Seca causada pelo El Niño derruba a área de produção de cacau na Bahia
A prolongada estiagem que afeta regiões produtoras de cacau da Bahia, causada pelo fenômeno climático El Niño, não só comprometeu o rendimento de muitas lavouras como já inviabilizou a produção em algumas áreas do Estado no médio prazo.
Em uma avaliação divulgada ontem, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) estimou que a área com o cultivo da amêndoa encolheu 13,9% desde o início da seca, em setembro de 2015, por conta de queimadas e do estresse hídrico.
O último levantamento realizado sobre o cultivo de cacau na Bahia foi feito pelo IBGE em 2014. O instituto indicava, então, que havia uma área plantada de 547 mil hectares. Conforme a Ceplac, se esse cálculo estiver correto e a área não tiver mudado em 2015, a Bahia pode ter perdido 76 mil hectares cultivados com a estiagem.
Dessa forma, as lavouras no Estado se estenderiam atualmente por cerca de 470 mil hectares, a menor área de cultivo do cacau na Bahia desde o início da série histórica do IBGE, em 1990. “Tivemos muitas queimadas no período seco e muita planta foi morta, principalmente em solos mais rasos. Isso favorece novas quedas de safra nos próximos anos”, afirmou Sérgio Murilo, diretor da Ceplac.
As estatísticas do IBGE, entretanto, são questionadas por produtores e pela indústria. Para uma nova avaliação dessa área, a Ceplac está realizando um levantamento próprio que deverá ser divulgado ainda neste ano.
Milton Andrade, cacauicultor e presidente do sindicato rural de Ilhéus, é um dos que questionam a projeção da Ceplac. Segundo ele, as plantas que secaram ainda poderão rebrotar. “As áreas mais comprometidas vão ter uma recuperação mais lenta, de dois a três anos. Mas as áreas perdidas não chegam a 10%”.
Para Andrade, se houver uma distribuição regular de chuvas nos próximos três meses será possível uma “boa safra principal de cacau”, cuja colheita ocorrerá de outubro deste ano a março de 2017.
No curto prazo, porém, os prejuízos já começam a ser contabilizados. Faltando pouco tempo para o início da colheita da safra temporã do ciclo 2016/17, a Ceplac estima que os produtores baianos colherão 25% menos que na safra temporã de 2015/16.
A comissão não tem um levantamento do quanto foi colhido na última safra temporã, mas o analista Thomas Hartmann, da TH Consultoria, em Salvador, calcula que o volume tenha ficado em 1,6 milhão de sacas. Suas projeções para esta temporada são mais pessimistas. Para ele, o próximo período de colheita, que vai até o mês de setembro, renderá entre 700 mil e 800 mil sacas.
Na região produtora de Ilhéus, onde os solos são mais rasos, as perdas ficarão em aproximadamente 90%, estima o presidente do sindicato rural do município.
A estiagem foi intensa justamente no período de formação das flores do cacau temporão, entre setembro e dezembro de 2015. Segundo Hartmann, menos flores foram formadas e, dos frutos gerados, muitos não se desenvolveram, secaram e caíram antes do tempo.
A quebra de safra deve se somar aos baixos resultados registrados na colheita da safra principal da temporada 2015/16 na Bahia, praticamente encerrada. De acordo com Hartmann, os dados de entregas de cacau às indústrias sugerem que a produção deve ficar em 800 mil sacas.
A redução da oferta baiana de cacau já se refletiu em aumento das importações por parte da indústria neste ano. Entre janeiro e fevereiro, o volume importado ficou em 5 mil toneladas, 65% a mais do que no mesmo período do ano passado, conforme dados do Ministério da Agricultura. Fonte: Valor