BA: Costa do Cacau tem turismo rural, aventura e belas paisagens

Fora dos clichês que você provavelmente imagina ao viajar para a Bahia (diga-se: praias paradisíacas e comida regional com bastante dendê) está a Costa do Cacau, no sul do estado. As belas paisagens também estão por ali, mas conhecer a rica região é sair do óbvio e se surpreender. Cachoeiras, trilhas, fazendas antigas e até um vilarejo quase fantasma são algumas das boas surpresas.
As águas que surpreendem, nessa região baiana, ficam em meio à Mata Atlântica, em rios, lagos e, principalmente, lagoas. Uma dessas é a que, como já diz o nome, parece mesmo ser Encantada e conhecê-la é passeio para se fazer no fim da tarde. Não que a fauna e a flora local não possam ser apreciadas durante o dia. É que o pôr do sol, por lá, é capítulo à parte e deve ser aproveitado do início ao fim.
O vasto verde da região revela outras surpresas: na BA-001, que vai até Itacaré, saindo de Ilhéus, há muitas opções de ecoturismo, como percursos para trilhas, rapel e tirolesas.
E, acredite, visitar as fazendas da Costa do Cacau é passeio indispensável. Elas estão renovadas depois da vassoura-de-bruxa, praga que, dizem os locais, foi intencionalmente introduzida na região e contaminou os cacaueiros na década de 1980. As plantações, que contam um pouco da História de um Brasil agrário, se abrem para o passeio rural, como o recém-lançado roteiro turístico da Estrada do Chocolate. Entre Ilhéus e Uruçuca, o trajeto inclui, por 42km da BA-262, fazendas com sítios históricos, rios, cachoeiras e áreas de preservação em meio à Mata Atlântica.
Nos tours oferecidos, há opções para quem quer conhecer as fazendas que só têm plantações de cacau (a maioria dos agricultores vende a amêndoa diretamente às empresas produtoras de chocolate). Mas também dá para visitar as que, além de cultivar o fruto, produzem o chocolate. No caso, o passeio percorre todo o processo, da colheita à embalagem. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), instituto que pesquisa o aperfeiçoamento do cacau baiano, também oferece visitas relativas a aspectos mais técnicos.
As fazendas também se estendem no caminho entre Ilhéus e Itacaré. Entre uma cidade e outra, a pausa é no mirante da Serra Grande, que não deixa enganar: cá estamos na Bahia. De lá, a vista é para as praias em Itacaré, de águas verdes, com faixa de areia repleta de coqueiros e que só comprova que, de fato, tem clichês (e lugares) que nunca cansam o olhar.
Antes de encerrar a viagem para curtir as praias isoladas e selvagens da cidade, atravessamos estradas de chão até um vilarejo (quase) fantasma, ilhas fluviais e saboreamos culinária arretada, para turista nenhum dizer que não esteve na Bahia.

Ruínas, cachoeiras e um pôr do sol inesquecível
A cerca de 34km de distância do centro de Ilhéus fica a Lagoa Encantada, ainda pouco explorada pelos turistas e, como nos informa o guia local, Humberto, até pelos moradores da cidade, que passam pouco por ali. É preciso admitir que o acesso não é muito convidativo: são 12km de estrada de chão, entre subidas e descidas, a partir da BA-001. Mas também não é lá nenhum desafio. E, no meio do caminho, um mirante compensa qualquer solavanco da estradinha.
A visão da lagoa impressiona pela mata nativa de uma Área de Preservação Ambiental (APA). Dá para chegar com um GPS, mas há agências de turismo locais que fazem o passeio, com barco e refeições incluídas, que podem ser contratados em Ilhéus.
Um pequeno vilarejo ali localizado, a Vila Lagoa Encantada, também tem restaurante e oferece passeios de barco e canoa. Para conhecer toda a extensão e os mistérios da lagoa, o melhor mesmo é contratar um barco (dica importante: como veremos em breve, pergunte se a embarcação consegue atravessar a vegetação que cobre a água, principalmente quando chove muito).

Tapete verde em águas calmas
Embarque no pequeno cais e siga em frente, com calma, até um ponto onde a lagoa parece terminar. Mas só parece. O tal tapete verde “esconde” as águas, onde ainda há muito a navegar. Cruzando essa vegetação que, vez ou outra, lembra paisagens típicas do Pantanal ou da Amazônia, peixes e aves colorem o ambiente.
Continue em frente até o ponto que é, de fato, o finzinho da lagoa. Ou, na verdade, o começo: duas cachoeiras, uma de frente pra outra, desembocam por ali. Uma é quase plana. A outra tem água que desce da montanha. O bom mesmo é ver o encontro delas e partir para dentro: as águas da lagoa são mesmo nordestinas, calmas e relaxantes. Por ali, dá para tomar uma “ducha” na cachoeira ou apenas flutuar e curtir a luminosidade ao redor.
A volta deve ser feita no fim da tarde, já que o pôr do sol é candidato a entrar na lista dos mais belos: o astro-rei, por ali, parece ir em câmera lenta, colorindo em vermelho, laranja e amarelo o espelho que se forma na água e faz marejar os olhos.
Há opções de tours, saindo de Ilhéus, de quatro, seis ou oito horas. Todos dão uma volta completa pela lagoa, mas a recomendação é ficar o máximo de tempo para curtir as cachoeiras e os atrativos locais. Afinal, além do passeio de barco, há ainda opções que incluem duas trilhas demarcadas ao redor dela. Quem fez o trajeto garante que os pontos onde é possível avistar o cenário são ainda mais impactantes.
Mas a magia não está só aí. Há outros mistérios a desvendar nos arredores de Ilhéus — que, aliás, um dia já deu nome à Lagoa Encantada. Um deles é o vilarejo quase fantasma Rio do Braço, batizado em homenagem ao rio de mesmo nome, que banha a região. Á área foi ocupada por latifúndios de cacau nos tempos áureos da venda do fruto, na primeira metade do século XX. Mas, no ano de 1989, quando, diz-se por lá, a vassoura-de-bruxa foi propositalmente implantada na região, o local foi abandonado pelos fazendeiros, deixando praticamente tudo para trás.

Abandono, ruínas e restauração
A história, de fato, não é das mais animadoras, mas o que restou do vilarejo, que é totalmente rodeado pelo verde da região, virou ponto turístico imperdível na cidade. Há construções do século XIX, um belo casarão, estação de trem e uma igrejinha que começou a ser reconstruída e, se, por fora, tem charme de capela do interior, por dentro, ainda destruída, é cenário que mostra bem as consequências da praga na região.
Responsável pelas restaurações, Lucas Kruschewsky, neto de um dos fazendeiros do vilarejo, voltou ao lugar para transformá-lo em ponto turístico. Tudo começou pela antiga estação de trem, que ele reformou e abriu ali, à beira do rio, um charmoso restaurante, o Estação Rio do Braço, que serve a boa comida baiana, como moqueca e acarajé. Além das iguarias, a casa oferece drinques e tem confortáveis sofás e pufes espalhados por seus cômodos históricos. Há também um espaço infantil.
Kruschewsky ainda organiza uma das festas de São João mais animadas do lugar, que atrai moradores e turistas e tem contribuído para o aumento da popularidade da área.
O acesso ao vilarejo também não é muito fácil. Com o rio de um lado, a floresta, do outro, o jeito é ir cortando os dois em uma estradinha repleta de pontes de madeira e quedas d’água, beirando as fazendas de cacau que se misturam à mata nativa da região.
Em direção a Ilhéus, dá para aproveitar praias que, respeitando a tradição da Bahia, têm belas paisagens e uma temperatura que a maioria considera ideal. Afinal, com o maior litoral do estado que, por sua vez, tem a costa mais extensa do país, o que não falta ao município são opções. Se a ideia for só relaxar, a Praia de São Miguel, repleta de coqueirais e no meio de uma vila de pescadores, é a melhor escolha. Na Praia do Cristo, além de sombra e água fresca, há opções para os praticantes de canoagem e stand up paddle.

Visita às fazendas e ecoturismo
A Costa do Cacau é uma das zonas turísticas da Bahia — são 13 no total. Ela é composta por quatro municípios: Ilhéus, Itacaré, Canavieiras e Una. A produção do fruto na região começou por volta da década de 1930 e floresceu, após tentativas de produzi-lo no Pará e no Maranhão. Grandes fazendas e latifúndios prosperaram até 1989 quando, como se sabe, foi introduzida na região a vassoura-de-bruxa, praga que dizimou as plantações. Após a tragédia e o luto, a região se reergueu e, atualmente, já responde por 95% de tudo o que é produzido no país.

Da plantação ao chocolate
E hoje as fazendas de cacau abrem suas portas para mostrar aos turistas suas plantações e também as fases de cultivo e processamento da amêndoa, até sua transformação em chocolate.
Em Ilhéus fica a sede baiana da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). O instituto de pesquisa foi criado na década de 1950, quando a produção vivia o seu auge no país. O objetivo atual é aperfeiçoar a qualidade do produto nacional e expandir a produção.
No tour, o visitante vê de perto as diferenças de cor — do amarelo ao violeta —, tamanho, consistência e qualidade de cada fruto, além de ser apresentado a pesquisas que estão sendo realizadas e às diferentes fases da produção pelas quais passa o cacau até chegar ao consumidor final, em forma de chocolate.
Com um viés mais técnico, mas sem perder em interatividade, o passeio de cerca de uma hora vale a pena. Diversas agências de turismo locais oferecem a visita ao Ceplac como parte dos roteiros pelas fazendas.
Por toda a região, a maioria dos agricultores revende a amêndoa para as grandes empresas manufatureiras instaladas no país. É o caso da Fazenda Provisão, às margens do Rio Almada, e distante 27km do centro de Ilhéus. O tour mostra cacaueiros ainda com frutos verdes no pé, explicando desde o processo de colheita à secagem, até o momento em que está pronto para a venda.
Além de conhecer parte da produção do chocolate, o turista pode visitar o belíssimo conjunto arquitetônico local, que inclui uma capela construída no início do século XX, o casarão da sede e seu anexo, construídos em meados da década de 1970 em estilo colonial, além das antigas instalações relacionadas ao processo de beneficiamento do cacau. Ao fim do passeio, refeições típicas, como moqueca e frutos do mar, são servidas aos visitantes.
Também próxima a Ilhéus, seguindo pela Rodovia Jorge Amado, a fazenda Yrerê se dedica basicamente ao turismo rural, desde 2012. Lá se conhece todo o processo, desde a plantação do cacau até a produção do chocolate, que pode ser degustado ao final da visita. Dadá Marques e o marido, Gerson, são responsáveis ainda pela refeição de comida baiana típica, servida no agradável jardim.
Seguindo rumo a Itacaré, há mais fazendas pelo caminho. Mas o próximo ponto de nosso roteiro foi a Serra Grande, localizada entre os dois municípios e dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Itacaré/Serra Grande. O mirante local revela o que se encontrará no fim da serra: praias paradisíacas e selvagens. Mas, antes de chegar, dá para escolher entre várias atividades de ecoturismo oferecidas por ali.
Operadoras de turismo especializadas têm diferentes pacotes que incluem arvorismo, caiaque, rapel, rafting e parapente. Dá para saltar de paraquedas por ali também, e as três trilhas do lugar levam a cachoeiras e piscinas naturais para relaxar depois de tanta adrenalina.
Ao descer e chegar à costa, a dica é para os surfistas, já que essas praias são ideais para curtir as mais altas (e belas) ondas.

A Estrada do Chocolate é baiana
A Bahia terá seu primeiro roteiro turístico temático oficial: a Estrada do Chocolate, projeto lançado pelo governo estadual durante o Festival Internacional do Chocolate e Cacau/Chocolat Bahia 2017, que aconteceu em fins de julho no Centro de Convenções de Ilhéus.
No roteiro, o turista conhecerá a cultura do cacau e a produção do chocolate, por meio de visitas a fazendas, como a Provisão, na BA-262 em direção ao interior da Bahia, rodovia que também tem outros pontos turísticos, como alguns sítios históricos. Segundo as autoridades, inicialmente estarão no roteiro, que será implantado até fim deste mês, os municípios de Ilhéus e Uruçuca.
Entre os atrativos, as fábricas do parque moageiro de cacau, fazendas e fábricas de chocolate gourmet, fazendas de cacau com acervo histórico e arquitetônico dos tempos áureos da produção, além de Rio do Braço e da Biofábrica do Cacau.
A Estrada do Chocolate fica em meio à Mata Atlântica e, segundo João Leão, vice-governador do estado, que lançou o projeto, lembra cenários da obra do escritor Jorge Amado.
— É uma região única, com cultura e história que giram em torno do cacau e que vamos transformar também na região do chocolate de origem — disse Leão.
No evento, que acontece todos os anos, produtores locais, fornecedores e lojas especializadas mostram seus produtos. Agências de viagem também participam, divulgando os roteiros turísticos. Este ano, foram 80 expositores, apresentando 40 marcas de chocolates finos, todos produzidos na Costa do Cacau.

Fonte: Carolina Mazzi (O Globo). Ela viajou a convite do Festival Internacional do Chocolate e Cacau.

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