Prefer capta US$ 4,2 milhões para levar café e cacau sem grãos ao mercado global

A foodtech de Singapura Prefer acaba de captar US$ 4,2 milhões em uma rodada pré-Série A para acelerar a expansão internacional de suas alternativas sustentáveis ao café e ao cacau, produzidas via fermentação e a partir de ingredientes reaproveitados.

O investimento foi liderado pela At One Ventures e Chancery Hill Capital, com participação do fundo Forge Ventures, já investidor da marca. Com isso, o total captado pela startup chega a US$ 6,2 milhões — incluindo uma rodada seed de US$ 2 milhões realizada no início de 2024.

De acordo com Jake Berber, cofundador e CEO, foram seis meses intensos de conversas com investidores, em um cenário considerado o mais desafiador da última década para captação no setor. “Chegamos a fazer mais de 20 reuniões por semana. Queríamos concluir rápido para voltar ao que realmente nos move: criar e escalar produtos”, contou.

O movimento marca a ambição global da empresa, que já fechou acordos comerciais para fornecer seu café sem grãos à Ajinomoto, na Tailândia, e à The Coffee Ferm, que atuará na Austrália e na Nova Zelândia. Além disso, a Prefer acaba de lançar seu cacau em pó sem grãos e um “extensor de café” solúvel, apresentado no mês passado.

Segundo Helen Lin, sócia da At One Ventures, o investimento reflete “a urgência em reduzir a pegada agrícola do nosso sistema alimentar” e a confiança no time da Prefer para oferecer experiências sensoriais equivalentes às originais, mas com impacto ambiental muito menor e economia para os clientes.

Café e cacau reinventados

Fundada em 2022 como um spin-off da A*STAR (Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa de Singapura), a Prefer transforma subprodutos como pão excedente, okara (resíduo da produção de tofu) e bagaço de cervejaria em ingredientes aromáticos por meio de fermentação com microrganismos alimentícios. Depois, o material é torrado e moído, liberando compostos aromáticos semelhantes aos encontrados no café e no cacau convencionais.

A proposta não é substituir totalmente as matérias-primas, mas “estender” seu uso. O portfólio de café sem grãos inclui versões torradas e moídas, concentrados, lattes prontos para beber e pó solúvel — todos com custo médio 50% menor que o do arábica e pegada de carbono 85% inferior. As formulações podem ser misturadas ao café tradicional em até 40%, permitindo que marcas reduzam custos e emissões sem perder sabor.

O pó solúvel é hoje o item mais procurado pelos clientes B2B, somando US$ 15 milhões em acordos não vinculantes. Já o cacau em pó sem grãos estreia no mercado com foco em confeitaria, panificação e bebidas prontas, também como ingrediente “extensor”.

Para Ding Jie Tan, cofundador e CTO, a tecnologia de fermentação proprietária é a chave para acelerar o desenvolvimento de novos produtos, reduzir custos e ampliar o portfólio de sabores para parceiros da indústria.

Escala e parcerias estratégicas

A Prefer já está presente em 75 pontos de venda em Singapura e, até o fim do ano, deve chegar a 100. A empresa também firmou parcerias no setor de foodservice, como com as marcas locais de sorvete Melvados e Kind Kones.

A startup agora se prepara para escalar a produção piloto para 500 toneladas por ano, combinando terceirização com licenciamento de propriedade intelectual para fabricantes, enquanto aprofunda a pesquisa em sabores de cacau e fortalece parcerias no mercado Ásia-Pacífico.

Apesar dos planos de internacionalização, a base da operação seguirá em Singapura, aproveitando o apoio institucional da Enterprise Singapore e da A*STAR.

Uma resposta às mudanças climáticas

O pano de fundo da estratégia da Prefer é a crise climática. Secas, doenças e eventos extremos já afetam seriamente plantações de café e cacau, pressionando a oferta e elevando preços. Em 2024, ambos atingiram recordes históricos nas bolsas de futuros, cenário que se mantém neste ano.

Além disso, a produção convencional desses cultivos exige muita água e tem alta emissão de gases de efeito estufa — contribuindo para as mesmas mudanças climáticas que ameaçam sua própria existência. É por isso que gigantes como Hershey e Barry Callebaut já buscam alternativas, incluindo tecnologias de cultivo celular.

Embora o foco da Prefer seja a Ásia nos próximos 18 meses, Berber admite que há conversas com empresas da Europa e dos EUA para licenciar a tecnologia. “Não me surpreenderia se, nesse período, tivermos planos claros de comercialização também nesses mercados.”

Concorrendo com startups como Voyage FoodsCompound Foods e Planet A Foods, a Prefer aposta na combinação de custo competitivo, sabor e proximidade com o mercado asiático como diferencial para se consolidar.

“Em cinco anos, queremos ser reconhecidos como líderes globais em sabores e ingredientes, ajudando a indústria alimentícia a reduzir custos e sua pegada de carbono”, afirma Berber.

Fonte: veganbusiness

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