Apesar do cenário desafiador, com a alta do preço do cacau que bate 190% — e chega a 12 mil dólares a tonelada –, a marca brasileira de chocolates Dengo anuncia nesta quarta-feira, 15, o investimento de 100 milhões em uma nova fábrica localizada em Itaquaciara, em Itapecerica da Serra, São Paulo.
Com previsão de inauguração em abril de 2025, o complexo industrial e logístico passará de 3.000 m² para 13.596 m², permitindo a produção de até 24 toneladas de chocolate por dia. O aumento representará um salto na produção, ampliando em até 500% em relação aos níveis anteriores.
O investimento permitirá a Dengo expandir sua rede de produtores de cacau registrados. A companhia trabalha com cerca de 300 produtores registrados, e com a nova fábrica, a expectativa é aumentar esse número para aproximadamente 3.000, dez vezes mais do que o atual.
“A ampliação da produção vai permitir uma expansão estratégica e importante nos próximos anos. Temos com princípio manter como essência o impacto social a partir de boas práticas socioambientais e remunerações para os produtores acima do mercado. Ao mesmo tempo, queremos incentivar a maior concentração de cacau nos chocolates brasileiros e podemos fazer isto com o crescimento em vendas”, diz Estevan Sartoreli, co-CEO da Dengo.
Expansão dos negócios
O novo espaço funcionará também como um centro de distribuição. A expectativa é ter 240 novas lojas em todo o Brasil até 2030 – um número recorde para a companhia – que atualmente opera 38 lojas nas principais capitais brasileiras, além de duas lojas em Paris, França.
“Somos uma marca com grandes chances de crescimento em capitais e cidades de médio porte com concentração de renda, assim como em expansão internacional. Assim, a fábrica acelerará essas avenidas de desenvolvimento”.
Em abril do ano passado, a Dengo inaugurou em Paris a primeira loja internacional. Já em outubro a segunda unidade foi aberta na mesma cidade. “Neste um ano na capital francesa percebemos a alta aceitação do produto, assim como da experiência em loja e atendimento. Percebemos nos franceses também a adesão dos atributos ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) que abordamos”.
A inauguração marca também uma nova era de inovação e diversificação para a Dengo, que deve expandir a linha de produtos para oferecer aos consumidores uma variedade ainda maior do portfólio com o chocolate bean to bar.
Precificação do cacau
Com a mudança no preço do cacau, em todo o mercado uma elevação do preço dos produtos é um cenário possível. Mas, para Sartoreli, há dois caminhos. No primeiro e mais negativo, os produtos com maior concentração de cacau na composição do chocolate perdem uma fatia do mercado pela alta do preço. Já na segunda hipótese, mais favorável, a pressão dos custos nas marcas mais acessíveis faz com que o preço suba e o consumidor se disponha a pagar uma diferença menor de preço para acessar mais qualidade. “Ninguém sabe dizer ao certo como a categoria vai se acomodar nos próximos meses”.
A expansão da Dengo ocorre em um momento crucial, quando o apetite do Brasil por chocolate está em ascensão. No terceiro trimestre de 2023, o país consumiu 597.000 toneladas de chocolate, um aumento de 10,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. E, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, nos três primeiros trimestres de 2023, o país produziu 615.000 toneladas de chocolate. “Esse crescimento sustentado do mercado reflete a demanda crescente dos consumidores por produtos de alta qualidade e ética, algo que a Dengo está comprometida em oferecer”, diz Tulio Landin, co-CEO da Dengo.
Sustentabilidade na fábrica
Com um investimento de R$65 milhões só em equipamentos e acessórios para as linhas de produção até 2030, os investidores estão focados em adotar tecnologias ecoeficientes e práticas sustentáveis em todo o processo de fabricação, de acordo com Sartoreli.
“A fábrica está localizada no condomínio logístico GLP Régis, às margens da Rodovia Régis Bittencourt, empreendimento da GLP, líder global no desenvolvimento de galpões logísticos. A empresa está comprometida em diversas iniciativas de sustentabilidade por todas as etapas do negócio – desde a aquisição do terreno, concepção do projeto, construção, até as operações diárias – e trabalha constantemente, para inspirar todo o ecossistema logístico na conscientização a respeito do tema”.
Para reduzir o consumo, a fábrica terá luminárias de alta eficiência, que permitem uma redução do consumo anual de energia de cerca de 60% e para mensuração exata de energia foram instalados medidores por telemetria. A cobertura também é composta de materiais translúcidos que permitem a entrada e distribuição da luz solar no interior do empreendimento, diminuindo a necessidade de iluminação artificial durante o dia.
Para economia de água foram instaladas louças e metais sanitários mais eficientes que resultarão na redução de até 20% do consumo. Além disso, a fábrica contempla um sistema de captação de água pluvial para reuso, abastecendo os sanitários e vestiários, o que resulta na redução de 60% no consumo de água potável.
A localização estratégica da fábrica, contribuirá significativamente para sua eficiência operacional e consequentemente reduzirá impactos ambientais. Com acesso fácil às principais vias de transporte, podendo reduzir os custos logísticos e minimizar o impacto ambiental das atividades de transporte. A proximidade com a cidade de São Paulo, um dos principais mercados consumidores do país, também facilitará a distribuição dos produtos de forma rápida e eficiente.
Agricultura sustentável e remuneração justa
De acordo com Sartoreli, o crescimento da marca é baseado em quatro pilares: geração de renda para pequenos e médios produtores; inspiração de alimentação e consumo mais saudável; conservação da natureza a partir de modelos agroflorestais e promoção da diversidade e inclusão, uma vez que 53% da liderança é composta por mulheres e 16% por pessoas negras, com meta de 25% para o próximo ano.
No trabalho com os produtores, a intenção é não apenas remunerá-los melhor, quando comparado aos concorrentes, assim como promover a renda digna, ou seja que a renda seja suficiente para que uma pessoa possa pagar os seus custos com moradia, saúde, educação, alimentação e viver dignamente.
“Em 2023, aumentamos a renda dos produtores em 71% em relação ao ano anterior e impactamos 43% dos produtores com valor calculado para a renda digna, chegando a 207 produtores, versus 150 em 2022”, diz. Na prática, o preço pago é 107% acima da média do mercado. “Mesmo pagando o dobro e tendo mecanismos de transferência de riqueza, mais da metade dos produtores não chegam a ter a renda digna. Então, muita coisa precisa ser feita, como destravar mecanismos de crédito agrícola e ganho de produtividade”.
Para além do impacto social, os produtores parceiros plantaram em 128 hectares anteriormente degradados, promovendo a restauração a ambiental. “O Brasil tem o potencial de restaurar 160.000 hectares degradados a partir de sistemas de culturas diversas. O que estamos fazendo é apenas um passo para a regeneração dos solos no país”, diz Sartoreli.
Ainda na frente ambiental, a Dengo investe na diminuição de embalagens e resíduos. Em abril, a marca lançou uma trufa com embalagem zero plástico. O lançamento demandou dois anos de estudo e desenvolvimento. “Nascemos com o compromisso de gerar a menor quantidade de plástico possível. Hoje temos apenas 9% do insumo nas embalagens e queremos reduzir cada vez mais”. Outra possibilidade é o crescimento da venda a granel, que hoje corresponde a 29%. “O principal ambiente da venda granel é a loja física. Nosso desafio é pensar em como diminuir a embalagem apesar do crescimento de vendas nos canais digitais”.
Fonte: Exame