A bioeconomia, modelo de desenvolvimento que integra preservação ambiental e geração de renda, tem se fortalecido na Amazônia como resposta estratégica às mudanças climáticas. Com a proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), marcada para acontecer em 2025, em Belém (PA), o setor ganha visibilidade internacional e atrai novos investimentos públicos e privados.
Segundo o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), a bioeconomia pode movimentar até US$ 7,7 trilhões em oportunidades globais até 2030. Na Amazônia, a estimativa é de que a cadeia produtiva da floresta possa atingir R$ 170 bilhões até 2040, conforme aponta o estudo “Bioeconomia da Sociobiodiversidade”, publicado em 2021.
Centro de Inovação prepara Belém para sediar evento climático global
Entre as obras estruturantes voltadas para a COP30 está o Centro de Inovação e Bioeconomia de Belém (CIBB), que contará com R$ 20 milhões em investimentos provenientes de parceria entre os governos federal, municipal e a Itaipu Binacional. Instalado em um casarão histórico restaurado, o CIBB abrigará 20 projetos de empreendedorismo verde.
O espaço será vitrine da economia sustentável e incubadora de negócios baseados no uso inteligente dos recursos da floresta. Um dos exemplos de sucesso é o da produtora Izete Costa, conhecida como dona Nena, que transforma cacau nativo da Ilha do Combu em chocolates artesanais, sem desmatamento e com geração de renda para famílias locais.
Histórias de inovação e impacto social na floresta
Dona Nena, nascida na comunidade ribeirinha de Igarapé de Piriquitaquara, decidiu agregar valor à produção de cacau diante da queda no cultivo e da necessidade de preservar a floresta. Hoje, sua pequena empresa beneficia 16 famílias que atuam no manejo sustentável. Com o lucro, a comunidade conquistou acesso a água potável, saneamento e estrutura para receber visitantes.
“O povo precisa manter a floresta de pé? Precisa. Mas precisa de água tratada, de saneamento básico, de um montão de coisas. Porque muitas vezes ele sai daqui, e quem vem no lugar é alguém que desmata”, afirma a empreendedora.
Políticas públicas fortalecem o ambiente de negócios sustentável
O avanço da bioeconomia no Pará também é impulsionado pelo PlanBio Pará, um plano de Estado com metas até 2030 que articula ciência, inovação, segurança jurídica e valorização do patrimônio genético da floresta. A proposta busca transformar a realidade econômica local com base em práticas sustentáveis e geração de valor para comunidades tradicionais.
“O setor era extrativista, pouco escalável e pouco visível. Hoje temos cerca de 300 startups na área de bioeconomia. Antes, eram cerca de 70, das quais poucas sobreviviam”, aponta Camille Bemerguy, secretária adjunta de Bioeconomia do Pará.
Outro projeto estratégico em andamento é o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, em construção na região do Porto Futuro 2, em Belém. O investimento de R$ 300 milhões viabiliza a criação de um complexo com centros de cultura alimentar, turismo de base comunitária, observatório da bioeconomia e espaços de pesquisa.
A meta do governo estadual é que a bioeconomia represente 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Pará até 2030. “Queremos romper o ciclo de invisibilidade dos que sempre contribuíram com o desenvolvimento da Amazônia. É preciso garantir conectividade, infraestrutura e apoio técnico para que esse novo ciclo seja transformador e duradouro”, conclui Bemerguy.
Fonte: dgrj