Produção menor de cacau em Gana abala mercado

 

Falta de chuvas e a aplicação tardia de pesticidas e fungicidas para proteger os pés de cacau provocaram uma queda expressiva na produção de Gana, elevando o risco de os produtores não terem condições de cumprir seus contratos com os compradores.

 

Mas as plantações de cacau do país africano devem se recuperar na próxima safra, dizem alguns analistas, agora que o governo voltou a fornecer mudas e pesticidas diretamente aos agricultores, revertendo mudanças que ele próprio promoveu para reduzir um programa de US$ 400 milhões de subsídios ao cacau.

 

A produção instável ressalta a grande vulnerabilidade dos mercados futuros do produto, que movimentam US$ 7 bilhões: a dependência excessiva da Costa do Marfim e Gana, que juntos respondem por mais da metade do suprimento de cacau do mundo. No ano passado, os preços atingiram o maior nível em três anos e meio quando a pior epidemia de ebola registrada até hoje atingiu a África Ocidental, espalhando temores de uma queda na produção de cacau. A doença acabou não atingindo nem a Costa do Marfim nem Gana, e os preços recuaram quase 21% num período de quatro meses.

 

Os atuais problemas de Gana empurraram os preços do cacau de volta às máximas registradas durante a crise do ebola, o que provavelmente vai levar a uma alta no preço do chocolate para o consumidor em todo o mundo.

 

No ano passado, a alta do cacau fez com que grandes produtores de chocolate, como Hershey Co. HSY +0.01%  , Nestlé SA NESN.VX -0.09%  e Lindt & Sprüngli AG LISN.EB -3.39%  , elevassem os preços no varejo até 8% neste ano. Analistas dizem que, depois que os preços no varejo sobem, eles permanecem no novo patamar mesmo que os do cacau voltem a cair.

 

Gana deve produzir 696 mil toneladas de grãos de cacau este ano, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês). As estimativas iniciais eram de um aumento na produção para cerca de 1 milhão de toneladas, ante 900 mil em 2014, segundo o Cocobod, órgão do governo responsável pelas compras de cacau.

 

A safra menor ampliou as dúvidas sobre o cumprimento dos contratos de venda de Gana, que o Cocobod fechou com base nas previsões iniciais. O Cocobod ofereceu 850 mil toneladas de cacau para venda. A entidade não quis comentar.

 

“Há pessoas em algum lugar do mundo esperando 200 mil toneladas de cacau, algumas delas insistindo que sejam de Gana”, diz Damien Thouvenel, operador de cacau da Sucden em Paris. “Elas têm uma linha de produto que informa que o cacau é de Gana e não podem colocar Costa do Marfim lá [na embalagem].”

 

Os preços do cacau estão subindo à medida que as processadoras disputam o estoque limitado de grãos de Gana disponíveis no mercado. O contrato de cacau para entrega em setembro fechou a US$ 3.281 por tonelada ontem na bolsa de futuros dos Estados Unidos, a ICE Futures US, com alta acumulada de 12,75% no ano. Durante a crise de ebola, os futuros de cacau chegaram a US$ 3.371 a tonelada em 24 de setembro de 2014, a maior cotação desde março de 2011.

 

“O déficit na produção está pressionando todo mundo no setor”, diz um executivo da área comercial da processadora West African Mills Co., sediada em Gana. “Não estamos operando com nossa capacidade ideal porque não há oferta de cacau, nem grãos de qualidade inferior.”

 

Segundo o executivo, alguns processadores e exportadores podem não se recuperar facilmente das perdas porque poucos previram a queda após anos de crescimento contínuo da produção. A West African Mills é uma joint venture entre o Cocobod e o Hosta Group, da Alemanha.

 

Mudanças no programa de subsídios são parcialmente responsáveis pela queda na produção de cacau de Gana neste ano.

 

 

Numa tentativa de reduzir custos, o governo de Gana começou uma redução gradual na distribuição de mudas de cacau e pesticidas diretamente para quase um milhão de produtores. Em vez disso, concordou em pagar aos produtores um preço mais alto pelo cacau e deixar que comprassem os equipamentos e serviços que precisassem. Mas dois anos de preços baixos levaram os agricultores a embolsar o dinheiro extra do governo, em vez de investi-lo nas plantações.

 

Quando o governo descobriu que isso estava acontecendo, voltou a entregar os produtos químicos diretamente. Mas isso ocorreu tarde demais para o desenvolvimento da safra, segundo um porta-voz da Associação de Produtores de Cacau, Café e Carité de Gana.

 

Embora a produção de Gana esteja diminuindo, a demanda permanece elevada. O ICCO recentemente reviu seus dados e prevê que o consumo vai exceder a produção em 38 mil toneladas de grãos de cacau este ano, ante uma previsão anterior de um déficit de 17 mil toneladas.

 

“Acreditamos que [mais] aumentos de preços virão, principalmente devido a problemas no fornecimento ou à expectativa de problemas, ante um cenário de aumento global da demanda, principalmente dos mercados emergentes asiáticos”, diz Matt Forester, diretor de investimentos da New Square Capital, consultoria americana de investimento que administra US$ 380 milhões. A empresa está alavancada em cacau, o que significa que possui mais posições neste mercado do que o recomendado. Segundo Forester, sua empresa prevê que o cacau será uma das commodities de melhor desempenho este ano e continuará subindo.

 

O ministro das Finanças de Gana, Seth Terkper, disse, numa conferência na semana passada, que o governo aprendeu lições “valiosas” com os problemas da safra atual e que as iniciativas do Cocobod vão ajudar a reavivar a produção na próxima safra.

 

Embora muitos operadores concordem que Gana deve recuperar sua produção, alguns temem que o Cocobod venda a safra em excesso novamente, provocando nova escassez. “Há um sentimento geral agora no mercado que o mesmo problema pode acontecer na próxima safra”, diz Thouvenal, da Sucden. Fonte: WSJ.br

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