Chocolate de verdade: Essa expressão me deixa incomodada, confesso. Vou explicar o por quê.
Um alimento tecnicamente é “de verdade” quando ele corresponde ao seu conceito oficial encontrado na legislação de seu país.
Logo, quando escuto que um chocolate bean to bar é um chocolate “de verdade”, sim isto é real…mas muitos outros são, desde que estejam dentro da normativa da Anvisa. Então, prefiro outro tipo de abordagem, para que o assunto flua de modo muito mais leve, com foco na Educação do Consumo e do Paladar para Derivados de Cacau e Chocolates Bean to Bar e Tree to Bar.
Realizo muitos eventos para degustá-los, pois acredito que meu papel seja a promoção destes produtos brasileiros e educação através de experiências. Nessas ocasiões falo sempre o que é chocolate, o que é guloseima a partir de chocolate, e claro, explico o que são os chocolates tree to bar e bean to bar. Neste ponto da conversa sempre friso o que são estas duas categorias e o que os difere dos demais.
Acompanhem aqui um Glossário sobre Chocolate, que estruturei para facilitar nossa conversa:
Chocolate de “verdade” na minha opinião poderia ser substituído por “Chocolate com propósito e com história”, e os bean to bar e tree to bar, se enquadram aqui. Veja bem, quantas marcas bean to bar você conhece que mostram a origem de seu cacau, muitas vezes com coordenadas geográficas, ou ainda com nome do produtor e de sua fazenda. Em muitas situações apresentam no painel principal do rótulo o ano da safra do cacau de origem, e isso para mim é declarar “a que veio” e de onde vem este produto. Se você comparar com chocolate produzido com cacau commodity, isso não ocorre, pois pela demanda altíssima de produção é inviável declarar de onde saiu exatamente cada barra de chocolate.
De modo geral quando o Chocolate tem propósito e história, ele é apresentado por pessoas que conduzem as marcas. É bem provável saber quem são os responsáveis por uma marca tree to bar ou bean to bar. Aliás, a humanização das marcas, vai além das redes sociais. Se você frequentar um evento ou feira de bean to bar, salvo algumas exceções, quem vai estar lá são os responsáveis. Se você escutar uma entrevista sobre a marca ou até mesmo visitar uma produção tree to bar e bean to bar, muito provavelmente vai se deparar com as mesmas pessoas, que conduzem desde a seleção das amêndoas de cacau, como a produção e todos demais processos. E mais…
Estas pessoas frequentemente contam suas trajetórias no mundo do cacau e chocolate. É bem difícil não saber que o percurso de uma empresa bean to bar ou tree to bar é um caminho complexo, que perpassa a vida pessoal de famílias inteiras envolvidas na produção. Eles compartilham suas inspirações, insights, desafios, celebrações…e isso aproxima “de verdade” o cliente final de quem produz.
Atenção: uma empresa Tree to Bar e Bean to bar pode ter equipe envolvida sim, mas os responsáveis estão ali, tomando decisões essenciais a todo instante. Aliás, é muito comum estas mesmas pessoas serem as mesmas dedicadas ao marketing, comercial, redes sociais, financeiro, estratégico, homologação de fornecedores, desenvolvimento e todas outras atividades da empresa.
Bom, dito tudo isto, penso que quando nos deparamos com estas informações, a decisão de escolher um o outro chocolate, flui com mais naturalidade. O consumidor que valoriza storytelling, sensorial, sustentabilidade, empreendedorismo e transparência na produção provavelmente vai escolher esta barra bean to bar ou tree to bar. O processo de escolha e de compra muitas vezes passa pela experiência com a marca, pela afinidade com os propósitos, com o design de embalagem e lógico, com o produto em si.
Quanto a valor, bom aqui vai outra ponderação. Preço e valor são dois elementos distintos. Nem sempre o preço mais elevado no ponto de venda, remete a um produto com valor. No mundo bean to bar e tree to bar, leia-se VALOR como a soma de pelo menos estes elementos que já falei antes:
Isto é tudo? Não, temos muito mais assunto por aqui. No entanto, após consolidar todos esses dados, fatos, insights e comentários, finalizo este texto com o objetivo de provocar discussão, logo, quero ouvir você:
Você já provou um chocolate de verdade? ops, reescrevo…
Você já conheceu chocolates que tenham propósito e história?
Fonte: Juliana Ustra no chocolate no Brasil