71% das mulheres do agro já se sentiram discriminadas pelo gênero, aponta estudo

Uma pesquisa inédita com 301 mulheres do agronegócio com perfil atuante no setor, sejam gestoras de fazendas ou de empresas agropecuárias, aponta que 71% delas já sentiram o machismo na lida rural. Entre as principais queixas estão não serem levadas a sério pelos seus funcionários (43%), resistência da família ao se interessar pelo negócio (41%), dificuldade em ter um relacionamento estável por ser trabalhadora (24%) e até a solidão em um ambiente majoritariamente masculino (27%). O estudo feito pela Fran6 Pesquisa em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) foi divulgado nesta terça-feira (25/10) no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio.

Além disso, 67% das mulheres do agro não sentem que o espaço dado a elas é igual ao dos homens. Elas também foram unanimes em afirmar que homens não precisam se reafirmar no seu trabalho, ao contrário das mulheres. “O mundo ainda desconhece a capacidade da mulher e temos que deixar isso mais claro”, disse a pesquisadora Adélia Franciscini.

Outro destaque da pesquisa é que 88% das entrevistadas são independentes financeiramente, com 14% delas contribuindo mais em casa que o parceiro. “Isso ajuda a mulher a ter voz em casa e no trabalho”, complementou a pesquisadora.

Como conclusões, a pesquisa apontou que a mulher do agro hoje é bem diferente do passado, ou seja, busca seu espaço, procura se profissionalizar e tem uma visão holística do campo. Mas ainda há grandes batalhas pela frente: segundo o último censo agropecuário do IBGE, de 2006, apenas 1 em cada 10 das pessoas que trabalham no agronegócio é mulher. “São mulheres antenadas e competentes, e a tendência é que elas sejam mais presentes e se tornem peças fundamentais para mudar o setor”, finalizou Franciscini.

Sentindo na pele
Após a apresentação dos resultados, as mulheres presentes discutiam os dados da pesquisa. A agrônoma e presidente da Associação Regional dos Engenheiros Agrônomos de Cascavel, Andréa Mörschbächer, afirmou que o estudo é um reflexo do que acontece em seu dia a dia. “Nós vivemos em um mundo machista. São vários os exemplos de atitudes machistas, e não só no Brasil”, cravou.

A opinião foi endossada pela agricultora Noemia, uma das associadas da cooperativa Comigo, que trouxe mais de 40 cooperadas para o congresso. “Essa discriminação faz parte da cultura do país”.

A cafeicultora Nara Vilas Boas, de Botelho (MG), sente isso dentro de casa. Herdou a fazenda do avô, que depois passou para a mãe. O único irmão vendeu sua parte e ela toca, com ajuda de funcionários e administradores, a propriedade de 200 hectares do grão tipo arábica. “Houve resistência, até hoje na família há discriminação. A pesquisa mostrou isso, o que a gente vê no campo. Mas hoje é bem mais leve que antes, deu uma aliviada, mas ainda existe”. Ela tem duas filhas e um filho, e lamenta que apenas ele se interesse em dar continuidade na atividade. Fonte: Globo Rural

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