Se existem pessoas que afirmam não gostar de chocolate, já devem ter enfrentado olhares surpresos e questionamentos sobre o gosto “duvidoso”. Há até quem diga que pessoas que não gostam de chocolate não são confiáveis. Isso porque quando se trata do assunto é quase uma unanimidade a paixão pela iguaria.
No ano passado, o consumo no Brasil, incluindo o chocolate em pó, ficou em 749 mil toneladas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). O Dia Mundial do Chocolate é celebrado em 7 de julho, e se engana quem acha que ele é um simples doce.
O universo de sabores do chocolate é vasto e, assim como os vinhos, ele possui nuances, aromas e tudo depende da qualidade da matéria-prima utilizada: o cacau.
E disso a região sul da Bahia entende. Lá nasceu a marca de chocolate Var, feitos com varietais, por isso o nome. São cinco concentrações de cacau e para cada uma é possível produzir três variedades de chocolate.
“Para ter um chocolate varietal é preciso ter uma plantação de cacau varietal, porque a maioria é plantado sem o controle e, normalmente, você tem um mix. A indústria acerta isso com a química para manter sempre o mesmo gosto, mas nós não. Todo nosso processo é natural”, diz Pedro Magalhães, que criou a empresa em 2015.
No mundo, o cacau comum ainda é comercializado como uma commodity, então, o seu preço é ditado pela Bolsa de Valores e sua qualidade é inferior. Já o cacau fino, utilizado por Pedro, é aquele que não entra na bolsa e é mais caro, porque é produzido de forma especial, com frutos selecionados.
Além disso, é um cacau bem fermentado, porque, para ter gosto de chocolate, o cacau tem que passar pelo processo de fermentação correto, que dura cerca de seis dias, antes da sua secagem.
Finos
Cacau bulk (cacau comum), bean to bar (da amêndoa à barra) e tree to bar (da árvore à barra) são expressões e movimentos que ganharam força entre os produtores de chocolates finos no sul da Bahia. Esses movimentos que valorizam o chocolate produzido desde o início pelo mesmo grupo de pessoas vêm crescendo.
A chocolatier Marcela Carvalho se especializou no produto no Canadá e abriu uma chocolateria em sua cidade natal, Ilhéus. “Para se ter um bom chocolate é necessária uma boa amêndoa de cacau. É um processo justo, onde todos ganham: o homem do campo, quem faz e o consumidor, que terá um produto de excelente qualidade”.
Além de bombons, trufas, ovos de Páscoa, entre outros formatos, Marcela faz esses e outros formatos na sua loja Cacau do Céu, desde 2011. São quase 50 sabores diferentes de recheios e a maioria de produtos legitimamente brasileiros como as castanhas, o cupuaçu e o grão de café da Chapada Diamantina.
E com mais de 10 produtos, entre barras, nibs e cacau em pó, a Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bacia do Rio Salgado e Adjacências é responsável pela produção da Bahia Cacau, sediada no município de Ibicaraí, a 30 km de Itabuna, é composta por 64 agricultores familiares.
Criada em 2010, a Bahia Cacau é a primeira empresa de chocolate da agricultura familiar do Brasil, produzindo chocolate especial a partir do cacau fino. “O bom chocolate passa por muitas etapas: a boa colheita, fermentação e secagem”, explica o diretor da Bahia Cacau, Osaná Nascimento.
Ele conta que nos últimos três meses houve uma queda brusca nas vendas por causa da logística comprometida com a pandemia e eles estão estudando como voltar ao mercado. De acordo com Osaná, é esperado um reaquecimento do mercado em agosto e a empresa pretende lançar em breve uma linha de chocolates orgânicos e diet.
Festival
Com 150 expositores e um com fluxo de cerca de 65 mil pessoas nos quatro dias do Festival Internacional do Chocolate e Cacau, realizado anualmente, o evento, que aconteceria em julho deste ano, foi cancelado. De acordo com o idealizador e organizador, Marco Lessa, existe uma pequena possibilidade de o festival ocorrer ainda em outubro, mas apenas se as questões de saúde forem propícias para isso e com todas as restrições de visitação e circulação de pessoas. “Caso não haja condições de acontecer em 2020, o que nós vamos decidir neste mês, o festival será mantido em julho de 2021”, diz Marco.
O festival também vai contar com novidades. Novas versões do evento, que já acontece em cidades como São Paulo e Belém, devem ser realizadas em Salvador e em Portugal no próximo ano.
“O nosso objetivo é prioritariamente ajudar os pequenos produtores de chocolate que, às vezes, não têm condições financeiras, estruturais ou não estão preparados para expandir a comercialização”, diz Lessa.
Consciência
“Fomos uma das primeiras fábricas a fechar [com a crise do coronavírus] no Brasil, quando percebemos o cenário mundial no início de março”, conta Diego Badaró, que está à frente da Amma, produtora baiana de chocolates orgânicos.
Isso foi possível porque a empresa tinha um bom estoque de produtos e passou a lidar apenas com a operação de entregas dos chocolates vendidos para todo o país e também no exterior.
Segundo ele, existe um movimento cada vez maior de consciência do consumo de alimentos naturais e orgânicos: “A cura do planeta passa pela cura da terra, da natureza. Por isso, não adianta pensar na economia e não pensar no meio ambiente, olhar para a natureza com olhar de regeneração e proteção”.
Ele diz ainda que a quarentena tem servido para que as pessoas reparem mais nos alimentos que escolhem para comer. “Estamos acostumados a ir ao mercado e comprar. Esse tempo está propiciando uma conexão com o preparo do alimento, com alimentos puros. Uma caixinha de comida não tem vitalidade”, comenta.
Ao longo dos 18 anos que trabalha com chocolate, Diego conta que a maioria das suas vendas era fora do país e confessa que, por questões burocráticas e culturais, vender chocolate de qualidade no Brasil era muito mais difícil, o que vem mudando nos últimos anos.
“Abrimos os caminhos para outras produtoras no país. A nossa intenção é agregar valor aos produtos para toda a cadeia produtiva do chocolate”.
Entre as novidades da Amma está a ampliação da sua linha biodinâmica de chocolates, barras de edição limitada para prestigiar produtores, além de parcerias com outras marcas. Atualmente, a fábrica produz cerca de oito toneladas de chocolate por mês. Fonte: A tarde Uol
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Essa Ilhéus é uma comédia, por acaso vcs estão vendo oq esta acontecendo no litoral norte da cidade? Sabem quem é o principal responsavel? Nessa cidade podem explodir tudo que a população não dá a mínima nunca vi um povo com tanto desapego a sua terra como esse de Ilhéus.