Déficit estrutural projeta alta histórica nos preços do cacau e desafia a indústria do chocolate

O mercado global de cacau enfrenta um cenário alarmante de déficits plurianuais que promete elevar os preços a níveis históricos ajustados pela inflação. Após um início explosivo em 2024, com os preços atingindo US$ 12.000 por tonelada em abril — muito acima da média histórica de US$ 3.400 —, houve uma breve queda para US$ 7.000 em maio. No entanto, especialistas alertam que esse alívio será temporário, e novos aumentos expressivos estão no horizonte.

A principal causa desse cenário é um déficit estrutural no balanço de oferta e demanda, agravado por desafios climáticos e estruturais nas regiões produtoras. A temporada 2023-24 registrou um déficit recorde de 500.000 toneladas, o maior da história, marcando o terceiro ano consecutivo de déficit global. A produção global caiu 13%, puxada por quedas significativas na Costa do Marfim e em Gana, responsáveis por mais de 50% do cacau mundial.

Impactos climáticos e estruturais

A escassez foi exacerbada pelo fenômeno El Niño, que comprometeu os rendimentos das safras em 2023. Apesar de esperanças de uma recuperação com a chegada do padrão La Niña, as contagens de vagens em 2024 indicaram novos declínios. Projeções para 2024-25 apontam para um déficit adicional de 160.000 a 200.000 toneladas, desta vez partindo de estoques globais já esgotados.

Os estoques de cacau na Europa e nos EUA caíram para níveis historicamente baixos, de 400.000 toneladas em dezembro de 2023 para pouco mais de 100.000 toneladas. Além do clima, fatores estruturais agravam a crise: novas leis contra desmatamento têm limitado a expansão das plantações, enquanto a escassez global de fertilizantes — exacerbada pela guerra na Ucrânia — e um aumento de árvores envelhecidas nas regiões produtoras têm reduzido a produtividade.

Outro fator preocupante é a disseminação do vírus do broto inchado do cacau (CSSV), que afeta severamente as árvores e pode levar à morte em poucos anos. Estudos recentes revelam que 67% das fazendas de cacau na África Ocidental já estão infectadas, número muito superior aos 30% anteriormente estimados. Especialistas alertam que a produção na Costa do Marfim pode ser reduzida pela metade se a propagação do vírus não for controlada.

Alta demanda e resiliência de consumo

A demanda por cacau permanece forte e inelástica, mesmo com preços em alta. O chocolate é um produto de consumo diário para milhões, e o impacto dos custos do cacau no preço final é relativamente pequeno. Mesmo com uma duplicação nos preços, é improvável que o consumo caia drasticamente.

Essa resiliência alimenta previsões de que os preços do cacau podem alcançar novas máximas. A última vez que níveis similares de escassez foram registrados, em 1977, os preços ajustados pela inflação chegaram a US$ 28.000 por tonelada. Com o rali atual ainda em estágio inicial e a crise de oferta se aprofundando, o mercado está preparado para um ciclo de alta prolongado.

Desafios para a indústria do chocolate

A alta nos preços coloca os fabricantes de chocolate em posição delicada. Muitas empresas, apostando em uma queda sustentada nos preços, reduziram seus estoques de proteção de oito a nove meses para apenas cinco meses. Isso as deixa vulneráveis em um momento de oferta apertada e custos crescentes.

Além disso, a recuperação da produção não será imediata. Árvores de cacau levam cerca de quatro anos para atingir maturidade, e novas iniciativas de plantio só ofereceriam alívio no médio a longo prazo.

Diante desse cenário, a indústria global precisa não apenas investir em soluções tecnológicas e práticas agrícolas sustentáveis, mas também preparar-se para um período prolongado de custos elevados, com impactos que reverberarão por toda a cadeia de valor do chocolate.

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1 Comment

  1. Se a indústria pagasse um preço justo pelo cacau todos os anos,isso não teria ocorrido,pois os produtores teriam lucros suficientes para cuidarem de suas lavouras,agora é esperar e ver o que acontece, pois ninguém pode ter certeza de nada.

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