Por: Claudemir Zafalon
O mercado de cacau vive mais um momento de alta nos preços, impulsionado por preocupações com a oferta e pela recente decisão da União Europeia de adiar a implementação da Lei de Desflorestação. Embora o adiamento permita um período de adaptação para empresas globais, os desafios climáticos e estruturais nas principais regiões produtoras continuam a pressionar o setor.
Adiamento da Lei de Desflorestação
Os negociadores da União Europeia concordaram, na última terça-feira, com a prorrogação de 12 meses no prazo para implementação da Lei de Desflorestação. Grandes operadores e comerciantes terão que cumprir as novas exigências a partir de 30 de dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas ganharam um prazo adicional de seis meses.
A legislação visa garantir que produtos agrícolas, como o cacau, não sejam vinculados a práticas de desflorestação ilegal. Apesar do atraso, as regras permaneceram inalteradas, e as empresas terão que se ajustar para cumprir as obrigações dentro do novo cronograma.
Impactos na Costa do Marfim
Na Costa do Marfim, maior produtora mundial de cacau, as condições climáticas adversas estão dificultando ainda mais a situação. Regiões oeste e sudoeste, responsáveis por mais da metade da produção nacional, sofreram danos severos devido a fortes chuvas, reduzindo significativamente as perspectivas de colheita para os próximos meses.
Embora o volume de grãos nos portos tenha aumentado 34% em relação ao mesmo período da temporada 2023-24, o número é enganoso, já que a safra passada foi a pior em uma década. A maior parte da colheita principal foi concluída em novembro, e uma escassez significativa de grãos é esperada até fevereiro ou março.
Perspectiva para o mercado global
A oferta apertada na Costa do Marfim agrava o cenário global já pressionado por déficits nos últimos anos. As condições climáticas adversas, combinadas com o risco de agricultores não conseguirem honrar contratos, têm alimentado a volatilidade nos preços do cacau.
O pico da colheita principal, normalmente esperado em dezembro, foi antecipado, e a próxima safra, que começa em abril, pode enfrentar desafios adicionais se as condições climáticas não melhorarem.
Reação do mercado
Após uma forte correção no início do ano, quando o adiamento da Lei de Desflorestação foi anunciado, os preços do cacau voltaram a disparar. A escassez esperada de grãos nos próximos meses e as dificuldades logísticas enfrentadas pelos exportadores estão elevando os custos.
Analistas preveem que a pressão de oferta continuará pelo menos até o final da safra temporã, em meados de 2025, com o mercado global de cacau enfrentando uma das fases mais desafiadoras dos últimos anos.
O que esperar para o futuro?
Com o mercado de cacau cada vez mais vulnerável a mudanças climáticas, restrições legislativas e questões estruturais, o setor enfrenta a necessidade de investir em soluções sustentáveis e diversificar a produção para reduzir os riscos.
A prorrogação da Lei de Desflorestação, embora ofereça um respiro para as empresas, não elimina os desafios de curto prazo. Para consumidores e indústrias, os preços do cacau e de produtos derivados, como o chocolate, devem permanecer altos no futuro próximo.
Fonte: mercadodocacau