Polícia Civil instaurou na segunda-feira (6) um inquérito para identificar as pessoas que estavam à frente da invasão à Fazenda Rio Claro, em Correntina, no oeste da Bahia, no dia 2 de novembro. A propriedade é da empresa Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda. O caso é investigado pelo delegado Marcelo Calçado, titular da Delegacia Territorial de Correntina. Cinco pessoas já foram ouvidas. No dia da invasão, um galpão da fazenda foi incendiado e postes derrubados.
A Igarashi produz e fornece batata, cenoura, feijão, tomate, alho, cebola, entre outros produtos agrícolas. Há propriedades da empresa em algumas cidades da Bahia além de Correntina, como Vitória da Conquista e Barra da Estiva. A empresa não detalhou a produção específica na região de Correntina, nem se as atividades foram suspensas após o ataque.
Conforme a polícia, entre 500 e 600 agricultores e pecuaristas que moram ao longo do Rio Arrojado, nos povoados de Praia, Arrogeando, São Manoel, entre outros da região oeste da Bahia, entraram na fazenda para protestar contra os prejuízos que as propriedades deles estariam tendo com a captação de água para o sistema de irrigação da Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda. A maior parte dessas propriedades está a aproximadamente 40 km da nascente do rio. Os agricultores chegaram na fazenda em carros, motos e até em um ônibus.
A principal queixa dos ribeirinhos é quanto à diminuição do nível da água no leito do Rio Arrojado, o que se agravou após a construção de duas piscinas de 125 metros e profundidade de seis metros, para atender o sistema de irrigação da fazenda. Segundo eles, quando as bombas da fazenda são ligadas, o nível cai.
De acordo com o delegado, que já ouviu representantes da Igarashi, a empresa está legalizada e possui as licenças necessárias para captar a água do rio. Disse ainda que as pessoas que invadiram a propriedade são ligadas a pequenas associações existentes nos povoados ao longo do Arrojado, criadas para ordenar uso e cultivo de pastagens na região.
Por meio de nota, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) lamentou o ato e o apontou como vandalismo. Disse ainda que a entidade entende como legítima manifestações pacificas que não infrijam a legislação penal vigente com atos de invasão e depredação de patrimônio, sejam eles público ou privado.
A Abapa informou também que de 2,2 milhões de área plantada, 160 mil são irrigados, o que corresponde a 8% do total.
Em nota, a Lavoura e Pecuária Igarashi afirma que as instalações da empresa na cidade de Correntina foram “arbitrariamente invadidas”. Conforme a Igarashi, foram arrebentadas cercas, maquinários, todo sistema de energia e tratores foram destruídos, e colaboradoes foram ameaçados. Um deles foi ferido. No entanto, em contato com o G1, a assessoria da empresa não detalhou a gravidade da lesão e nem o estado de saúde do colaborador.
Ainda em nota, a Igarashi afirma que todas as atividades da empresa são realizadas mediante autorizações ambientais, e repudia os atos. A empresa afirmou, ainda, que vai tomar todas as medidas legais para defesa dos seus direitos e responsabilização dos indivíduos que cometeram referidos atos.
Reunião sobre a invasão
Ainda na segunda-feira foi realizada uma reunião com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e representantes da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras (Sprb) e do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães (SprLEM). O policiamento na região de Correntina foi reforçado, segundo informações do governo do estado.
Presente no encontro, o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, destacou que o caso vai ser investigado. “O trabalho da polícia vai ser reforçado com equipes de inteligência daqui de Salvador para que a gente consiga trazer à tona todos os motivos e a participação das pessoas nesse fato. Porque a mobilização de 500 a 600 pessoas demanda uma logística de mobilização e esse é um dos pontos que vamos atacar. Não estamos discutindo quais são as intenções se são justas ou não, mas os efeitos do que foi praticado e isso será tratado e investigado como um fato criminoso”, disse Barbosa.
Fonte: G1