Da Bahia, maior produtor de cacau no País, para o interior de São Paulo: produtores investem na cultura e partem para conquistar o mercado junto às indústrias de chocolate
Conhecida como a terra da cana-de açúcar e da seringueira, a região do Noroeste Paulista quer ampliar as lavouras, investindo no cacau. As primeiras mudas, inclusive, vieram do estado da Bahia. Técnicos estiveram por lá, se aperfeiçoando sobre a cultura e os produtores daqui investiram nas plantações de cacau.
O setor avança para ganhar mercado e, para conhecer melhor sobre a logística da produção e ampliar os negócios do campo à indústria, especialistas e produtores participam nesta quinta-feira, 24, em Nova Granada, do 2º Dia de Campo do Cacau.
Em uma estação experimental de plantio de cacau, em Nova Granada, onde também se cultiva a seringueira, os agrônomos cultivaram 300 plantas de cacau em diferentes experimentos e técnicas de plantio. A propriedade foi escolhida para o evento, e deve receber 100 convidados.
Em consórcio com a seringueira, produtores escolheram o cacau para diversificar as plantações e futuros negócios. Do fruto que produz a matéria-prima para a fabricação do chocolate, o cacau vem atraindo os produtores paulistas, com novas áreas de plantio.
“A região tem todas as condições de plantio e de mercado, como logística para escoar a produção do cacau e o interesse de indústrias que fazem o processamento da amêndoa”, avalia Andrey Vetorelli Borges, engenheiro agrônomo da Cati-Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Segundo Andrey, é importante o produtor conhecer como se estabelece preços do cacau, uma commodity que tem mercado atrativo em Bolsas de Valores.
Potencial
No evento, Andrey diz que pesquisadores e produtores vão apresentar todo o potencial das lavouras de cacau que foram plantadas em solos da região há mais de dois anos.
Técnicas de plantio com áreas de seringueira e com bananeiras para fazer o sombreamento para o cacau, nos primeiros anos de ciclo das árvores do fruto são algumas das recomendações dadas por Andrey e os agrônomos da Cati, e que vem sendo aperfeiçoadas para adequar o manejo às propriedades da região.
Para o produtor rural Paulo Sader, que abriu a propriedade para o plantio das estações experimentais com o cacau, é uma oportunidade de negócio e de inovação, não apenas em tecnologias de plantio, como em novos empregos para o trabalho com o fruto. “O cacau não é uma cultura comum na região, mas tem muitas condições de agregar valores e de criar nova cadeia produtiva regional”.
Brasil é o sétimo maior produtor
O Brasil é hoje o sétimo maior produtor de cacau do mundo, com produção anual estimada em 250 mil toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda de acordo com os dados do IBGE, os estados do Pará (128,9 mil toneladas) e da Bahia (113 mil toneladas) lideram o ranking de produção da amêndoa por ano.
Além de despontar como uma cultura que ainda tem muito a expandir em território brasileiro, as agroindústrias estão apoiando a produção do cacau nas plantações de propriedades paulistas.
Sustentabilidade
Bruno Cheble Ferreira, gerente de Originação de Cacau e Chocolate da Cargill, participa do encontro em Nova Granada trazendo informações valiosas sobre o mercado.
Ele destaca que existe um grande esforço no campo e no processamento dos grãos até o produto chegar ao consumidor. “Nosso trabalho com os produtores tem sido orientado pela sustentabilidade, e isso a gente alcança com a adoção de melhores práticas agrícolas e o suporte a projetos que visam o fomento de uma cadeia cada vez mais sustentável.” (CC)
Investimento com segurança
Na produção de cacau, o agricultor precisa de investimentos que não são baixos para todo o manejo agrícola, entre insumos e implementos, além de um sistema de irrigação necessário para o desenvolvimento das árvores.
A avaliação sinaliza para investimentos da ordem de R$ 35 mil, por hectare, de cacaueiro plantado. Segundo o engenheiro agrônomo da Cati, Andrey Vetorelli Borges, o cacau é uma cultura de alto investimento, mas que traz segurança financeira ao produtor.
Andrey explica que após a colheita, o produtor faz o beneficiamento dos grãos do cacau, um processo semelhante ao do café, e depois armazena o produto.
“Na orientação técnica, damos todos os passos para a pós-colheita. Como o cacau pode ser armazenado por um tempo maior, acreditamos nesta segurança de comercialização, já que ele pode esperar o melhor preço para vender o produto, sem ter perdas com os grãos”.
Em Tanabi, Marcelo Franzine não desistiu do cultivo de cacau, mesmo depois de a plantação ter sido atingida pela seca e geada, no ano passado. Há dois anos, ele plantou 18 mil pés de árvores de cacau. Hoje, após as adversidades climáticas que castigaram as plantas, Marcelo está fazendo o replantio de novas mudas em 20 hectares de roça.
“Existe um mercado para o cacau ainda a ser explorado aqui em São Paulo, mas eu não tenho dúvida que será um grande mercado, seja para a exportação ou para o consumo de chocolate e derivados. A demanda é grande e as fábricas, muitas instaladas na Bahia, precisam do produto”, diz Marcelo. (CC) fonte: Diario da regiao