Advogada larga carreira para abrir sua própria fábrica de chocolate

Depois de quase dez anos se dedicando à advocacia, Michelle Kallas largou tudo para produzir chocolates artesanais – e encontrou seu bilhete dourado.

Ao leite, com castanhas, meio amargo… atire o primeiro brigadeiro quem nunca quis encontrar o bilhete dourado para conhecer a fábrica de chocolate de Willy Wonka ao som da canção “Pure Imagination”, na voz do ator Gene Wilder.

A verdade é que os brasileiros são chocólatras convictos. São 2,6 kg por habitante a cada ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Isso dá 200 bombons Alpino. É até pouco perto dos suíços (9 kg por habitante), mas o suficiente para fazer do Brasil o nono maior consumidor per capita do planeta. Além disso, o país é o quinto colocado em volume de vendas de chocolate no varejo. Em 2019, o volume de produção foi de 756 mil toneladas, que geraram um faturamento de R$ 14 bilhões.

O amor pelo chocolate fez a paulistana Michelle Kallas, de 35 anos, largar uma carreira já consolidada para virar chocolatier. “Sou chocólatra desde pequena. Meu pai gosta muito de chocolate, e sempre come um docinho depois do jantar. Lá em casa, a gente tinha um armário de guloseimas.” Mas a influência do pai, advogado, não foi só no gosto pelos doces. “Quando eu era criança, ficava ouvindo o quanto era maravilhoso ser advogado, que era uma profissão linda. Para você ter ideia do poder de persuasão dele, eu e minha irmã nos formamos em Direito; e, quando entramos na faculdade, minha mãe, que é psicóloga, decidiu estudar Direito também.”

O entusiasmo pela carreira diminuiu assim que ela começou a frequentar as aulas na PUC-SP. Ao contrário do que imaginava, o curso não tinha nada a ver com ela. Mesmo assim, Michelle se adaptou bem ao ambiente universitário e fez grandes amigos. “Eu me encontrei dentro da faculdade. Conheci pessoas maravilhosas. Então eu meio que estava ignorando a parte de não gostar das aulas.” Michelle seguiu no curso. Mas logo viu que não tinha sido a melhor escolha. Ela desenvolveu uma compulsão alimentar e engordou 15 quilos ao longo da faculdade. “Estava muito tensa. Não queria lidar com a ideia de sair, porque as pessoas eram muito legais. Eu estava comendo os meus sentimentos para não ter que confrontá-los.”

No segundo ano, ela conseguiu uma vaga de estágio em um grande escritório de advocacia, e aí entendeu de vez que dificilmente seria feliz na profissão. “Então fui falar com o meu pai. Dizer que achava que eu não combinava com o Direito. Foi uma conversa difícil. Ele ficou chateado, mas me orientou a terminar a faculdade. Disse que, com o dinheiro que ganharia como advogada, poderia estudar outra coisa”, relembra.

Michelle terminou o curso. E até encontrou uma área de que gostava: a de propriedade intelectual. “Comecei a estagiar em um escritório que trabalhava com direitos autorais. A gente atendia muitos artistas. Me encantei com aquele mundo, e coloquei na cabeça que era aquilo que eu queria fazer.” O problema é que ela nunca se encontrou de fato.

Depois de dois anos de formada, Michelle voltou a ficar inquieta com o trabalho. Foi quando começou o momento de peregrinação: ela trocou o escritório de direitos autorais por um que trabalhava com marcas e fez uma pós-graduação em propriedade intelectual. Passou pela área jurídica da Mondeléz, trabalhou com algumas agências de publicidade na parte de branding e voltou para os escritórios de advocacia. “Eu ficava pulando de emprego toda hora. Em 2016, depois que eu me casei, bateu um vazio muito grande. Percebi que não pertencia àquela profissão.”

Depois de dois anos de formada, Michelle voltou a ficar inquieta com o trabalho. Foi quando começou o momento de peregrinação: ela trocou o escritório de direitos autorais por um que trabalhava com marcas e fez uma pós-graduação em propriedade intelectual. Passou pela área jurídica da Mondeléz, trabalhou com algumas agências de publicidade na parte de branding e voltou para os escritórios de advocacia. “Eu ficava pulando de emprego toda hora. Em 2016, depois que eu me casei, bateu um vazio muito grande. Percebi que não pertencia àquela profissão.”

No início de 2018, Michelle tirou férias e foi para Las Vegas fazer um curso avançado de chocolate artístico com Melissa Coppel, uma premiada chocolatier americana. Durante as aulas, a advogada dividiu a cozinha com chefs renomados e responsáveis por restaurantes listados no Guia Michelin. “Eu era a única amadora lá, então às vezes fazia umas perguntas básicas e os outros me olhavam com uma cara estranha [risos].” Mas a experiência foi o pontapé que fez Michelle tomar sua grande decisão, aos 33 anos: largar o emprego e abrir um ateliê de chocolates.

A fantástica fábrica
Como o objetivo era trabalhar sozinha no início da nova empresa, ela optou por não ter uma loja física, para não precisar lidar com o atendimento de clientes no primeiro momento. Michelle então alugou uma sala em um prédio comercial na Vila Madalena (São Paulo), reformou e montou sua minifábrica de chocolate ali. Em outubro de 2018, a Mica Crafted Chocolates começava suas operações.

A rotina era intensa, e estava deixando Michelle cansada. Pelo menos, era isso que ela achava. “Comecei a sentir um sono incontrolável no meio do dia, e até parava tudo para ir dormir no carro. Ficava pensando: ‘acabei de pedir demissão, estou começando um negócio do zero e estou indo dormir no carro no meio da tarde. Que vergonha de mim!’”. Foi quando veio a surpresa: ela estava grávida de 14 semanas. “Meu mundo caiu. Eu só pensava que estava sem emprego fixo, sem licença-maternidade e com um negócio que precisava de total dedicação.”

Desistir não era uma opção. “O negócio tinha de continuar. A gente estava indo bem, os clientes elogiavam.” No oitavo mês de gravidez, ela contratou uma estagiária para ajudar na produção. Michelle trabalhou até a véspera do parto – até porque a filha Manuela deu de nascer na época da Páscoa, a mais movimentada para quem trabalha com chocolate. “Eu estava com uma barriga enorme e a estagiária morria de medo de a Manu nascer ali mesmo. Ela ficava assistindo vídeo no YouTube de como fazer parto de emergência [risos].”

Agora, a pequena fábrica de chocolates artesanais deu uma crescidinha. Já tem três funcionárias, e chega a produzir 7 mil bombons e barras de chocolate por dia. No período de Páscoa os números sobem: neste ano, sete pessoas produziram 5 mil ovos, de vários tamanhos e recheios. “Na quarentena, a gente pôde desenvolver melhor o delivery. A ideia é começar a entregar para o Brasil todo.” Com o crescimento da demanda, o ateliê ficou pequeno. Michelle precisou alugar mais uma sala, e agora se prepara para o passo seguinte: abrir uma loja física. E o pai advogado? “Ele aceitou a minha nova carreira. Está superfeliz porque sabe que me encontrei e que estou realizada. E ai de mim se não levar um chocolate quando vou visitar.” Fonte: Você S/A

Curtiu esse post? Compartilhe com os amigos!

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *