Com mercado de soja em baixa, a Schmidt Agrícola, uma das pioneiras na produção no Oeste da Bahia, foca investimentos no fruto que valoriza sem parar no mercado global e planeja 2 mil hectares até 2026, com parcerias com grupos como a Cargill
Até 2026, o grupo pretende investir R$270 milhões e ampliar em 2 mil hectares o cultivo consorciado entre as duas frutas.
O movimento é incomum para uma empresa que foi uma das pioneiras e se tornou referência na produção de grãos no Oeste da Bahia e no chamado Matopiba. Fundada em 1979 na região de Barreiras (BA) por Paulo Ambrósio Schmidt e a esposa Helena Almeida Schmidt, a empresa tem como carro-chefe a produção de soja, milho, feijão e algodão em 35 mil hectares na Bahia e Tocantins.
O cacau chegou aos negócios do grupo familiar em 2018, quando as primeiras áreas começaram a ser cultivadas ainda em estágio experimental – e agora mostra que tem tudo para se consolidar entre os negócios da família.
Em 2022 eram apenas 50 hectares cultivados a pleno sol, área que já chegou a 400 hectares. Um dos parceiros nessa expansão é a Cargill, por meio do projeto Cocoa Farming na propriedade de Riachão das Neves (BA), no Cerrado Baiano.
Em um prazo de cinco anos, cada empresa deverá investir US$ 5 milhões dentro da área inserida no projeto, que corresponde a uma fração dos planos da Schmidt. Os investimentos incluem o desenvolvimento de novas tecnologias, manejos, treinamentos e inovação.
A razão para essa expansão dos investimentos na cacauicultura tem a ver não só com as cotações recordes do cacau na bolsa, que chegaram ao valor recorde US$ 11.040 no final do ano passado, mas também com a expectativa de crescimento desse mercado para os próximos anos.
“A recuperação da produção na África não será algo simples, tampouco a implementação de novas áreas. No Brasil, temos potencial para produzir volume suficiente para compensar essas perdas”, explica Schmidt, que é o diretor de relações institucionais da companhia e faz parte da segunda geração da família à frente dos negócios.
Segundo dados do International Cocoa Organization (ICCO), entidade que acompanha a cadeia do cacau em todo o mundo, a produção de cacau no continente africano registrou um déficit de 486 mil toneladas na safra 2023/2024 em relação à temporada 2021/2022.
“Esse volume é duas vezes a safra brasileira. Mas com investimentos, o Brasil teria condições de produzir esse volume em 200 mil hectares de lavouras com alta tecnologia”, calcula.
Ele revela ainda que somente na América do Norte existe uma demanda adicional reprimida, da ordem de 440 mil toneladas. “Por conta de todos esses elementos, nós acreditamos que o preço internacional do cacau ainda vá ultrapassar os US$ 15 mil”, prevê.
Schmidt conta que as primeiras áreas cultivadas com cacau surpreenderam com produção precoce, por volta de um ano e meio depois do plantio. Geralmente, um pé de cacau começa a dar os primeiros frutos a partir do terceiro ano.
“Isso é resultado do trabalho de manejo e também da tecnologia que temos implementado nos nossos cultivos”, explica.
Enquanto a produtividade média por hectare no Brasil é de 300 quilos, nas áreas do grupo a produtividade média está em 250 arrobas (algo em torno de 3,75 toneldas) por hectare a partir dos três anos e meio da planta.
As áreas de cacau da Schmidt se beneficiam não só do clima da região, bastante propício ao cultivo, mas também do fato de 100% das áreas serem irrigadas. Além disso, o cacau abarca toda a expertise que o grupo tem no mercado de grãos e na gestão de grandes projetos.
Um exemplo disso é a mecanização das operações do cacau, algo ainda raro de se ver no setor. “Transferimos toda a nossa expertise em gestão e tecnologia aprimorada no mercado de grãos para as áreas de cacau. Para atender à demanda global, será fundamental para o setor pensar na expansão do cacau no Brasil em grandes áreas”, pondera.
Com as boas perspectivas do mercado para os próximos anos, Schmidt não descarta a possibilidade de firmar parcerias com outros investidores, podendo até quintuplicar os investimentos e chegar a R$ 1 bilhão aportados na produção.
“Temos um plano desenhado para isso, mas seria em um segundo momento, com a confirmação das boas perspectivas do setor e a construção de novas parcerias”, pondera.
Logo que começou os primeiros investimentos no cacau, há sete anos, Schmidt conta que uma das primeiras dificuldades encontradas foi o acesso às mudas para o plantio. Ao identificar esse gargalo, o grupo decidiu agir.
Assim, em 2020 nascia a Biobrasil Mudas, empresa localizada em Riachão das Neves (BA) cujo foco é a produção de mudas de cacau para abastecer as áreas de cultivo do grupo e também de outros produtores da região.
É dos viveiros da companhia, inclusive, que sairão as mudas para a ampliação das áreas de cacau. “Já estamos preparados para começar a escalar essas áreas”, revela Schmidt.
O roteiro é semelhante ao de outro grande grupo agrícola instalado na região, o Santa Colomba, que também mantém um projeto de implantação de grandes pomares irrigados de cacaueiros e tem investido no desenvolvimento inclusive de máquinas próprias para a automação do trabalho com a cultura. A intenção do Santa Colomba é atingir 5 mil hectares de lavouras de cacau e se transformar em uma “Cutrale do cacau”, segundo disse o CEO do grupo, Miguel Prado.
Incerteza na soja
O cenário de incertezas no mercado de grãos também contribuiu para que o grupo voltasse os olhos para o cacau. Segundo Schmidt, a demanda internacional por soja segue estável há três anos e os preços não estão se sustentando, desencorajando novos investimentos.
Por isso, para 2025, o grupo deve ampliar apenas a área cultivada com soja no Tocantins, atualmente em 3.500 hectares, que deve dobrar de tamanho e chegar a 7 mil hectares. Segundo Schmidt, a ampliação já estava prevista. “Para as demais regiões, iremos apenas manter o que temos, por conta do cenário de baixa”.
O atual cenário com conflitos entre Rússia e Ucrânia e a expectativa quanto à política de mercado que será adotada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, também desestimulam.
Ele avalia que caso os Estados Unidos imponham sanções comerciais à China, o cenário pode mudar.
“Aí os chineses precisariam buscar novos parceiros para comprar mais soja e naturalmente olhariam para a América do Sul. Nesse cenário,teríamos melhora dos preços e dos prêmios pagos”, pondera.
Na safra 2024/2025, a produtividade média das áreas de grãos da Schmidt Agrícola deve ser de 66,8 sacas por hectare, em linha com a média do estado. A expectativa é de que a Bahia atinja novo recorde de produção de soja na temporada.
Fonte: agfeed.com.br
1 Comment
Vão ter que criar robôs para colher esse cacau todo!
Não temos mão de obra suficiente, em lugar nenhum!