Crise e Transformação: Novo modelo de comercialização de Cacau em Gana testa limites da indústria global

Os principais compradores internacionais de cacau de Gana desembolsaram cerca de meio bilhão de dólares em pagamentos antecipados ao Cocobod, o conselho estatal de marketing do cacau. A medida, calculada pela Reuters, reflete uma corrida para garantir suprimentos em meio à incerteza gerada pela reestruturação do sistema de comercialização do país.

Gana, o segundo maior produtor de cacau do mundo, está enfrentando uma transição no modelo de marketing que já dura mais de três décadas. Sob a nova estrutura, os traders e processadores passaram a desempenhar um papel maior no financiamento e na coleta da safra, mas a mudança trouxe consigo preocupações sobre a viabilidade do sistema e os riscos financeiros associados.

Mudanças no Sistema e Pagamentos Antecipados

Tradicionalmente, o Cocobod obtinha empréstimos bancários para financiar a compra de cacau dos agricultores, vendendo contratos futuros para empresas internacionais. Contudo, dificuldades financeiras decorrentes de quedas na produção e má gestão levaram o conselho a abandonar o financiamento bancário pela primeira vez desde 1992.

Agora, as empresas compradoras devem arcar com pelo menos 60% do valor dos contratos de forma antecipada e também pré-financiar as empresas compradoras licenciadas (LBCs), que transportam o cacau para os armazéns do Cocobod. Embora o conselho afirme que essa mudança reduzirá custos, eliminando US$ 150 milhões em juros, os riscos recairão sobre os players privados, aumentando a exposição ao mercado volátil.

Déficits e Contratos Não Cumpridos

Um dos principais pontos críticos é o atraso na entrega de cerca de 350 mil toneladas métricas de cacau de contratos da temporada passada, o que gerou prejuízos estimados em mais de US$ 1 bilhão devido a hedges de mercado futuro não cumpridos. Embora o Cocobod tenha se comprometido a honrar esses contratos, o cacau foi pré-vendido a preços muito inferiores aos atuais.

Para equilibrar as perdas, o conselho exige que os traders adquiram novos contratos aos preços à vista quase recordes. Essa combinação está gerando pressões financeiras adicionais, com perdas potenciais de US$ 2.500 por tonelada em contratos antigos, segundo cálculos da Reuters.

Perspectivas de Produção e Incertezas

Analistas apontam que o sucesso do novo modelo depende de uma colheita estimada em 900 mil toneladas – um número 250 mil toneladas superior à previsão do próprio Cocobod, que muitos consideram otimista. Caso a produção não alcance esses níveis, o setor pode enfrentar um cenário de escassez de grãos, levando a mais atrasos e riscos financeiros para traders e processadores locais.

“Os riscos financeiros são enormes em Gana no momento”, disse um trader do setor, sob anonimato.

Impacto Global e Alternativas

As mudanças em Gana ocorrem em um momento delicado para o mercado global de cacau. Safras ruins nos dois maiores produtores – Gana e Costa do Marfim – já elevaram os preços a níveis recordes em 2023, pressionando ainda mais o mercado e encarecendo produtos finais, como chocolates.

Com o futuro do setor em Gana cada vez mais incerto, os fabricantes de chocolate começam a buscar alternativas para reduzir sua dependência do cacau ganense. “No curto prazo, os compradores permanecem, pois querem mitigar perdas. Mas, a longo prazo, isso pode significar um afastamento gradual de Gana”, comentou um pequeno comerciante.

A reestruturação do modelo de marketing de cacau em Gana representa um marco na história do setor, mas traz consigo um risco significativo tanto para os players privados quanto para a economia ganense. Enquanto os traders e processadores tentam se adaptar à nova realidade, a capacidade do país de entregar as promessas da temporada determinará não apenas sua posição no mercado global, mas também a estabilidade de uma das indústrias mais importantes da região.

Fonte: mercadodocacau com informações reuters

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1 Comment

  1. Jouber silva da costa disse:

    JA EMPRESTARAM AOS GANESES ? É CONVETSA…
    TEM UM DIZER ERRADO , NAO FORAM.OS GANESES Q ABANDONARAM MAS OS BANCOS Q DEIXARAO DE EMPRESTARAM E AINDA NEM RECEBERAM…
    NOTICIA FALSA, quem sabe divulgarem a verdade ,?

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