Com expansão territorial e demanda crescente, país africano quer firmar posição entre os grandes do mercado global
Enquanto os olhos do mundo do cacau seguem voltados para a África Ocidental, uma nova força começa a emergir no leste do continente. Uganda, tradicionalmente associada ao café, está projetando um crescimento robusto de 29% na produção de cacau para este ano, alcançando a marca de 45 mil toneladas — contra as 35 mil registradas em 2024.
O avanço é resultado direto de uma estratégia nacional de diversificação agrícola e investimento em novas áreas de cultivo. Segundo o comissário de produção agrícola do Ministério da Agricultura, Indústria Animal e Pesca (MAAIF), Alex Lwakuba, o governo ampliou significativamente a distribuição gratuita de mudas e estendeu a produção de cacau para regiões antes não exploradas, como o noroeste e o leste do país.
Produção com valor agregado: o diferencial orgânico
O que diferencia Uganda de outros países produtores é a sua proposta de valor: cacau 100% orgânico. Sem o uso de pesticidas ou insumos sintéticos, a produção ugandense tem atraído compradores que buscam um produto mais natural, rastreável e alinhado a exigências ambientais e de saúde do consumidor moderno.
“Nosso cacau é natural desde a origem. Essa é a nossa identidade. E o mercado está reconhecendo isso”, afirma o comissário.
O apelo orgânico ganha força especialmente em meio a regulações ambientais mais rigorosas na Europa e à crescente preferência por produtos sustentáveis em mercados premium de chocolate. O modelo de produção ugandense contrasta com o de grandes players como a Costa do Marfim — onde, por necessidade de escala, o uso de pesticidas e fungicidas é comum em dois ciclos anuais para garantir produtividade e qualidade dos grãos.
Embora ainda esteja longe dos gigantes do setor — como a Costa do Marfim, que projeta exportações de 1,3 milhão de toneladas em 2025/26 — Uganda sinaliza que pode desempenhar um papel estratégico em nichos de mercado de alto valor agregado. E, ao contrário de iniciativas industriais baseadas em volume, o país africano aposta na qualidade, na rastreabilidade e na diferenciação.
Além disso, com o aumento dos preços internacionais do cacau e os desafios logísticos enfrentados por outros produtores, Uganda surge como uma alternativa viável e competitiva, especialmente em tempos de transição para cadeias mais sustentáveis.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters