Cooperativa baiana exporta cacau para produção de chocolate suíço

Duas pequenas cooperativas baianas e uma empresa recém-nascida também da Bahia deram um salto para o comércio exterior fazendo suas primeiras exportações diretas, com o apoio do projeto Agro.BR da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Uma delas é a Cooperativa de Produtores de Cacau Cabruca da Bahia (Coopercabruca), que reúne 34 produtores do sul do Estado, e mandou em março para a Suíça, país europeu que tem fama de produzir o melhor chocolate do mundo, 500 kg de liquor de cacau fino. “Foi ousadia pura”, diz Orlantildes Santos Pereira, presidente da cooperativa fundada há três anos com o objetivo de proteger a mata e produzir cacau de qualidade.

Pereira conta que mandou amostras do cacau seis meses antes de fechar o negócio, que rendeu aos produtores US$ 13 mil (cerca de R$ 69 mil). O liquor de cacau, também chamado de “massa de cacau”, é resultado do processamento das amêndoas descascadas, torradas e moídas e serve de base para a produção de chocolates. O produto foi comprado por uma associação de chocolatiers que vai lançar uma marca de origem na Suíça.

A qualidade do cacau exportado foi garantida com análise laboratorial de cada lote. Para ser classificado como cacau fino, o produtor precisa colher as amêndoas no ponto certo de maturação, controlar a fermentação por sete dias e secar ao sol por mais dez dias. Apenas de 30% a 40% da produção anual de cacau dos cooperados é classificada como fino.

Economista e neto de agricultores que tiveram suas lavouras de cacau dizimadas pela praga vassoura-de-bruxa, Pereira diz que a praga foi, de certa forma, benéfica para a cultura porque obrigou os produtores a adotarem novas tecnologias com materiais mais produtivos e tolerantes.

Segundo o presidente, algumas plantas chegam a render até 200 arrobas por hectare no sequeiro, ante a média de 30 arrobas. Em sua pequena propriedade, herdada dos pais, ele colhe 800 arrobas por ano no sistema cabruca, ou seja, os pés de cacau são plantados sob as árvores da Mata Atlântica. São cerca de 600 árvores por hectare, enquanto a produção tradicional tem até 1.111 plantas por hectare.

O presidente da Coopercabruca diz que as orientações e o suporte do Agro.BR foram fundamentais para viabilizar a primeira de muitas exportações diretas que a cooperativa pretende fazer. “Já estamos conversando com um grupo na Europa que quer trabalhar exclusivamente com as amêndoas da nossa cooperativa”, diz, acrescentando que o maior desafio nessa primeira exportação foi convencer o produtor a apostar no modelo de exportação e esperar o pagamento.

Guaraná

Área de produção de guaraná ligada à Cooperativa dos Agricultores Familiares do Baixo Sul (Coopafbasul) (Foto: Divulgação)

Já a Cooperativa dos Agricultores Familiares do Baixo Sul (Coopafbasul) embarcou para os Estados Unidos, em abril, 21 toneladas de guaraná in natura tipo 1 sustentável e rastreado. “O objetivo da exportação é oferecer ao cooperado um preço justo para que ele continue morando e produzindo no campo”, afirma o diretor Gileno Araújo dos Santos.

Ele diz que a Coopafbasul foi fundada em 2009 na Bahia com o objetivo de atender o cooperado em sua diversidade de produção. São 1.200 associados, que produzem cacau, borracha, 22 tipos de frutas, guaraná e palmito. Com sede em Ituberá, a entidade tem parceria com várias agroindústrias do Estado para beneficiar os produtos e agregar valor.

Da exportação para os EUA participaram 200 agricultores. O produto saiu despolpado e limpo das propriedades e teve sua umidade padronizada na cooperativa para compor o tipo 1 e levar o selo de rastreamento da agricultura familiar.

Há dois anos, a cooperativa tinha feito uma exportação indireta de 14 toneladas para a França. Desta vez, cuidou de toda a operação, desde o planejamento, negociação, formação de preço, embarque e pós-venda e lucrou 40% a mais com a venda do que se tivesse comercializado o produto em pó.

“A exportação abre caminho para o produtor valorizar a cooperativa e se fortalecer buscando tecnologias para atender às exigências dos compradores”, diz Santos, revelando que a Coopafbasul já tem contrato com o mesmo cliente da Suíça para três anos de exportações e está prospectando compradores para o guaraná brasileiro também na China.

A produção anual dos cooperados chega perto de 10 toneladas por ano, mas o diretor diz que há potencial para chegar a 80 toneladas. No ano passado, o faturamento da cooperativa foi de R$ 16 milhões, ante os R$ 15 milhões de 2019.

Café especial
Quem também abriu caminhos para negócios internacionais foi a empresa Verde Coffees, fundada no ano passado em Vitória da Conquista (BA). No total, 480 kg de café piatã especial foram exportados para a Suíça, em operação que dividiu o contêiner com o cacau da Coopercabruca. “A empresa nasceu para captar negócios no exterior para microlotes e nanolotes de cafés especiais dos pequenos produtores da Chapada Diamantina”, fala o dono, Jônatas Dias da Silva.

Silva, que também é dono de um armazém de café em Vitória da Conquista que presta serviços de armazenamento e beneficiamento, diz que a empresa de exportação nasceu para assistir o pequeno produtor que muitas vezes, por falta de informação, vende seu café especial como commodity. O café exportado veio de 50 produtores da Chapada indicados por cooperativas.

“Nossa empresa não compra o café do produtor para exportar. Ela faz apenas a parte logística”, afirma Silva, que morou um tempo na Suíça e fez contatos com torrefadores. A mulher dele, Bruna, que é sócia na empresa, é de família de cafeicultores. A venda das oito sacas rendeu US$ 3 mil (cerca de R$ 16 mil) e os importadores bancaram o frete.

“Os compradores precisavam de um custo mais baixo porque vão iniciar um negócio. Esse valor não é sustentável a longo prazo, mas a exportação serve para abrir portas”, afirma. A Verde Coffees, que já tem outro pedido de 50 sacas e representantes na Itália e Espanha, está cadastrando os produtores parceiros para oferecer aos compradores o rastreamento do café.

Segundo Silva, a empresa nasceu graças ao incentivo do projeto da CNA. “O Agro.BR nos deu todo o arcabouço teórico, suporte contábil, dicas de comercialização e dos processos logísticos. Participamos de lives e seminários que detalharam tudo sobre exportação do nosso segmento e abriram nossa mente para a simplicidade da operação de exportação.”

Camila Sande, gestora do projeto e Coordenadora de Promoção Comercial da CNA, diz que o Agro.BR tem a função de mudar a realidade do pequeno e médio empresário rural brasileiro que quer exportar. “O projeto tem como maior objetivo colocar produtos da nossa brasilidade, com forte pegada da sociobiodiversidade e respeito ao meio ambiente em grandes mercados do mundo.”

Segundo a gestora, o fato de exportar para a Suíça mostra que o Brasil atende altos padrões de qualidade. Conforme a Apex-Brasil, as exportações de empreendedoras do Agro.BR incluem 10 cooperativas, 57 empresas e uma pessoa física. O total exportado chega a US$ 158 milhões (cerca de R$ 837,4 milhões), atingindo 76 mercados, sendo 43 inéditos. Além disso, 12 empresas fizeram sua primeira exportação.

Fonte: Globo Rural

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