O rastreamento do cacau na Costa do Marfim e em Gana, dois dos maiores produtores globais, não apresentou avanços significativos no último ano, conforme aponta um relatório recente apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Este resultado levanta preocupações sobre a capacidade desses países de atender às exigências de uma nova lei da União Europeia (UE), que visa proibir a importação de produtos agrícolas associados ao desmatamento.
A partir do próximo ano, a nova regulamentação da UE exigirá que os importadores de commodities e bens relacionados comprovem que seus produtos não foram cultivados em áreas desmatadas. Entre as obrigações, destaca-se o rastreamento das cadeias de suprimentos, que deverá fornecer informações detalhadas sobre a origem das matérias-primas.
Embora seja um avanço no combate ao desmatamento, o relatório aponta desafios que os produtores africanos terão que enfrentar. Atualmente, uma fração considerável do cacau produzido nesses países não pode ser rastreada até sua origem exata, dificultando a verificação do cumprimento dos requisitos da UE. A falta de rastreabilidade eficiente significa que uma parte da produção poderá ser excluída do mercado europeu, com potencial impacto econômico significativo para agricultores locais.
Desafios e Impactos
A Costa do Marfim e Gana são responsáveis por cerca de 60% da produção mundial de cacau, mas têm enfrentado dificuldades para garantir práticas sustentáveis e rastreabilidade completa. A nova legislação europeia, embora vise promover a sustentabilidade, impõe desafios consideráveis para produtores locais, muitos dos quais operam em pequena escala e têm acesso limitado a tecnologia e recursos para implementar sistemas de rastreamento eficientes.
Essa situação levanta uma questão crucial: como equilibrar a demanda por práticas mais sustentáveis sem comprometer os meios de subsistência dos agricultores que dependem da produção de cacau? Para muitos desses agricultores, a adaptação às novas exigências pode representar um custo significativo, para o qual eles não estão preparados.
O Caminho Adiante
Uma solução viável pode envolver parcerias entre governos, empresas compradoras e organizações internacionais para fornecer suporte técnico e financeiro aos pequenos produtores. Investimentos em tecnologias de rastreamento e em programas de capacitação poderiam ajudar a tornar a cadeia de fornecimento de cacau mais transparente e sustentável, possibilitando o cumprimento das novas normas.
O relatório da ONU também sugere que compradores e governos europeus colaborem diretamente com os produtores para garantir que a transição seja justa e que os benefícios do comércio sustentável cheguem a quem mais precisa — os agricultores de base.
À medida que a data de implementação da nova legislação se aproxima, o setor do cacau na África Ocidental encontra-se em um ponto de inflexão. A maneira como a Costa do Marfim e Gana enfrentarão esses desafios poderá definir o futuro da produção de cacau na região e seu acesso aos lucrativos mercados europeus.
Fonte: mercadodocacau com informações Reuters