Cacau pode virar pesadelo do mercado

A commodity de melhor desempenho no ano passado pode se tornar o pior pesadelo do mercado. Depois da maior alta nos contratos futuros de cacau em Londres desde pelo menos 1989, produtores da Costa do Marfim até o Peru se preparam para renovar a oferta do produto na safra 2016/17, que começa em outubro, criando um superávit que, segundo o Rabobank International, será o maior dos últimos seis anos. Com a desaceleração da demanda, os preços da matéria-prima do chocolate são os que despertam o maior pessimismo do banco neste ano.

Os preços do cacau subiram 60% durante um período de quatro anos que se estendeu até o fim de 2015, obrigando fabricantes, como Hershey e Lindt & Sprüngli, a cobrar mais por seus produtos. Em 2015, os padrões climáticos influenciados pelo El Niño impuseram condições de seca que prejudicaram as plantações de cacau, inclusive no oeste da África, responsável por cerca de 70% da oferta mundial. Os contratos futuros de cacau em Londres alcançaram em dezembro 2.332 libras esterlinas a tonelada, a maior cotação desde 2011, quando uma guerra civil conturbou as exportações da Costa do Marfim, o maior fornecedor.

“Esperamos que esses preços internacionais muito bons incentivem a produção”, disse o analista Carlos Mera, do Rabobank de Londres. “Não consideramos esses níveis justificáveis dada a estabilidade política vigente na África Ocidental”.

O cacau foi uma anomalia no ano passado, ao subir 14% em Londres, quando quase todas as outras principais commodities despencaram. A alta foi a maior dentre as 24 commodities monitoradas pelo índice Spot GSCI da Standard & Poor’s, que recuou mais de 25%. O Rabobank diz que os contratos futuros de cacau negociados em Londres poderão cair para 1,8 mil libras esterlinas a tonelada até o quarto trimestre, o que representaria uma perda de 17% em relação ao preço de fechamento da última terça-feira, de 2.163 libras esterlinas a tonelada.

Há cinco principais motivos para a perspectiva pessimista que cerca o cacau. O primeiro deles é que o governo da Costa do Marfim, país responsável por quase 40% da produção mundial, elevou os preços pagos aos agricultores pelo terceiro ano consecutivo. Os cacauicultores receberão mil francos CFA (US$ 1,62) por quilo durante a maior das duas colheitas anuais da safra 2015/16, alta de 18% em relação ao ano passado.

Esta é a primeira vez que os agricultores do país têm um preço fixo tão alto ao longo de toda a safra, disse Edward George, diretor de pesquisa em commodities agrícolas do banco Ecobank Transnational, sediado em Lomé, no Togo.

A segunda razão é o enfraquecimento da demanda. Com a alta do custo para os fabricantes de chocolate, muitos recorreram aos estoques, o que reduziu a demanda por novos volumes. As moagens efetuadas pelos processadores em nível mundial, um indicador do consumo, deverão se manter estáveis ou subir não mais que 0,5% na safra 2015/16 iniciada em 1º de outubro, estimou a Cargill, a segunda maior processadora mundial.

Além disso, a Barry Callebaut, a maior processadora e maior fabricante de chocolate a granel, está fechando uma fábrica na Tailândia e reduzindo a produção na Malásia. O motivo é a perda de lucratividade.

Há também um fator climático. O El Niño deve dar lugar a um padrão climático mais favorável, dominado pelo La Niña, que trará mais umidade às plantações, segundo a MDA Weather Services.

Outra razão é o aumento da produção na América Latina. Países da região têm plantado árvores de alta produtividade, segundo a Organização Internacional do Cacau (OICC). A produção do Equador cresceu 6,8% na safra 2014/15, e há expansão na Colômbia e no Peru, informou a entidade. “A oferta começa a aumentar, vinda de regiões como a América Central, na medida em que os produtores recorrem ao cacau para substituir o café”, disse Jack Scoville, vice-presidente da corretora Price Futures Group de Chicago.

Finalmente, a expectativa é que depois do déficit de produção de cerca de 150 mil toneladas na safra 2015/16, a oferta mundial supere a demanda em breve. A produção vai ultrapassar a procura em 93 mil toneladas na safra 2016/17, segundo o Rabobank. Se a previsão se confirmar, será o maior excedente de cacau desde a safra 2010/11. (Tradução de Rachel Warszawski) Fonte: Bloomberg

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