QUANDO OS FAZENDEIROS DE CACAU DECIDEM COMEÇAR A FAZER CHOCOLATE

Eles dizem que estamos ficando sem cacau. Títulos chamativos já nos condenaram a uma realidade feia em 2020. Um dos melhores alimentos do mundo está prestes a desaparecer. Os motivos são variados. De doenças a condições climáticas adversas, o medo é servido.
Esta “notícia” assustadora sobre o chocolate vem sendo divulgada nos últimos 5 anos ou mais. De um lado, consumidores assustados. Do outro, especialistas que veem a escassez de cacau como uma ideia tola, ou pior, uma crença enganosa que permitirá que as grandes corporações tenham ações questionáveis no futuro.
Se o cacau está realmente se esgotando ou faz parte de uma grande conspiração, sabemos com certeza: os agricultores estão cansados de cultivar o cacau.
Os fabricantes de chocolate artesanal se orgulham de pagar um preço premium aos seus fornecedores de cacau. Eles querem fazer um bom chocolate, então pagam mais pelos grãos de alta qualidade. Os consumidores também estão felizes, pois sabem que estão contribuindo para melhorar a vida dos produtores de cacau. Parece uma situação ganha-ganha. Mas, infelizmente, o dinheiro não pode comprar amor.
Muitas vezes nos esquecemos do lado humano dos fazendeiros de cacau. Não são máquinas que, quanto mais moedas inserirmos, melhores produtos surgirão. São pessoas com desejos, ambições e sonhos. O dinheiro é apenas uma das muitas forças motrizes em suas vidas.
Os funcionários deixam empregos bem pagos porque eles escolhem a qualidade de vida e a satisfação pessoal como “dinheiro”. Do mesmo modo, o superávit pago pelos fabricantes de chocolate artesanal não torna a agricultura menos fisicamente exigente e mais satisfatória.
Por isso, os fazendeiros de cacau criam negócios mais gratificantes. Eles aspiram mais do que apenas a agricultura. Cansados de dar o seu precioso cacau, eles querem usá-lo para algo que os beneficie a longo prazo. Eles começam a fazer o chocolate.
Vicki Chandler, junto com seu parceiro Jorge Salazar Garcia, dirige a La Iguana Chocolate, uma empresa familiar que agora combina agricultura com chocolate, na Costa Rica.
“Começamos a produzir quando um chocolatier suíço visitante ensinou Jorge a temperar o chocolate e eles começaram a fazer turnês em 2009 para compartilhar nossa jornada. Com o conhecimento, veio a paixão e a certeza de que o cacau poderia ser cultivado de forma orgânica e sustentável. O chocolate poderia ser feito e vendido de uma forma que realmente beneficiava o produtor, mas apenas se removêssemos todas as pessoas no meio. Então o fazendeiro se tornou o fabricante de chocolate. A partir de então, começou a parecer cada vez mais uma ideia de negócio plausível”.
Embora a confecção de chocolate tenha sido uma transição gradual, a Iguana Chocolate obtém maiores lucros vendendo seus próprios produtos finalizados do que com a venda de grãos de cacau.
Menos de 2000 milhas de distância, Nina Chocolates, em San Martín, Peru, faz chocolate usando o cacau de sua própria fazenda, em Chazuta, e de outras fazendas da região. A ideia de fazer chocolate começou por razões práticas.
“Para fins de qualidade, temos um laboratório de cacau. Entre outras atividades, fazemos nosso licor de cacau para provar como foi nossa fermentação. Se não tivéssemos um bom licor, não era apenas por conta da fermentação, mas da colheita. Foi quando começamos a fazer chocolate para mostrar aos agricultores o chocolate de suas árvores e o quanto seus métodos de colheita eram importantes.
Depois de um ano experimentando e melhorando a nossa fermentação para obter grãos de alta qualidade, que também vendemos, tivemos a ideia de fazer uma marca de chocolate. Distribuímos amostras para pessoas bem conhecidas na indústria e eles nos encorajaram”.
A proximidade com a matéria-prima permite que a La Iguana Chocolate e Nina Chocolates mantenham o custo relativamente baixo. Ao contrário dos fabricantes estrangeiros, eles não precisam lidar com o peso da importação.
Ambas as empresas também destacaram outra vantagem. Se o chocolate não ficar bom, eles podem analisar todo o processo e perceber rapidamente onde o problema está e ajustar os procedimentos de colheita e pós-colheita.
No entanto, a gestão de um negócio nas áreas rurais dos países tropicais traz outros problemas. Vicki da La Iguana Chocolate admite:
“Nós temos as ferramentas (muitos engenhos artesanais) que nos permitem assar, rachar, moer, refinar, apertar manteiga e fazer barras de chocolate. No entanto, ainda é uma escala muito pequena e a maioria dos passos são feitos à mão. Não precisamos nos preocupar com o transporte de amêndoas para o outro lado do mundo, mas temos que adquirir refinadores do outro lado do mundo, a grandes custos, se quisermos ampliar”.
Nina Chocolates revela outro aspecto difícil: “Por causa dos regulamentos, leva muito tempo para iniciar formalmente um negócio aqui no Peru. Por exemplo, tivemos que enviar amostras de nosso chocolate para um laboratório até Lima, porque aqui em San Martín não fazem permissões sanitárias. Além disso, toda vez que queremos criar um novo sabor ou adição ao chocolate, temos que obter um número de autorização sanitária para colocar na caixa”.
Até agora, ambas as empresas vendem apenas dentro das fronteiras de seus próprios países. “Nós vendemos o nosso chocolate localmente e enviamos alguns especiais para Lima. Agora queremos abrir o mercado em Lima e vender nossos chocolates nas lojas. Nós planejamos exportar, porque os peruanos não estão acostumados a comer chocolate escuro. Apenas pessoas de Lima estão começando”, diz Nina Chocolates.
“No momento, só vendemos na Costa Rica. Uma das coisas que estamos tentando decidir é o quão grande queremos ser. Nós não queremos vender nosso chocolate por valores maiores do que pagamos pela amêndoa. Queremos encontrar um equilíbrio que deixe nossa consciência tranquila”, revela Vicki, da La Iguana Chocolate.
Muitos fazendeiros de cacau nos países de origem estão desenvolvendo o desejo de fazer seu próprio chocolate. Aproveitando a proximidade com os cacaueiros, eles dão o melhor para lutar contra todas as desvantagens de negócios tão desafiadores. É por isso que muitos deles entram em contato com fabricantes de chocolate e especialistas para ajudá-los a melhorar suas habilidades.
Nos próximos anos, um monte de chocolate artesanal feito diretamente nos países de origem e de propriedade de empresas locais será visto no mercado.
Fonte: www.thechocolatejournalist.com

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