O principal ingrediente pra fabricar chocolate pode faltar na indústria. O repórter Mauro Anchieta explica o porquê desse desequilíbrio entre o consumo e a produção.
De mordida em mordida, países emergentes como Brasil, Índia e China comem cada vez mais chocolate. A produção de cacau, por sua vez, não tem acompanhado esse crescimento.
A seca maltrata as plantações da África Ocidental, de onde sai a maior parte da fruta.
No ano passado, o mundo consumiu mais cacau do que produziu. Daí a previsão nada otimista de dois dos maiores fabricantes de chocolate do planeta: daqui a seis anos essa diferença pode chegar a dois milhões de toneladas e comprometer seriamente a produção do doce.
O Brasil é apenas o quarto produtor de cacau do mundo e importa matéria-prima. O sul da Bahia ainda tem a maior área plantada, mas, por causa de uma praga na lavoura, colhe hoje menos da metade do que há 20 anos. Depois da crise dos anos 90, algumas fazendas retomaram o plantio e agora apostam também na fabricação de chocolates finos.
É um chocolate de sabor bem mais encorpado, mais forte. Em alguns deles, a concentração de cacau chega a 70%, o triplo do que a gente normalmente encontra na maioria dos chocolates que estão no mercado. O chocolate fino ou gourmet produzido no Brasil é um produto relativamente novo e que está começando a conquistar seu espaço. Os produtores baianos, por exemplo, já vendem para quatro estados.
"Representa uma cadeia, um conglomerado de pequenas indústrias e de pequenos produtores que começam a agregar valor ao seu produto, assim como o francês faz com sua uva", explica José Carlos Maltez, presidente Associação dos Produtores de Cacau e Chocolate da Bahia.
Um pesquisador da Ceplac, órgão brasileiro de pesquisa e apoio à lavoura do cacau, admite que o mundo pode sofrer uma crise de abastecimento, mas não é tão pessimista.
"Eu acho que em um dado momento esse déficit vai acontecer, mas que ele será rapidamente reparado por investimentos nas áreas com melhores possibilidades de ampliar a produção de cacau", diz Adonias de Castro, pesquisador Ceplac. Fonte: G1