associada aos discursos dos interlocutores, os meeiros que são ex-trabalhadores assalariados das lavouras de cacau. Esses relatam ter sofridos abusos dos patrões, que não respeitavam as leis trabalhistas e exploravam a mão de obra. “Os que não eram ex-empregados das fazendas acabavam por aderir ao discurso dos mais velhos e também afirmavam que trabalhar como assalariado era ruim”, complementa Emiliano.

 

A pesquisa é dividida em quatro capítulos que fazem uma contextualização histórica das regiões onde surgiram as lavouras de cacau e analisam a figura do meeiro em si e sua relação com a terra. A dissertação se ocupa de observar uma região que tem um patrimônio abandonado e que sofre com o descaso das autoridades políticas e dos proprietários.

 

Segundo o trabalho, as sedes das fazendas representaram durante anos a riqueza do cacau, tornando o sul da Bahia uma das áreas mais produtoras do fruto no mundo. O pesquisador acrescenta, ainda, que a antropologia e sociologia rural podem se beneficiar vastamente de sua dissertação pelo fato de ser um documento específico sobre os meeiros desta região e funcionar como uma rica fonte de informações sobre a relação de trabalho destes.

 

A pesquisa alerta, também, o estado atual de esquecimento dos trabalhadores, embora tenham uma maior autonomia sobre seu trabalho. “Na perspectiva dos meeiros o que seria mais importante é que a minha pesquisa servisse como fonte para construção de políticas públicas para esse grupo que também sofre com o abandono”, comenta o pesquisador.

 

A crise do cacau perdura por mais de 20 anos e a pesquisa se aprofunda sobre como sobrevivem os que dependem dessa economia. Emiliano Ferreira Dantas passou dois meses em cinco fazendas do sul da Bahia para divulgar fielmente o que se passa nas fazendas de cacau que existem até hoje. A pesquisa se valeu ainda de entrevistas e uma observação participante do antropólogo para que fosse percebida de melhor forma a vida, a organização e todos os aspectos relacionados ao cotidiano dos meeiros. Fonte: Federal de Pernambuco

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