Com a entrada em vigor do Regulamento Antidesmatamento da União Europeia (EUDR) prevista para o final de 2025, produtores de cacau em países como Gana e Costa do Marfim enfrentam obstáculos significativos para atender aos requisitos da nova legislação. Um estudo recente conduzido por uma coalizão de organizações internacionais avaliou a eficácia de mapas locais versus dados globais de acesso aberto na detecção de desmatamento relacionado à produção de cacau.
O EUDR visa impedir que produtos como cacau, soja, carne bovina, óleo de palma, madeira e café cheguem ao mercado europeu se forem provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020. No entanto, a aplicação dessa regra tem se mostrado especialmente difícil para pequenos produtores, que muitas vezes carecem de dados precisos para comprovar a origem de seus produtos.
Segundo Louis Reymondin, cientista sênior da Alliance of Biodiversity International e do CIAT (Centro Internacional de Agricultura Tropical), os conjuntos de dados globais, como os da plataforma Global Forest Watch, oferecem padronização e acessibilidade, mas não conseguem diferenciar com precisão entre plantações de cacau e florestas tropicais. “Como resultado, eles não são recomendados para comprovação de conformidade com o EUDR em paisagens complexas”, afirmou Reymondin.
A pesquisa, que também contou com a participação da World Cocoa Foundation — organização que reúne gigantes da indústria como Nestlé e Mars —, comparou esses dados globais com mapas produzidos localmente. A conclusão foi que os mapas locais são mais eficazes em identificar os diferentes tipos de uso da terra, justamente por serem desenvolvidos com base em dados reais e conhecimento do território. No entanto, esses mapas carecem de padronização e podem ser mais difíceis de acessar e interpretar.
A avaliação de cada ponto de dado foi feita com imagens de satélite de altíssima resolução, revisadas por ao menos quatro analistas, com o objetivo de garantir a precisão e reduzir vieses.
“Nenhum dos conjuntos de dados globais que avaliamos incorpora de maneira adequada o conhecimento local ou a participação dos agricultores, o que é fundamental para a criação de mapas realmente precisos”, acrescentou Reymondin.
Diante dos desafios, os autores do relatório recomendam uma abordagem híbrida, que una a acurácia dos dados locais com os padrões metodológicos globais. “Esperamos que nosso estudo ajude as empresas a tomar decisões mais informadas e utilizar os dados e análises mais confiáveis disponíveis”, afirmou Michael Matarasso, diretor de impacto da World Cocoa Foundation.
Com a contagem regressiva para a aplicação do EUDR já em curso, o debate sobre como garantir uma transição justa, inclusiva e eficaz para os pequenos produtores de cacau ganha cada vez mais relevância.
Fonte: mercadodocacau
*com informações mongabay