Regulação do cacau perde terreno para empresas estrangeiras por falta de financiamento

O Ghana Cocoa Board (Cocobod), principal regulador do setor de cacau em Gana, está cada vez mais dependente de empresas exportadoras estrangeiras para financiar a compra de grãos. Em meio a problemas de financiamento, o país, segundo maior produtor mundial de cacau, enfrenta um cenário que ameaça sua estabilidade de mercado e a proteção tradicionalmente oferecida aos agricultores.

Modelo Tradicional em Crise

Historicamente, o Cocobod assegurava um empréstimo anual de US$ 1,5 bilhão com bancos internacionais para pré-financiar as compras de cacau e fornecer insumos subsidiados, como fertilizantes e pesticidas, aos produtores. No entanto, dificuldades na obtenção desses fundos estagnaram o processo no início deste ano, obrigando grandes comerciantes internacionais — Cargill Inc., Olam Group Ltd. e Barry Callebaut AG — a intervir.

Sob o novo arranjo, essas empresas fornecem empréstimos diretamente a empresas locais licenciadas de compra (LBCs), autorizadas a adquirir os grãos diretamente dos produtores. Muitas dessas LBCs, porém, pertencem às próprias exportadoras, gerando preocupações sobre concentração de mercado e perda de controle governamental.

“Cargill está apoiando as comunidades produtoras de cacau e injetando liquidez para acelerar as compras”, disse um porta-voz da empresa. Já Barry Callebaut e Olam não se pronunciaram.

Impactos e Preocupações

Embora o Cocobod afirme que a nova abordagem reduz a dependência de empréstimos internacionais e mantém o suporte aos agricultores, especialistas alertam que o modelo pode enfraquecer a supervisão estatal no mercado.

“O sistema pode funcionar agora porque os preços estão altos e os estoques baixos. Mas se a produção aumentar e a demanda cair, os agricultores correm o risco de ficar presos com os grãos, e o Cocobod não terá recursos para intervir”, alertou uma fonte do setor.

Pressão Sobre Produção e Agricultura

Gana projeta uma queda de 20% na produção de cacau nesta temporada, estimada em apenas 650 mil toneladas, resultado de safras consecutivas ruins e condições climáticas adversas. O cenário se agrava com a fraqueza na produção da vizinha Costa do Marfim, impulsionando os preços futuros do cacau a níveis recordes em Nova Iorque.

A crise tem impacto direto nos compradores locais. Segundo Victus Dzah, secretário executivo da Associação de Compradores Licenciados de Cacau de Gana, o número de empresas ativas caiu drasticamente: apenas 20 das 62 registradas permanecem operando, sendo que cinco grandes empresas estrangeiras já controlam mais de 60% do mercado. Dzah também criticou o atraso nos reembolsos por parte do Cocobod, o que restringe a atuação dos intermediários locais.

Outro ponto crítico é a falta de insumos essenciais. Sem o financiamento inicial garantido, o Cocobod não consegue subsidiar pesticidas e fertilizantes a tempo, o que pode comprometer ainda mais a produtividade dos agricultores.

O Futuro do Setor

O economista Godfred Bokpin, da Escola de Negócios da Universidade de Gana, alerta para o risco sistêmico que o modelo representa:
“A posição do Cocobod como âncora de estabilidade e proteção para os agricultores está ameaçada, à medida que o controle passa para grandes compradores estrangeiros.”

Perspectiva

A dependência crescente de empresas internacionais revela não apenas a fragilidade financeira do Cocobod, mas também o risco de perda de autonomia no segundo maior mercado de cacau do mundo. Com agricultores enfrentando custos elevados e sem acesso a insumos, o futuro do setor pode depender de um reequilíbrio financeiro que preserve o papel regulador e proteja os produtores contra as oscilações do mercado global.

Fonte: mercadodocacau

 

*com informações bne

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