Por Cristina Cais
Gestores investem em treinamentos de 200 técnicos, que devem envolver 400 produtores rurais na produção de cacau em solo paulista; Rio Preto terá a primeira unidade de pesquisa de cacau no estado
São Paulo tem cacau. Este é o projeto de gestores públicos e da iniciativa particular que impulsiona o plantio de cacau em solo paulista, desde que a cultura se tornou uma política pública em 2021. A ideia é trazer as tecnologias do berço do cacau brasileiro – que tem a Bahia como o estado que mais produz a fonte para o chocolate, guloseima tão apreciada pelos consumidores – para os agricultores paulistas.
Durante esta semana, uma reunião definiu os primeiros passos para a aquisição de uma área, em Rio Preto, que deverá se tornar a primeira unidade de pesquisa com clones de cacau no estado de São Paulo. Segundo Ricardo Pereira, diretor da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Rio Preto, a discussão foi acompanhada ainda por integrantes da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp).
E para que o projeto, denominado Cacau SP, tome ainda rumos maiores e ofereça todas as técnicas para o plantio das árvores, Ricardo explica que mais um avanço está na instalação da unidade de pesquisa de clones de cacau em solo rio-pretense. “É importante termos a pesquisa de melhoramento genético do cacau, já que hoje temos que trazer as mudas da Bahia”.
Expansão do cacau
Ricardo diz ainda que o acordo de cooperação entre o setor público – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Ceplac (órgão do governo federal) e Prefeitura de Rio Preto – e a iniciativa privada (Acirp e Fundação Cargill) tem sido importante para a expansão do cacau no interior paulista. “A nossa meta é impulsionar a produção de cacau, difundindo conhecimento e tecnologia para os produtores rurais, gerando renda e emprego com a cultura”, afirma.
Ele destaca ainda que no próximo dia 8 de agosto viaja para o estado da Bahia para conhecer plantações de cacau em consórcio com a cultura de mogno-africano. “É mais uma opção para a produção de cacau, que já vem sendo cultivada na região, consorciada com seringueiras e bananeiras”, conta Ricardo.
Para o engenheiro agrônomo da Cati de Rio Preto, Andrey Vetorelli Borges, a produção de cacau é uma aposta bem fundamentada para a região de Rio Preto, que já possui unidades de experimento de cacau, e de produtores que investiram na cultura. “Agora, com a unidade de pesquisa em Rio Preto, pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) de Registro, que já possuem coleção de sementes de cacau, vão contribuir com o melhoramento genético destes clones”, explica Andrey que é um dos coordenadores do projeto.
Processamento e mudas
André considera ainda importante o treinamento de técnicos da Cati para incentivar com mais força os produtores na diversificação de culturas, como a do cacau. “Com a unidade para a produção de clones em Rio Preto vamos ter bom material genético. E, além disso, contamos com as pesquisas e a orientação do Ceplac, um centro de inovação de tecnologias da cultura do cacau”.
No mês de maio André participou de uma reunião em Ilhéus, na Bahia, para regularizar a produção de mudas de cacau em Rio Preto. O diretor da Acirp, que também é viveirista, trouxe as mudas de cacau do estado baiano para os produtores interessados no cultivo da planta. “No entanto, devemos ter mudas formadas apenas daqui a dois anos”, ressalva.
O Brasil ocupa hoje o sexto lugar na produção mundial de cacau, segundo a International Cocoa Organization (ICCO). Conforme o Censo Agropecuário de 2017 existem mais de 93 mil estabelecimentos produtores de cacau no País. Eles estão concentrados na Bahia e no Pará, que juntos representam 96% da produção nacional. (CC)
Produtores animados
O produtor rural Luiz Milani não imaginava que iria realizar o sonho de plantar cacau no sítio em José Bonifácio. Em uma viagem a Brasília, no Distrito Federal, há mais de 25 anos, ele se encantou com uma plantação de cacau. “Eu vi aquela plantação, em consórcio com a mamona e o feijão andu, e fiquei com aquilo na cabeça. Mas não tinha conhecimento de como plantar o cacau”, lembra o produtor.
A partir da orientação dos agrônomos da Cati, Luiz plantou 1 mil pés de cacau há dois anos e acredita que, nesta primeira colheita, deve ter o fruto pronto para o beneficiamento nos próximos três anos. “A planta é bastante frágil, mas se adaptou bem depois que fiz uma irrigação em cada árvore, com a utilização apenas de adubo orgânico. Nada de produto químico”. Luiz fez o plantio do cacau junto com 2 mil pés de banana.
Norival Puglieri é outro produtor bastante animado com a produção de cacau no Noroeste Paulista. Ele cultiva sete hectares de cacau em consórcio com as plantações de seringueira e de bananeira. “Ainda é muito recente o plantio do cacau, mas estou na torcida para que o projeto que acompanho, da Cati, dê resultados positivos por aqui”.
Outra aposta de Norival é para que a produção de cacau, quando estiver em fase de colheita em toda a região, possa ter uma cooperativa regional a exemplo de outras cidades, para manter o processamento ou beneficiamento das amêndoas de cacau. “Temos também informações de que a indústria Cargill possa vir se instalar na nossa região”, destaca o produtor. (CC)
Fonte: Diário da Região