O mercado do cacau ganhou destaque nos últimos meses. As preocupações com a África dão suporte de valorização e no Brasil, uma série de questões foi levantadas em relação ao futuro do setor. Entre elas, a dificuldade da indústria Bean To Bar para conseguir manter com os preços elevados e também a preocupação com a produção de cacau fino, já que o preço da commodity pode chamar mais atenção do produtor. Mas, afinal de contas, a produção de cacau fino garante boas margens para o produtor?
Segundo Leonardo Dutra, coordenador de projetos do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad, a resposta é sim. Os dados levantados e considerando a produção no estado do Pará mostram que o produtor pode ter até 40% a mais de rentabilidade se destinar 30% da produção ao cacau de qualidade.
O levantamento apontou que o investimento para implementação de lavouras finas é de aproximadamente R$ 10.040,00. Deste montante, aproximadamente R$ 4.880,00 é destinado para o custeio de mão de obra, atividades administrativas e compra de insumos.
É importante ressaltar que está sendo coniderado um produtor alto padrão de amêndoa fina, que apresentou produtividade média de 950 quilos por hectare. A área total é de 5 hectares e apenas 30% é destinado para essa produção. O perfil é muito semelhante aos produtores de cacau de todo o Brasil.
O mercado atual oferece ao produtor a remuneração de R$ 52,00 pela amêndoa fina e R$ 32,00 para o cacau tradicional. “Esse é o cenário que nós temos hoje, mas no ano passado, com preços mais baixos, esse mesmo produtor sem trabalhar com cacau fino teria uma margem liquida mais baixa”, afirma.
PACIÊNCIA PARA A FERMENTAÇÃO
Segundo Elaine Santos, engenheira agrônoma que atende nas principais regiões produtoras do país, afirma que as altas nos preços tiraram, de certa forma, o incentivo do produtor para fazer esse tipo de cacau. Além das mudanças nas lavouras, precisando aproveitar as altas dos preços e fazer o caixa girar mais rápido, a produção tem chamado mais atenção.
“Os produtores estão fermentando com três ou quatro dias e não é tempo suficiente para essa etapa ocorrer. Geralmente a etapa de fermentação acontece dentro de cinco ou seis dias. O produtor não está com essa paciência para esperar e o cacau não forma o que é necessário para garantir a formação da amêndoa de qualidade”, afirma.
A especialista acrescenta ainda que o trabalho para manter o produtor neste mercado está sendo feito e que a orientação técnica precisa ser feita em massa para que o setor no Brasil alcance bons volumes de produção. “Muitas vezes o produtor quer aproveitar a cotação dia e ele quer aproveitar esse momento de preço, ele não vai querer esperar toda a etapa de fermentação para vender
OS IMPACTOS NEGATIVOS DA ALTA NOS PREÇOS
Ao Notícias Agrícolas, Bruno Lasevicius – presidente da Associação Bean to Bar Brasil, explica que não existe no Brasil a consolidação de um mercado formal para negociação de cacau fino. Nos últimos anos, no entanto, a indústria chocolateira “do grão à barra” têm investido para conseguir matéria-prima de qualidade e garantir que a produção avance. O chocolate “Bean to Bar” é basicamente aquele feito a partir da amêndoa integral do cacau até a barra de chocolate, sem segmentação de processos nem aditivos artificiais de qualquer sorte.
“O mercado de cacau não teve incentivo por pelo menos 20 anos, os preços sempre em um patamar muito baixo e por conta disso, muitos produtores migraram para outras áreas e se mantém o perfil de pequenos produtores no país. O preço era seguro para a grande indústria se manter”, explica.
Durante todos esses anos, essa condição fez com o que produtor se mantivesse na produção do cacau comum, visando sempre as vendas para os grandes nomes do setor, sem pensar em dedicar parte da produção para o cacau fino.
Fonte: Notícias Agrícolas