Umbu, cacau e Compadre Washington: tem coisa mais a cara da Bahia do que este trio? Cada um inspirou uma cerveja diferente. Todas com alma baiana, mas nenhuma pode ser considerada conterrânea, pois não são fabricadas por aqui. “Ainda estamos amadurecendo nisso. A gente não tem uma planta de fábrica de destaque no estado. Então, as cervejas são colaborativas, feitas em parceria com pessoas de outras regiões, como Minas e São Paulo”, diz Vinício Carvalho, sommelier do restaurante Carro de Boi.
Isso acontece porque, diferentemente do licor, a fabricação de cerveja requer uma série de pressupostos, como estar em dia com o Ministério da Agricultura e com a Vigilância Sanitária, por exemplo. “Sabemos de muita gente que vende cerveja caseira sem ser permitido. Não apoiamos de maneira alguma. Nas reuniões que fazemos, todo primeiro sábado do mês, tem muito cervejeiro que leva para compartilhar”, explica Glauber Sampaio, diretor-executivo da Associação dos Cervejeiros Artesanais da Bahia (Acerva Baiana).
Vinício conta que, recentemente, teve problemas em conseguir bebidas 100% locais para um cardápio de cervejas artesanais do estabelecimento. Acabou se contentando com a carioca Porreta IPA Cacau, que, apesar do nome, é feita no Rio de Janeiro. Mas a fruta vem diretamente de Ilhéus, no sul da Bahia. Na mesma proposta – feita fora com ingredientes daqui – há a Saison Umbu, que vem de Minas Gerais. Sem insumos locais, mas com toda a ginga, tem a Inocente, produção do Rhoncus Pub & Beer em parceria com a cervejaria paulista Hoffen. Confira onde encontrar as bebidas em Salvador e dicas de petiscos para saborear com elas.
Porreta IPA Cacau e cordeiro na manteiga
Apesar do nome, a cerveja Porreta IPA Cacau (Cervejaria Mistura Clássica) não é nordestina. Fabricada no Rio de Janeiro, ela tem entre os ingredientes o cacau. Mas não é o grão torrado, que dá origem ao chocolate. É a fruta mesmo, vinda diretamente de Ilhéus, no sul da Bahia. “Ela tem todas as características de uma boa Indian Pale Ale. Porém, no fim, o dulçor do cacau contrasta com o amargor do lúpulo inglês”, explica Vinício Carvalho.
Para harmonizar com a bebida (R$ 39,90 a garrafa de 500 ml), no restaurante Carro de Boi, a sugestão do sommelier de cerveja é a picanha de cordeiro assada na brasa com manteiga de garrafa (R$ 33,90). “É um prato cheio de sabor, com a carne um pouco gordurosa. Então, o teor de álcool um pouco maior (8%) cai bem. O aspecto levemente adocicado do cordeiro também combina”, afirma o profissional.
Se a fome for maior, vale pedir ainda uma farofa de abóbora (R$ 6). O restaurante fica na Boca do Rio (Avenida Dom Eugênio Sales, 23. Tel: 71 3461-3110) e lançou, recentemente, uma carta de cervejas artesanais com 65 rótulos, já com sugestões de harmonização.
Saison Umbu e salsichão
Saison é um estilo de cerveja belga, feita com sementes, especiarias e frutas. Em sua versão meio baiana meio mineira, batizada de Saison Umbu (Experimento Beer), a fruta escolhida foi o umbu, na proporção de 10%. “Ela tem um aroma muito peculiar. Não se sente um gosto muito acentuado de cara. É mais cítrica no finalzinho”, diz o empresário Eduardo Pontes. Ele é sócio do Santíssimo Empório (Shopping Paseo Itaigara. Tel: 71 2132-6691), que existe há menos de um ano e ostenta entre 180 e 200 rótulos no cardápio todo mês.
Por lá, a sugestão é harmonizar a bebida, que tem 6,2% de teor alcoólico (R$ 29, a garrafa de 600 ml), com o salsichão alemão com pãezinhos (R$ 18). “É uma combinação bem sequinha. Combina perfeitamente com a cerveja, que é leve. Não acho que cai bem com um prato pesado, como feijoada, por exemplo”, opina ele.
Inocente com bolinho
Diferentemente das duas cervejas anteriores, o quê baiano dessa é, digamos, mais conceitual. Se expressa pelo nome e pela fórmula. O rótulo leva o mais recente bordão do filósofo contemporâneo e criador do É O Tchan, além de uma caricatura dele. O gosto é de uma pilsen mais suave. A parceria do Rhoncus Pub (Rua Oswaldo Cruz, 122, Rio Vermelho. Tel: 71 3019-4344) com a cervejaria paulista Hoffen nasceu para comemorar o primeiro aniversário do bar baiano, que oferece entre 200 e 250 rótulos de cerveja.
“É uma pilsen clara, filtrada, com um leve amargor. São só 4,1% de álcool. Fizemos mais leve para se adequar ao paladar do baiano e ao nosso clima. Como é puro malte, acaba sendo mais saborosa do que o de costume”, esclarece o empresário Guilherme Pauperio. Para combinar bem com a bebida, a sugestão da casa é o bolinho de bacalhau (R$ 26 a porção de cinco unidades). A garrafa de 600 ml custa, por lá, R$ 24. Fonte: Correio