*Entrevista concedida ao Diário Bahia
O ex-superintendente regional da Ceplac, Juvenal Maynart Cunha, tem um discurso que denota vasto cabedal intelectual – entre referências a leituras e músicas –, ao tempo em que consegue temperar com ideias e tornar ágeis até as mais burocráticas funções. Ele desempenhou um trabalho reconhecido no órgão, alvo inclusive de recente homenagem por parte da UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia).
Natural de Ipiaú, é especialista em Planejamento Urbano e Gestão de Cidades (Unifacs) e se apresenta como um executivo na área bancária e do Poder Público. E classifica a experiência na Ceplac como uma "realização do Ser Social". Sobre o assunto, além de desenvolvimento regional e política, ele tratou na entrevista a seguir.
Olhando de fora, após quatro anos como superintendente, qual o principal desafio da Ceplac num momento em que a produção de cacau vem se reerguendo na região?
A cacauicultura baiana a partir dos anos 90 entrou num alinhamento de ciclo estacionário da pobreza (Myrdal) com as estruturas estatais, que por natureza são reativas, descasadas das sociedades em rede. A necessidade de revisão passa por toda estrutura produtiva, o crédito clama por cooperativismo com gestão profissionalizada e braço SICOOB para fluir contratações; a ciência contemporânea estrutura-se em redes e os resultados em gestão de propriedades só efetivam sucesso com domínio de tecnologias e inovações, tecnicismos e "sangue, suor e lágrima". Será que não renascerá um novo segmento regional de comercialização e exportadores? Então, apostar numa modernização da estrutura da CEPLAC é o desafio regional e fuga ao obscurantismo à ciência. Apenas concurso na velha estrutura não surtirá efeito, adia a morte. A interseção CEPLAC/UFSB, além do Núcleo de Agroflorestais com ênfase em sustentabilidade e do Parque Tecnológico, gerará energia para delinear uma nova realidade. Até porque, estão aliançadas com a UESC e IFs.
Para além do cacau, o que falta para recolocar o sul da Bahia em evidência no cenário econômico do estado?
O avanço na educação, ciência e inovação em práticas de desenvolvimento regional é um bom farol. No mundo real! Saneamento, conurbação na região metropolitana, cidades digitais são demandas reais da nossa região. Perguntem aos conquistenses o peso da UNEB nas suas realidades. O sucesso dirigido pela liderança do empresário Marco Lessa, do Festival do Chocolate de Ilhéus, é lastreado em plataformas científicas e experimentais existentes na Estrada do Conhecimento (UESC, IFBA, CEPLAC e UFSB). Da UESC, com pitacos da Ceplac, foi norteada a existência da Estrada do Chocolate. Devemos esperar muito do Parque Tecnológico voltado para: Biotecnologia e alimentos (ênfase em cacau e chocolate); Transportes e Logística; Agroflorestais e Tecnologias e Inovações. A agregação de valor ao nosso produto dentro da cadeia cacau e chocolate já é paradigma incorporado. Produzir e rastrear com qualidade, da amêndoa até derivados de chocolate à biotecnologia, são desafios possíveis a partir da nova plataforma de ciência. Serviços é uma realidade, com destaque no polo de saúde. Indústria é matriz vencida e Itabuna impossibilitada de expandi-la por falta de insumo básico, água. A cadeia cacau e chocolate vai impulsionar o turismo rural regional além do litoral, pois aí já é realidade. A síntese das eleições de 2016 e 2018 delineará os caminhos do futuro. Logo, senhor eleitor é a majestade! Acredito que a próxima eleição já terá as redes sociais como o mais fluido dos mecanismos de definição do voto.
O senhor é reconhecido por ter uma mente inquieta, visionária e participa ativamente da vida política. Caso o PMDB ache por bem lançar seu nome como pré-candidato a prefeito ou a vice-prefeito de Itabuna, o senhor aceita?
Segundo a amiga jornalista Vera Rabelo, personalizo versos de Caetano Veloso, de quem sou fã: "vertigem visionária que não carece de seguidor"; gosto disso! Sou um homem do século XX, e daqueles que Eric Hobsbawn classificou dos arrebatados pelo demônio daquele século, a política. O PMDB de Itabuna tem candidato, Fernando Vita, e ninguém é candidato do "próprio si" (risos).
O senhor é apontado, inclusive, como conselheiro de Geddel Vieira Lima, que lhe indicou para a superintendência da Ceplac. Ele caminha politicamente para os "braços" de ACM Neto ou prefere manter o PMDB em "carreira solo" até 2018?
Em matéria de vivência política na minha geração, Geddel é referência no PMDB baiano, mas como habita nele um vocacionado e talentoso homem público, até seus diálogos têm forma de debates, o que nos oportuniza colocar ideias. Desde as eleições de 2010, ele sinaliza ao PMDB nacional que a natureza de qualquer partido é a busca do poder, divergindo da apatia da nacional. Como alianças fazem parte do jogo no Estado democrático, o azimute de Geddel será sempre o poder, mas alianças são táticas legítimas. ACM Neto, nascido na era digital, é um político antenado. O PMDB baiano dá sinais de avanços, em especial, quando lança campanha em favor da diversidade, ainda falta mais organicidade com o interior. Acho que em 2016 e 2018 estas alianças perdurarão.
Como o senhor analisa a posição do PMDB em âmbito federal, onde divergências e rateio de cargos caminham juntos?
Sabe, o estilo raposa da política foi vencido pela era digital e poucos políticos sacaram que farsa, hipocrisia e falta de clareza no tratar a coisa pública vão pro website .@saoanalogicos. O PMDB nacional precisa resgatar uma identidade e deixar de ser o camaleão de Macunaíma. Se não "nóis posta, baby!". Mostrar a cara ou morrer! A política necessita de ingredientes humanistas e subjetivos: ideologia, motivação em favor da responsabilidade pública e de coragem. E também precisa de Castro Alves: "E vós, arcas do futuro,
Crisálidas do porvir,
Quando vosso braço ousado
Legislações construir,
Levantai um templo novo,
Porém não que esmague o povo,
Mas que lhe seja o pedestal"