Com a queda na produção de cacau na África Ocidental por causa do clima ruim, árvores velhas e doenças nas plantações, agricultores visionários em áreas secas do Brasil estão se animando. Na região oeste da Bahia, conhecida pelo calor e pela seca, produtores estão experimentando o cultivo de cacau pela primeira vez. Apesar das árvores ainda estarem crescendo e demorarem cerca de um ano para começar a dar frutos, a chance de ganhar dinheiro atrai muita gente, desde pequenos produtores até grandes empresas.
Empresas gigantes, como a Cargill, estão se juntando a grandes grupos agrícolas para plantar mais cacau, e até empresas suíças de chocolate estão interessadas em investir em fazendas brasileiras. Até mesmo famílias que já cultivam outras frutas ou plantações estão experimentando o cacau pela primeira vez, querendo uma fatia desse mercado global que o Brasil deixou de lado por tanto tempo.
Se a produção no Brasil realmente decolar, o país pode dobrar sua produção até 2030, chegando a cerca de 400 mil toneladas, segundo especialistas. Isso seria um salto e tanto, colocando o Brasil perto do terceiro maior produtor mundial, o Equador. E alguns acreditam que esses números podem ser até conservadores demais. Alguns produtores pensam que a produção pode chegar a 1,8 milhão de toneladas por ano nos próximos 10 anos, se continuarem a expandir para novas áreas.
No passado, o Brasil já foi um grande produtor de cacau, mas muitas árvores foram afetadas por uma doença chamada vassoura-de-bruxa nos anos 1980. Hoje, Costa do Marfim e Gana são responsáveis por mais da metade da produção global de cacau. Mas essa dependência desses dois países torna a oferta mundial vulnerável a problemas como mau tempo e doenças nas plantações. Recentemente, problemas na produção de cacau na África Ocidental dobraram os preços globais, fazendo o preço das barras de chocolate subir e até mesmo forçando algumas fábricas a fecharem.
Os primeiros agricultores que investiram no cultivo de cacau na Bahia começaram antes mesmo desse aumento nos preços, mas agora mais e mais fazendas estão aderindo à ideia. Os agricultores brasileiros geralmente têm mais recursos e fazendas maiores do que os da África Ocidental, o que os ajuda a economizar dinheiro. Eles também não têm que lidar com tantas regulamentações governamentais quanto em alguns países africanos. E como o cacau não estraga facilmente, os produtores podem esperar até que o preço esteja bom para vender.
Com tanto sol, irrigação e acesso a fertilizantes o ano todo, o cultivo de cacau aqui pode ser muito mais rápido do que em outros lugares. Algumas árvores já podem começar a dar frutos em apenas três anos, em vez dos cinco anos mais comuns. Apesar do calor intenso, os sistemas de irrigação na região mantêm as plantações bem hidratadas.
“Temos visto um grande interesse no cultivo de cacau, e quando alguém entra nesse negócio, é difícil sair”, disse Tal Bar-Dor, diretor de operações de uma fazenda na cidade de Barra. Ele começou a plantar cacau no ano passado em uma fazenda que antes só cultivava coco, e agora planeja expandir sua plantação para cerca de 1.000 hectares nos próximos quatro anos.
E não é só o Brasil que está de olho nessa oportunidade. Na Colômbia, uma grande empresa de alimentos está investindo em um novo viveiro para produzir milhões de pés de cacau nos próximos cinco anos. No Equador, os agricultores estão expandindo suas plantações e usando mais tecnologia para aumentar a produção em mais de 50% em quatro anos.
Voltando para a Bahia, a agricultora Claudia Sá ficou impressionada ao ver os novos pomares de cacau de Schmidt. Décadas atrás, muitas árvores de cacau de sua família foram afetadas por uma doença chamada vassoura-de-bruxa. Ela lembra de ver seu pai procurando desesperadamente pelas poucas árvores que sobraram. Mesmo que a doença ainda não tenha sido erradicada, muitos acreditam que agora é a hora certa para tentar novamente.
Fonte: Bloomberg
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A vassoura de bruxa não foi e não tem condições de ser erradicada. Tem algumas variedades com uma certa tolerância ao fungo “crinnipelis perniciosa”, mas em sistemas extensos, a multiplicação do fungo e o surgimento de novas cepas, implica numa queda vertiginosa da produção. Tive 5 experimentos do antigo CEPEC e foi constatada quebra de resistência porque foram encontrada 5 cepas. Mas tudo isso pode ser debitado a gente sem noção e sem escrúpulos, que, criminosamente disseminou o fungo em diversos cacauais da Bahia. No entanto novas tecnologias na condução da cultura, estão permitindo produções por volta de 200 ar/ha.
Recomendo a leitura de: Agro-terrorism? The causes and consequences of the appearance of witch’s broom disease in cocoa plantations of southern Bahia, Brazil. http://dx.doi.org/10.1016/j.geoforum.2013.01.006